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Iluminação externa à noite foi associada à prevalência de diabetes

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A iluminação externa artificial noturna foi associada ao controle deficiente da glicose1 e ao aumento do risco de diabetes2, mostrou um estudo transversal na China, com resultados publicados na revista Diabetologia.

Em uma amostra nacionalmente representativa de 98.658 adultos, a prevalência3 de diabetes2 foi 28% maior entre as pessoas expostas aos maiores níveis de luz artificial externa em comparação com aquelas que tiveram a menor exposição, relataram Yu Xu, PhD, da Escola de Medicina da Universidade Jiaotong de Xangai e colegas.

Cada aumento de quintil4 de exposição à luz artificial foi associado a um aumento de 7% na prevalência3 de diabetes2. A exposição à luz artificial também foi associada a níveis mais altos de HbA1c5 e glicose1 em jejum, bem como reduções na função das células6 beta, disse o grupo de Xu.

“O estudo atual é o maior estudo epidemiológico para testar a hipótese de que o aumento da exposição à luz noturna externa está associada a uma maior possibilidade de desenvolver hiperglicemia7, resistência à insulina8 e diabetes”, escreveram os pesquisadores.

“Nossas descobertas contribuem para a crescente literatura sugerindo que a luz noturna é prejudicial à saúde9 e demonstram que a luz noturna pode ser um novo fator de risco10 potencial para diabetes”, acrescentaram Xu e os co-autores.

Saiba mais sobre "Diabetes Mellitus11", "Comportamento da glicose1 no sangue12" e "Prevenção do Diabetes2".

As descobertas também podem ter implicações globais, sugeriram: mais de 80% da população mundial e 99% dos americanos e europeus vivem sob céus poluídos por luz, de acordo com um estudo recente.

A exposição à luz artificial à noite pode aumentar o risco de doenças metabólicas ao interromper os ritmos circadianos, observaram os pesquisadores. Essa interrupção pode levar a mudanças nos fatores fisiológicos e metabólicos, incluindo níveis de atividade, temperatura corporal, ingestão de alimentos, perfil lipídico13, sensibilidade à insulina14, metabolismo15 da glicose1 e níveis plasmáticos de melatonina, glicocorticoides e ácidos graxos, disseram eles.

No artigo publicado, os pesquisadores avaliaram a luz externa à noite em relação à homeostase da glicose1 e diabetes2 em adultos chineses.

Eles contextualizam que a exposição à luz noturna artificial interrompe o sistema de cronometragem circadiana e pode ser um fator de risco10 para diabetes2. O objetivo, portanto, foi estimar as associações da exposição crônica à luz noturna ao ar livre com marcadores de homeostase de glicose1 e prevalência3 de diabetes2 com base em uma pesquisa nacional e transversal da população em geral na China.

O Estudo de Vigilância de Doenças Não Transmissíveis da China foi um estudo nacionalmente representativo de 98.658 participantes com idade ≥18 anos que viviam em sua residência atual por pelo menos 6 meses, recrutados em 162 locais de estudo na China continental em 2010.

O diabetes2 foi definido de acordo com os critérios da American Diabetes2 Association. A exposição à luz noturna externa em 2010 foi estimada a partir de dados de satélite e os participantes de cada local de estudo receberam a mesma radiância média de luz noturna externa no local de estudo.

A regressão linear incorporando uma função de spline cúbico restrita foi usada para explorar as relações entre a exposição à luz noturna e os marcadores de homeostase da glicose1. A regressão de Cox com uma constante para a variável de tempo atribuída a todos os indivíduos e com estimativas de variância robustas foi usada para avaliar as associações entre os níveis de exposição à luz noturna ao ar livre e a presença de diabetes2, calculando as razões de prevalência3 (RPs) com ajuste para idade, sexo, educação, tabagismo, alcoolismo, atividade física, histórico familiar de diabetes2, renda familiar, áreas urbanas/rurais, uso de medicamentos anti-hipertensivos, uso de medicamentos hipolipemiantes e IMC16.

A média de idade da população estudada foi de 42,7 anos e 53.515 (proporção ponderada de 49,2%) participantes eram mulheres. Os níveis de exposição à luz noturna ao ar livre foram positivamente associados com HbA1c5, concentrações de glicose1 em jejum e de 2h e HOMA-IR17 (medida de resistência à insulina8), e negativamente associados com HOMA-B (medida de função das células6 beta).

