"Superidosos" com memórias afiadas em seus 80 anos têm neurônios até 10% maiores
‘Superidosos’ – pessoas com 80 anos ou mais com memórias excepcionalmente boas – podem ter neurônios1 maiores do que o esperado em uma região do cérebro2 que é crítica para a memória.
Com a idade, a maioria das pessoas experimenta um declínio gradual em sua memória, mas algumas mantêm uma notável capacidade de recordar eventos passados em seus oitenta anos ou mais, no mesmo nível de pessoas 20 a 30 anos mais jovens.
Juntamente a um declínio na memória, nossos cérebros encolhem naturalmente com a idade, com estudos anteriores sugerindo que isso ocorre menos com superidosos.
Agora, os pesquisadores mostraram que os superidosos podem ter neurônios1 maiores do que o esperado em seu córtex entorrinal, um componente do sistema de memória do cérebro2.
Tamar Gefen, da Northwestern University, em Illinois, EUA, e seus colegas fizeram imagens de cérebros doados por seis superidosos que morreram com uma idade média de 91 anos. Os seis indivíduos participaram anteriormente de pesquisas em andamento sobre superidosos.
Essas imagens foram comparadas com sete pessoas que morreram com uma idade média de 89 anos e outras seis pessoas que morreram com uma média de 49 anos, todas com memórias que seriam consideradas normais para suas idades.
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Entre os superidosos, seus neurônios1 do córtex entorrinal eram cerca de 10% maiores do que os das pessoas que morreram em uma idade semelhante com uma memória a ser esperada.
Os neurônios1 dos superidosos também eram cerca de 5% maiores do que os das pessoas que morreram 40 anos mais jovens, sugerindo que neurônios1 maiores que a média podem contribuir para uma memória excepcional aos 80 anos ou mais.
Os superidosos também tinham substancialmente menos aglomerados de proteínas3 chamados emaranhados de tau dentro de seus neurônios1 do que suas contrapartes que morreram em uma idade semelhante. Um acúmulo anormal de tau foi sugerido como causa da doença de Alzheimer4.
“Ainda não sei por que os neurônios1 maiores estão associados à memória preservada, além de serem mais resistentes aos emaranhados de tau”, diz Gefen. “Uma outra hipótese é que eles são estruturalmente mais sólidos e podem gerar conexões neurais mais otimizadas.”
“O estudo em geral contribui para a crescente evidência de que os superidosos diferem dos adultos típicos em vários níveis do cérebro”, diz Alexandra Touroutoglou, da Harvard Medical School.
“O tamanho da amostra aqui é relativamente pequeno, mas isso é compreensível. Superidosos são um grupo raro, então encontrar um bom número deles em um estudo cerebral pós-morte é difícil”, diz ela.
De acordo com Joseph Andreano, também da Harvard Medical School, outras regiões do cérebro2 ligadas à cognição5 mostraram diferir em tamanho em superidosos em comparação com pessoas com uma memória a ser esperada. Não está claro se o tamanho dos neurônios1 no córtex entorrinal é especificamente responsável pela memória aprimorada, diz ele.
Os achados do estudo foram publicados em um artigo no Journal of Neuroscience, que relata como a integridade do tamanho neuronal no córtex entorrinal é um substrato biológico do envelhecimento cognitivo6 excepcional.
No artigo, os pesquisadores contextualizam que o envelhecimento normal está associado a um declínio gradual da capacidade de memória. ‘Superidosos’ são humanos com mais de 80 anos que mostram uma memória episódica excepcional pelo menos tão boa quanto indivíduos 20 a 30 anos mais jovens.
Este estudo investigou se a integridade neuronal no córtex entorrinal (CER), uma área crítica para a memória e seletivamente vulnerável à degeneração7 neurofibrilar, diferenciava superidosos de indivíduos mais jovens cognitivamente saudáveis, pares cognitivamente normais (“idosos normais”) e indivíduos com Comprometimento Cognitivo6 Leve amnéstico (CCLa).
Seções post-mortem do CER foram coradas com violeta de cresil para visualizar neurônios1 e imunocoradas com PHF-1 para visualizar emaranhados neurofibrilares8. A área da seção transversal (isto é, tamanho) dos neurônios1 da camada II e da camada III/V do CER foi quantificada.
Dois terços do total de participantes eram do sexo feminino. Estereologia imparcial foi empregada para quantificar emaranhados em um subgrupo de superidosos e idosos normais. Modelos lineares de efeito misto foram usados para determinar as diferenças entre os grupos.
Medições quantitativas descobriram que o tamanho total dos neurônios1 da camada II do CER em espécimes de cérebro2 post-mortem foram significativamente maiores em superidosos em comparação com todos os grupos (p <0,05), incluindo indivíduos de 20 a 30 anos mais jovens (p <0,005).
Superidosos tiveram significativamente menos emaranhados neurofibrilares8 relacionados com a doença de Alzheimer4 quantificados estereologicamente na camada II do CER do que idosos normais (p <0,05). Essa diferença na carga de emaranhados na camada II entre superidosos e idosos normais sugere que os neurônios1 portadores de emaranhados podem estar propensos a encolher durante o envelhecimento.
A descoberta de que os superidosos mostram neurônios1 da camada II do córtex entorrinal que são substancialmente maiores, mesmo em comparação com indivíduos 20-30 anos mais jovens, é notável, sugerindo que a integridade da camada II do córtex entorrinal é um substrato biológico de memória excepcional na velhice.
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Fontes:
The Journal of Neuroscience, publicação em 30 de setembro de 2022.
New Scientist, notícia publicada em 30 de setembro de 2022.