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Uma dieta rica em aminoácidos reduziu a dor nos nervos relacionada ao diabetes em camundongos

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Suplementos dietéticos do aminoácido serina podem aliviar a dor nos nervos relacionada ao diabetes1, de acordo com uma pesquisa em camundongos publicada na revista Nature.

Quase metade das pessoas com diabetes1 tem neuropatia2 – uma condição na qual danos nos nervos causam fraqueza, dor e dormência3, geralmente nas mãos4 e nos pés.

Christian Metallo, do Salk Institute for Biological Studies, em La Jolla, Califórnia, e seus colegas mediram os níveis de moléculas construtoras de proteínas5 chamadas aminoácidos em camundongos obesos geneticamente modificados para ter diabetes tipo 16 ou tipo 2.

Eles descobriram que, em comparação com camundongos sem nenhuma dessas condições, aqueles com diabetes1 tinham, em média, níveis mais baixos dos aminoácidos serina e glicina em seus tecidos e plasma sanguíneo7. Análises posteriores sugeriram que isso ocorre porque a insulina8 é necessária para prevenir a degradação desses aminoácidos.

Leia sobre "Neuropatia2 diabética", "Neuropatia periférica9" e "Complicações do diabetes10".

A equipe então alimentou 10 camundongos não diabéticos com uma dieta sem serina ou glicina por um ano e 10 camundongos não diabéticos com uma dieta padrão. Em média, os camundongos do primeiro grupo foram mais lentos para retrair uma pata de um laser aquecido do que os do outro grupo, indicando maior dano nervoso. Quando vistas ao microscópio, suas patas também tinham densidade reduzida de fibras nervosas, sugerindo que as deficiências de serina e glicina contribuem para a neuropatia2.

Um grupo separado de 17 camundongos com diabetes tipo 211 comeu uma dieta enriquecida com serina ou uma dieta padrão por oito semanas, após o que os animais do grupo da serina retraíram a pata do laser cerca de 1 segundo mais rápido, em média, do que os do grupo de controle.

Essas descobertas sugerem que o aumento dos níveis de serina por meio de suplementos alimentares ou medicamentos direcionados pode melhorar a condição, diz Metallo. No entanto, as pessoas com neuropatia2 diabética não devem se apressar em tomar suplementos de serina, pois são necessárias mais pesquisas para estabelecer uma dosagem segura e possíveis efeitos colaterais12, diz ele. Os pesquisadores também analisaram a suplementação13 de glicina em um estudo separado, mas ainda não publicaram os resultados.

As descobertas também sugerem que talvez precisemos repensar como vemos certos nutrientes. “Serina e glicina são aminoácidos não essenciais, então os consumimos em nossa dieta, mas também podemos produzi-los dentro do corpo”, diz Metallo, o que significa que os níveis raramente são monitorados de perto. “Mas isso destaca que o metabolismo14 de aminoácidos não essenciais também pode causar defeitos”.

No artigo, os pesquisadores relatam como a serina regulada pela insulina8 e o metabolismo14 lipídico conduzem à neuropatia periférica9.

Eles contextualizam que o diabetes1 representa um espectro de doenças em que a disfunção metabólica danifica múltiplos sistemas de órgãos, incluindo fígado15, rins16 e nervos periféricos.

Embora o início e a progressão dessas comorbidades17 estejam relacionados à resistência à insulina18, hiperglicemia19 e dislipidemia, o metabolismo14 aberrante de aminoácidos não essenciais (AANE) também contribui para a patogênese20 do diabetes1.

A serina e a glicina são AANEs intimamente relacionados, cujos níveis são consistentemente reduzidos em pacientes com síndrome metabólica21, mas os fatores mecanísticos e as consequências a jusante22 desse metabótipo23 permanecem obscuros.

Baixos níveis de serina e glicina sistêmicas também estão emergindo como uma marca registrada de distúrbios maculares e dos nervos periféricos, correlacionando-se com acuidade visual24 prejudicada e neuropatia periférica9.

Neste estudo, demonstrou-se que a homeostase aberrante de serina leva a deficiências de serina e glicina em camundongos diabéticos, o que pode ser diagnosticado com um teste de tolerância à serina que quantifica a absorção e eliminação de serina.

A imitação dessas alterações metabólicas em camundongos jovens pela restrição dietética de serina ou glicina, juntamente com alta ingestão de gordura25, acelera acentuadamente o início da neuropatia2 por fibras pequenas, reduzindo a adiposidade.

A normalização da serina pela suplementação13 dietética e a mitigação da dislipidemia com miriocina aliviam a neuropatia2 em camundongos diabéticos, ligando a neuropatia periférica9 associada à serina ao metabolismo14 dos esfingolipídios.

Esses achados identificam a deficiência sistêmica de serina e a dislipidemia como novos fatores de risco para neuropatia periférica9 que podem ser explorados terapeuticamente.

Veja também sobre "O papel dos alimentos ricos em proteínas5", "A importância das gorduras para o organismo" e "Suplementos alimentares".

