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Terapia com anticorpos antienvelhecimento revitaliza o sistema imunológico em camundongos

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O envelhecimento é um importante fator de risco1 para a maioria das doenças crônicas. À medida que a população global continua a envelhecer, as intervenções que mitigam os efeitos do envelhecimento podem afetar profundamente o bem-estar, a economia e a sociedade em geral, prolongando a expectativa de vida2 humana.

Em um novo estudo, publicado na revista Nature, pesquisadores relatam que uma terapia baseada em anticorpos3 faz com que o sistema imunológico4 de camundongos velhos pareça mais jovem, permitindo que os animais evitem melhor as infecções5 e reduzam a inflamação6.

Se funcionar em humanos, a terapia poderá reverter o declínio da imunidade7 relacionado à idade, que deixa os idosos suscetíveis a doenças.

Estes declínios podem dever-se a alterações na aptidão e na função das células-tronco8, incluindo aquelas no sangue9, que podem evoluir para qualquer tipo de célula10 sanguínea – incluindo alguns componentes-chave do sistema imunológico4.

À medida que envelhecemos, uma proporção maior destas células-tronco8 torna-se predisposta a produzir algumas células11 imunológicas em detrimento de outras, diz Jason Ross, da Universidade de Stanford, na Califórnia. Este desequilíbrio prejudica a capacidade do sistema imunológico4 de combater infecções5. Também alimenta a inflamação6 crônica, que acelera o envelhecimento e aumenta o risco de doenças relacionadas com a idade, como doenças cardíacas, câncer12 e diabetes tipo 213.

Ross e seus colegas desenvolveram um tratamento que utiliza anticorpos3, ou proteínas14 que reconhecem e atacam certas células11, para atingir essas células-tronco8 tendenciosas. Eles relatam que a terapia esgota as células-tronco8 aberrantes e pode rejuvenescer o sistema imunológico4 em camundongos velhos, reequilibrando a produção de células sanguíneas15, o que diminui a inflamação6 associada à idade e fortalece as respostas imunológicas adquiridas.

Saiba mais sobre "O processo de envelhecimento", "Sistema imunológico4" e "Células-tronco8".

Eles testaram o tratamento em seis camundongos com idades entre 18 e 24 meses, o que equivale aproximadamente a uma idade de 56 a 70 anos em humanos.

Uma semana depois de receberem uma injeção16 de anticorpos3, os camundongos tinham cerca de 38% menos células-tronco8 aberrantes, em comparação com seis roedores da mesma idade que não receberam o tratamento. Eles também tinham quantidades significativamente maiores de dois tipos de glóbulos brancos cruciais para reconhecer e combater patógenos, bem como níveis mais baixos de inflamação6.

“Você pode pensar nisso como uma espécie de retrocesso no tempo”, diz Ross. “Estamos tornando a proporção dessas células11 imunes mais semelhante à de um camundongo adulto jovem.”

Para testar se estas alterações resultaram num sistema imunológico4 mais forte, os pesquisadores vacinaram 17 camundongos mais velhos contra um vírus17 de camundongo. Nove destes camundongos tinham recebido o tratamento com anticorpos3 oito semanas antes. Os pesquisadores então infectaram os roedores com o vírus17. Duas semanas depois, mediram o número de células11 infectadas nos animais e descobriram que quase metade dos camundongos tratados – quatro em nove – tinham eliminado completamente a infecção18, em comparação com apenas um dos oito camundongos não tratados.

Juntas, essas descobertas indicam que o tratamento com anticorpos3 rejuvenesce o sistema imunológico4 de camundongos idosos. Uma vez que os humanos, tal como os roedores, também observam o aumento de células-tronco8 sanguíneas aberrantes com a idade, um tratamento semelhante com anticorpos3 também poderia revigorar o nosso sistema imunológico4, diz Ross.

Essa possibilidade ainda está muito distante, diz Robert Signer, da Universidade da Califórnia, em San Diego. Por um lado, precisamos compreender melhor os potenciais efeitos colaterais19 do tratamento. Num artigo que acompanha o estudo, Signer e o seu colega Yasar Arfat Kasu, também da Universidade da Califórnia, em San Diego, sugerem que o esgotamento das células-tronco8, mesmo as aberrantes, pode aumentar o risco de câncer12. Por outro lado, “um sistema imunológico4 melhor será melhor em identificar cânceres. Então ainda não sabemos exatamente o que vai acontecer”, diz Signer.

Ainda assim, estas descobertas são um avanço promissor na nossa compreensão do declínio imunológico relacionado com a idade e como mitigá-lo, diz Ross.

O envelhecimento é o fator de risco1 número um para uma ampla gama de doenças. “Ao rejuvenescer ou melhorar a função imunológica em pessoas idosas, isso poderia realmente ajudar no combate a infecções”, diz Signer. “Você também pode ter impacto em diferentes tipos de doenças inflamatórias crônicas. Isso é o que é tão emocionante aqui.”

No artigo publicado, Ross e equipe descrevem como o esgotamento das células-tronco8 hematopoiéticas com tendência mieloide rejuvenesce a imunidade7 envelhecida.

Eles relatam que o envelhecimento do sistema imunológico4 é caracterizado pela diminuição da linfopoiese e da imunidade7 adaptativa, e aumento da inflamação6 e de patologias mieloides. Pensa-se que as alterações relacionadas com a idade nas populações de células-tronco8 hematopoiéticas (CTHs) autorrenováveis estão subjacentes a estes fenômenos.

