Risco de demência é maior após internação hospitalar com infecção
A hospitalização com infecção1 aumentou o risco de um diagnóstico2 subsequente de demência3, mostraram dados longitudinais de um estudo publicado no JAMA Network Open.
Entre quase 16.000 pessoas acompanhadas por 3 décadas, aquelas hospitalizadas com infecção1 tiveram um risco 70% maior de demência3 subsequente, relataram Ryan Demmer, PhD, da Universidade of Minnesota, Estados Unidos, e coautores.
Por 1.000 pessoas-ano, as taxas de demência3 foram de 23,6 eventos para pessoas que foram hospitalizadas com infecção1 mais cedo na vida versus 5,7 para pessoas que nunca tiveram infecções4 intra-hospitalares.
“As infecções4 são comuns e muitas vezes evitáveis”, disse Demmer. “Nossos resultados sugerem que medidas para reduzir o risco de infecção1 também podem reduzir o risco de demência3 a longo prazo. O conhecimento de infecções4 históricas também pode ajudar a priorizar pacientes para triagem de demência3.”
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As descobertas apoiam pesquisas recentes que mostram que infecções4 mais cedo na vida e na meia-idade tratadas em hospitais podem aumentar o risco de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer6 e Parkinson.
“Entre muitos mecanismos teorizados que contribuem para as causas da demência3, a neuroinflamação foi reconhecida como um fator provável”, escreveram Demmer e os coautores.
“No caso da doença de Alzheimer6, a forma mais estudada de demência3, a hipótese é de que a neuroinflamação afete o início e a progressão da doença”, observaram. “Vários mecanismos patogênicos no sistema nervoso central7, incluindo astrogliose8 e microgliose, foram hipotetizados como subjacentes às causas e progressão da doença de Alzheimer”.
Além disso, dados longitudinais do U.K. Biobank sugeriram que a infecção1 por SARS-CoV-2 pode estar associada a anormalidades cerebrais e declínio cognitivo9, disseram Demmer e seus colegas.
No artigo, os pesquisadores contextualizam que os fatores associados ao risco de demência3 ainda precisam ser totalmente compreendidos. Supõe-se que as infecções4 sistêmicas estejam incluídas em tais fatores e possam ser alvos de prevenção e triagem.
O objetivo do estudo, portanto, foi investigar a associação entre hospitalização com infecção1 e demência3 incidente10.
Foram usados dados do estudo baseado na comunidade Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC), um estudo de coorte11 prospectivo12. A inscrição ocorreu em 4 centros de pesquisa nos EUA, iniciados entre 1987 a 1989. O presente estudo inclui dados até 2019, para 32 anos de acompanhamento. A análise dos dados foi realizada no período de abril de 2021 a junho de 2022.
As hospitalizações com infecções4 foram identificadas por meio da revisão de registros médicos para códigos selecionados da Classificação Internacional de Doenças, Nona Revisão (CID-9) e da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde13, Décima Revisão (CID-10), desde a linha de base até a censura administrativa ou diagnóstico2 de demência3. Os participantes foram considerados não expostos até a primeira internação com infecção1 e expostos a partir daí. Subtipos selecionados de infecção1 também foram considerados.
Dados de demência3 incidente10 e de tempo até o evento foram identificados por meio da vigilância dos códigos CID-9 e CID-10 de hospitalização e certidão de óbito14, de avaliações pessoais e de entrevistas por telefone. Uma análise de sensibilidade foi realizada excluindo casos ocorridos dentro de 3 anos ou além de 20 anos a partir da exposição. Os dados foram coletados antes da formulação da hipótese do estudo.
Dos 15.792 participantes do estudo ARIC, uma coorte15 analítica de 15.688 participantes sem demência3 no início do estudo e de raça negra ou branca foi selecionada (8.658 mulheres [55,2%]; 4.210 pessoas negras [26,8%]; média [DP] de idade inicial, 54,7 [5,8] anos).
A hospitalização com infecção1 ocorreu entre 5.999 participantes (38,2%). A demência3 foi verificada em 2.975 participantes (19,0%), em uma mediana (IQR) de 25,1 (22,2-29,1) anos após o início do estudo.
As taxas de demência3 foram de 23,6 eventos por 1.000 pessoas-ano (IC 95%, 22,3-25,0 eventos por 1.000 pessoas-ano) entre os expostos e 5,7 eventos por 1.000 pessoas-ano (IC 95%, 5,4-6,0 eventos por 1.000 pessoas-ano) entre os não expostos.
Os pacientes hospitalizados com infecção1 foram 2,02 (IC 95%, 1,88-2,18; P <0,001) e 1,70 (IC 95%, 1,55-1,86; P <0,001) vezes mais propensos a apresentar demência3 incidente10 de acordo com modelos de riscos proporcionais de Cox não ajustado e totalmente ajustado, respectivamente, em comparação com indivíduos não expostos.
Ao excluir indivíduos que desenvolveram demência3 em menos de 3 anos ou mais de 20 anos desde o início ou o evento de infecção1, a taxa de risco ajustada foi de 5,77 (IC 95%, 4,92-6,76; P <0,001).
As taxas de demência3 foram significativamente maiores entre os hospitalizados com infecções4 respiratórias, do trato urinário16, da pele17, do sangue18 e do sistema circulatório19 ou adquiridas no hospital. Interações multiplicativas e aditivas foram observadas por idade e genótipo20 APOE-ε.
O estudo concluiu que taxas mais altas de demência3 foram observadas entre os participantes que sofreram hospitalização com infecção1. Esses achados suportam a hipótese de que infecções4 são fatores associados a maior risco de demências.
Veja também sobre "Doenças degenerativas21" e "Mal de Alzheimer6".
Fontes:
JAMA Network Open, publicação em 09 de janeiro de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 09 de janeiro de 2023.