A prevalência3 de diabetes2 foi significativamente associada à exposição à luz noturna por quintil4 (RP 1,07 [IC 95% 1,02, 1,12]). O quintil4 mais alto de exposição à luz noturna (mediana 69,1 nW cm−2 sr−1) foi significativamente associado a um aumento da prevalência3 de diabetes2 (RP 1,28 [IC 95% 1,03, 1,60]) em comparação com o quintil4 mais baixo de exposição (mediana 1,0 nW cm−2 sr−1).

O estudo concluiu que houve associações significativas entre a exposição crônica à maior intensidade de luz noturna ao ar livre com risco aumentado de homeostase de glicose1 prejudicada e prevalência3 de diabetes2.

Essas descobertas contribuem para a crescente evidência de que a luz noturna é prejudicial à saúde9 e aponta a luz noturna externa como um novo fator de risco10 potencial para diabetes2.

Leia sobre "O que afeta o comportamento da glicemia18" e "Ritmo circadiano19 - como funciona e qual a sua importância".

 

Fontes:
Diabetologia, publicação em 14 de novembro de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 14 de novembro de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Iluminação externa à noite foi associada à prevalência de diabetes. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1430225/iluminacao-externa-a-noite-foi-associada-a-prevalencia-de-diabetes.htm>. Acesso em: 19 mar. 2024.

Complementos

1 Glicose: Uma das formas mais simples de açúcar.
2 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
3 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
4 Quintil: 1. Em estatística, diz-se de ou qualquer separatriz que divide a área de uma distribuição de frequência em cinco domínios de áreas iguais. O termo quintil também é utilizado, por vezes, para designar uma das quintas partes da amostra ordenada. 2. Em astronomia, é o aspecto de dois planetas distantes 72° entre si (distância angular correspondente a um quinto do Zodíaco). 3. Em matemática, é o mesmo que quíntico. A palavra quintil deriva do latim quintus, que significa quinto.
5 HbA1C: Hemoglobina glicada, hemoglobina glicosilada, glico-hemoglobina ou HbA1C e, mais recentemente, apenas como A1C é uma ferramenta de diagnóstico na avaliação do controle glicêmico em pacientes diabéticos. Atualmente, a manutenção do nível de A1C abaixo de 7% é considerada um dos principais objetivos do controle glicêmico de pacientes diabéticos. Algumas sociedades médicas adotam metas terapêuticas mais rígidas de 6,5% para os valores de A1C.
6 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
7 Hiperglicemia: Excesso de glicose no sangue. Hiperglicemia de jejum é o nível de glicose acima dos níveis considerados normais após jejum de 8 horas. Hiperglicemia pós-prandial acima de níveis considerados normais após 1 ou 2 horas após alimentação.
8 Resistência à insulina: Inabilidade do corpo para responder e usar a insulina produzida. A resistência à insulina pode estar relacionada à obesidade, hipertensão e altos níveis de colesterol no sangue.
9 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
10 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
11 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
12 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
13 Perfil lipídico: Exame laboratorial que mede colesterol total, triglicérides, HDL. O LDL é calculado por estes resultados. O perfil lipídico é uma das medidas de risco para as doenças cardiovasculares.
14 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
15 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
16 IMC: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
17 HOMA-IR: O cálculo do índice HOMA-IR, do inglês, Homeostatic Model Assessment , é feito com base nas dosagens de insulina e glicemia de jejum e ajuda a determinar o grau de resistência à insulina.
18 Glicemia: Valor de concentração da glicose do sangue. Seus valores normais oscilam entre 70 e 110 miligramas por decilitro de sangue (mg/dl).
19 Ritmo circadiano: Também conhecido como ciclo circadiano, o ritmo circadiano representa o período de um dia (24 horas) no qual se completam as atividades do ciclo biológico dos seres vivos. Uma das funções deste sistema é o ajuste do relógio biológico, controlando o sono e o apetite. Através de um marca-passo interno que se encontra no cérebro, o ritmo circadiano regula tanto os ritmos materiais quanto os psicológicos, o que pode influenciar em atividade como: digestão em vigília, renovação de células e controle de temperatura corporal.
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