Durante a juventude, as CTHs com produção equilibrada de células11 linfoides20 e mieloides (CTHs-equil) predominam sobre as CTHs com produção tendenciosa a mieloide (CTHs-mi), promovendo assim a linfopoiese necessária para iniciar respostas imunes adaptativas, ao mesmo tempo que limita a produção de células11 mieloides, que podem ser pró-inflamatórias.

O envelhecimento está associado ao aumento da proporção de CTHs-mi, resultando em diminuição da linfopoiese e aumento da mielopoiese. A transferência de CTHs-equil resulta em células11 linfoides20 e mieloides abundantes, um fenótipo21 estável que é retido após transferência secundária; CTHs-mi também mantêm seus padrões de produção após transferência secundária.

A origem e a potencial interconversão destes dois subconjuntos ainda não são claras. Se eles forem subconjuntos separados no pós-natal, pode ser possível reverter o fenótipo21 do envelhecimento eliminando CTHs-mi em camundongos idosos.

Neste estudo, demonstrou-se que a depleção22 de CTHs-mi mediada por anticorpos3 em camundongos idosos restaura características de um sistema imunológico4 mais jovem, incluindo o aumento de progenitores de linfócitos comuns, células11 T virgens e células11 B, enquanto diminui marcadores de declínio imunológico relacionados à idade.

A depleção22 de CTHs-mi em camundongos idosos melhora as respostas imunes adaptativas primárias e secundárias à infecção18 viral.

Estas descobertas podem ter relevância para a compreensão e intervenção de doenças exacerbadas ou causadas pela dominância do sistema hematopoiético23 pelas CTHs-mi.

Leia sobre "O que é inflamação6", "Antígenos24 e anticorpos3 - o que são" e "Composição e funções do sangue9".

 

Fontes:
Nature, publicação em 27 de março de 2024.
New Scientist, notícia publicada em 27 de março de 2024.
Nature, notícia publicada em 27 de março de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Terapia com anticorpos antienvelhecimento revitaliza o sistema imunológico em camundongos. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1468522/terapia-com-anticorpos-antienvelhecimento-revitaliza-o-sistema-imunologico-em-camundongos.htm>. Acesso em: 1 mai. 2024.

Complementos

1 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
2 Expectativa de vida: A expectativa de vida ao nascer é o número de anos que se calcula que um recém-nascido pode viver caso as taxas de mortalidade registradas da população residente, no ano de seu nascimento, permaneçam as mesmas ao longo de sua vida.
3 Anticorpos: Proteínas produzidas pelo organismo para se proteger de substâncias estranhas como bactérias ou vírus. As pessoas que têm diabetes tipo 1 produzem anticorpos que destroem as células beta produtoras de insulina do próprio organismo.
4 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
5 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
6 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
7 Imunidade: Capacidade que um indivíduo tem de defender-se perante uma agressão bacteriana, viral ou perante qualquer tecido anormal (tumores, enxertos, etc.).
8 Células-tronco: São células primárias encontradas em todos os organismos multicelulares que retêm a habilidade de se renovar por meio da divisão celular mitótica e podem se diferenciar em uma vasta gama de tipos de células especializadas.
9 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
10 Célula: Unidade funcional básica de todo tecido, capaz de se duplicar (porém algumas células muito especializadas, como os neurônios, não conseguem se duplicar), trocar substâncias com o meio externo à célula, etc. Possui subestruturas (organelas) distintas como núcleo, parede celular, membrana celular, mitocôndrias, etc. que são as responsáveis pela sobrevivência da mesma.
11 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
12 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
13 Diabetes tipo 2: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada tanto por graus variáveis de resistência à insulina quanto por deficiência relativa na secreção de insulina. O tipo 2 se desenvolve predominantemente em pessoas na fase adulta, mas pode aparecer em jovens.
14 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
15 Células Sanguíneas: Células encontradas no líquido corpóreo circulando por toda parte do SISTEMA CARDIOVASCULAR.
16 Injeção: Infiltração de medicação ou nutrientes líquidos no corpo através de uma agulha e seringa.
17 Vírus: Pequeno microorganismo capaz de infectar uma célula de um organismo superior e replicar-se utilizando os elementos celulares do hospedeiro. São capazes de causar múltiplas doenças, desde um resfriado comum até a AIDS.
18 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
19 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
20 Linfoides: 1. Relativos a ou que constituem o tecido característico dos nodos linfáticos. 2. Relativos ou semelhantes à linfa.
21 Fenótipo: Características apresentadas por um indivíduo sejam elas morfológicas, fisiológicas ou comportamentais. Também fazem parte do fenótipo as características microscópicas e de natureza bioquímica, que necessitam de testes especiais para a sua identificação, como, por exemplo, o tipo sanguíneo do indivíduo.
22 Depleção: 1. Em patologia, significa perda de elementos fundamentais do organismo, especialmente água, sangue e eletrólitos (sobretudo sódio e potássio). 2. Em medicina, é o ato ou processo de extração de um fluido (por exxemplo, sangue) 3. Estado ou condição de esgotamento provocado por excessiva perda de sangue. 4. Na eletrônica, em um material semicondutor, medição da densidade de portadores de carga abaixo do seu nível e do nível de dopagem em uma temperatura específica.
23 Sistema Hematopoiético: Sistema do corpo composto primariamente pela medulla óssea, baço, lifonodos (gânglios linfáticos) e tonsilas, envolvido na produção do sangue.
24 Antígenos: 1. Partículas ou moléculas capazes de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substâncias que, introduzidas no organismo, provocam a formação de anticorpo.
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