 

Fontes:
Nature, publicação em 25 de janeiro de 2023.
New Scientist, notícia publicada em 25 de janeiro de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Uma dieta rica em aminoácidos reduziu a dor nos nervos relacionada ao diabetes em camundongos. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1432990/uma-dieta-rica-em-aminoacidos-reduziu-a-dor-nos-nervos-relacionada-ao-diabetes-em-camundongos.htm>. Acesso em: 19 nov. 2024.

Complementos

1 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
2 Neuropatia: Doença do sistema nervoso. As três principais formas de neuropatia em pessoas diabéticas são a neuropatia periférica, neuropatia autonômica e mononeuropatia. A forma mais comum é a neuropatia periférica, que afeta principalmente pernas e pés.
3 Dormência: 1. Estado ou característica de quem ou do que dorme. 2. No sentido figurado, inércia com relação a se fazer alguma coisa, a se tomar uma atitude, etc., resultando numa abulia ou falta de ação; entorpecimento, estagnação, marasmo. 3. Situação de total repouso; quietação. 4. No sentido figurado, insensibilidade espiritual de um ser diante do mundo. Sensação desagradável caracterizada por perda da sensibilidade e sensação de formigamento, e que geralmente ocorre nas extremidades dos membros. 5. Em biologia, é um período longo de inatividade, com metabolismo reduzido ou suspenso, geralmente associado a condições ambientais desfavoráveis; estivação.
4 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
5 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
6 Diabetes tipo 1: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada por deficiência na produção de insulina. Ocorre quando o próprio sistema imune do organismo produz anticorpos contra as células-beta produtoras de insulina, destruindo-as. O diabetes tipo 1 se desenvolve principalmente em crianças e jovens, mas pode ocorrer em adultos. Há tendência em apresentar cetoacidose diabética.
7 Plasma Sanguíneo: Parte que resta do SANGUE, depois que as CÉLULAS SANGÜÍNEAS são removidas por CENTRIFUGAÇÃO (sem COAGULAÇÃO SANGÜÍNEA prévia).
8 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
9 Neuropatia periférica: Dano causado aos nervos que afetam os pés, as pernas e as mãos. A neuropatia causa dor, falta de sensibilidade ou formigamentos no local.
10 Complicações do diabetes: São os efeitos prejudiciais do diabetes no organismo, tais como: danos aos olhos, coração, vasos sangüíneos, sistema nervoso, dentes e gengivas, pés, pele e rins. Os estudos mostram que aqueles que mantêm os níveis de glicose do sangue, a pressão arterial e o colesterol próximos aos níveis normais podem ajudar a impedir ou postergar estes problemas.
11 Diabetes tipo 2: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada tanto por graus variáveis de resistência à insulina quanto por deficiência relativa na secreção de insulina. O tipo 2 se desenvolve predominantemente em pessoas na fase adulta, mas pode aparecer em jovens.
12 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
13 Suplementação: Que serve de suplemento para suprir o que falta, que completa ou amplia.
14 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
15 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
16 Rins: Órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
17 Comorbidades: Coexistência de transtornos ou doenças.
18 Resistência à insulina: Inabilidade do corpo para responder e usar a insulina produzida. A resistência à insulina pode estar relacionada à obesidade, hipertensão e altos níveis de colesterol no sangue.
19 Hiperglicemia: Excesso de glicose no sangue. Hiperglicemia de jejum é o nível de glicose acima dos níveis considerados normais após jejum de 8 horas. Hiperglicemia pós-prandial acima de níveis considerados normais após 1 ou 2 horas após alimentação.
20 Patogênese: Modo de origem ou de evolução de qualquer processo mórbido; nosogenia, patogênese, patogenesia.
21 Síndrome metabólica: Tendência de várias doenças ocorrerem ao mesmo tempo. Incluindo obesidade, resistência insulínica, diabetes ou pré-diabetes, hipertensão e hiperlipidemia.
22 Jusante: 1. Vazante da maré; baixa-mar. 2. O sentido da correnteza em um curso de água (da nascente para a foz). Em medicina, é usado para se referir ao sentido do fluxo sanguíneo normal.
23 Metabótipo: Metabótipos são grupos de indivíduos definidos com base em suas semelhanças no perfil metabólico, que por sua vez resulta de uma interação entre estilo de vida, microbioma intestinal, genes e fatores ambientais. Os metabótipos foram associados a doenças relacionadas à dieta e a respostas diferenciais a intervenções, que apoiam seu uso como meio de fornecer aconselhamento dietético em nível de grupo. Ou seja, determinados perfis metabólicos aceitam determinado aconselhamento dietético direcionado.
24 Acuidade visual: Grau de aptidão do olho para discriminar os detalhes espaciais, ou seja, a capacidade de perceber a forma e o contorno dos objetos.
25 Gordura: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Os alimentos que fornecem gordura são: manteiga, margarina, óleos, nozes, carnes vermelhas, peixes, frango e alguns derivados do leite. O excesso de calorias é estocado no organismo na forma de gordura, fornecendo uma reserva de energia ao organismo.
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