Cientistas acabaram de descobrir uma nova parte do sistema de eliminação de resíduos do cérebro
Foi descoberta uma nova estrutura anatômica que faz parte do sistema de eliminação de resíduos do cérebro1.
O tecido2 é uma membrana fina envolvendo o cérebro1 que mantém o líquido cefalorraquidiano3 recém-produzido – que circula dentro do cérebro1 – separado do fluido “sujo” que contém os resíduos das células4.
A fina camada de tecido2 foi chamada de membrana subaracnoidea tipo linfática, ou SLYM (do inglês subarachnoid lymphatic-like membrane). As descobertas foram publicadas na revista Science.
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Já se sabia que existem três membranas entre o crânio5 e o cérebro1. A nova estrutura é uma quarta membrana, situada no topo da membrana mais interna. Ela é extremamente fina, com uma largura de apenas algumas células4 ou, em alguns lugares, até mesmo uma célula6.
A SLYM não havia sido notada antes, em parte porque a membrana se desintegra quando o cérebro1 é removido do crânio5 em autópsias, diz Maiken Nedergaard, do Centro Médico da Universidade de Rochester, em Nova York, que ajudou a descobrir a estrutura. Também é muito fina para ser vista em pessoas vivas por meio de máquinas de escaneamento cerebral.
O tecido2 foi descoberto pela primeira vez em camundongos, depois que a equipe de Nedergaard usou uma técnica de rotulagem genética que fazia as células4 da SLYM brilharem em verde fluorescente. O tecido2 também foi observado cobrindo cérebros humanos ao dissolver o crânio5 em corpos doados para pesquisa.
Em 2012, Nedergaard também ajudou a descobrir uma rede de tubos finos que coletam o fluido residual das células4 cerebrais, conhecido como sistema glinfático. Esses tubos podem drenar para o líquido cefalorraquidiano3 de saída, diz Nedergaard.
Os produtos residuais das células4 cerebrais incluem proteínas7 chamadas beta-amiloide e tau, que se acredita estarem envolvidas na doença de Alzheimer8 quando se acumulam em quantidades excessivas.
Tanto em camundongos quanto em pessoas, a SLYM também contém células4 imunes, por isso pode permitir detectar sinais9 de infecção10 presentes no líquido cefalorraquidiano3, diz Nedergaard. “Ela é carregada com células4 imunológicas.”
“Esta é uma descoberta fascinante que terá implicações significativas para nossa compreensão do sistema glinfático”, diz Marios Politis da Universidade de Exeter, Reino Unido.
No artigo, os pesquisadores relatam que o sistema nervoso central11 é revestido por meninges12, classicamente conhecidas como dura-máter13, aracnoide14 e pia-máter. Mostrou-se a existência de uma quarta camada meníngea15 que compartimenta o espaço subaracnoideo no cérebro1 de camundongos e humanos, denominada membrana subaracnoide tipo linfática (SLYM).
A SLYM é morfo e imunofenotipicamente semelhante ao revestimento da membrana mesotelial de órgãos periféricos e cavidades do corpo, e envolve vasos sanguíneos16 e abriga células4 imunes.
Funcionalmente, a estreita aposição da SLYM com o revestimento endotelial do seio17 venoso meníngeo permite a troca direta de pequenos solutos entre o líquido cefalorraquidiano3 e o sangue18 venoso, representando assim o equivalente em camundongo das granulações aracnoides.
A caracterização funcional da SLYM fornece informações fundamentais sobre as barreiras imunológicas cerebrais e o transporte de fluidos.
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Fontes:
Science, Vol. 379, Nº 6627, em 05 de janeiro de 2023.
New Scientist, notícia publicada em 05 de janeiro de 2023.