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Idade no início do diabetes tem implicações importantes para os resultados da doença, com piores resultados naqueles diagnosticados mais jovens

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A idade no diagnóstico1 de diabetes2 foi preditiva de morbidade3 e mortalidade4 em idosos, de acordo com dados de uma pesquisa de entrevista longitudinal de saúde5 bienal de base populacional.

De 7.739 adultos com 50 anos ou mais que participaram da pesquisa Health and Retirement Study, o diagnóstico1 de diabetes2 entre 50 e 59 anos de idade foi significativamente associado à mortalidade4 em comparação com nenhum diagnóstico1 de diabetes2, relataram Judy Zhong, PhD, da NYU Grossman School of Medicine, em Nova York, e colegas no artigo publicado no JAMA Network Open.

Essa faixa etária também viu riscos associados significativos para várias comorbidades6 versus controles correspondentes, incluindo doença cardíaca incidente7, AVC, incapacidade e comprometimento cognitivo8.

Mas quando o grupo de Zhong analisou adultos diagnosticados com diabetes2 apenas uma década mais velhos – com idades entre 60 e 69 anos – esses riscos associados não eram tão altos, apesar de ainda serem significativos. Essa faixa etária teve um risco 10% maior de morte em relação aos controles, bem como um risco 25% maior de doença cardíaca incidente7, um risco 41% maior de acidente vascular cerebral9 e um risco 44% maior de incapacidade, mas nenhum risco maior de comprometimento cognitivo8.

Além disso, os adultos diagnosticados com diabetes2 após os 70 anos viram muito poucos desses riscos associados. Essa faixa etária viu apenas um risco 8% maior de mortalidade4 e um risco 15% maior de doença cardíaca. As outras associações não foram significativas em comparação com os pacientes controle.

Saiba mais sobre "Diabetes Mellitus10" e "Complicações do diabetes11".

“Os mecanismos que ligam o diagnóstico1 precoce de diabetes2 a piores resultados não são completamente compreendidos”, observaram os pesquisadores. “A duração mais longa do diabetes2 em indivíduos com diagnóstico1 precoce foi relatada em vários estudos anteriores. Em contraste, em nosso estudo, a associação com a idade no diagnóstico1 persistiu quando a duração do diabetes2 foi totalmente ajustada comparando os resultados incidentes12 a partir da idade no diagnóstico1 de diabetes2.”

Eles sugeriram que uma razão para esses achados poderia ser o fato de que adultos mais jovens estão sendo diagnosticados com “uma forma mais fisiologicamente agressiva de diabetes2, com pior controle glicêmico, disfunção das células13 beta, insuficiência14 de insulina15 e resistência à insulina”, levando a piores resultados.

No artigo publicado, os pesquisadores contextualizam que os adultos mais velhos variam muito em idade ao diagnóstico1 e duração do diabetes tipo 216, mas o tratamento geralmente ignora essa heterogeneidade.

O objetivo do estudo, portanto, foi investigar as associações de diabetes2 versus não diabetes2, idade no diagnóstico1 e duração do diabetes2 com resultados negativos de saúde5 em pessoas com 50 anos ou mais.

Este estudo de coorte17 incluiu participantes das ondas de 1995 a 2018 do Health and Retirement Study (HRS), uma pesquisa de entrevista longitudinal de saúde5 bienal de base populacional de idosos nos EUA. A amostra do estudo incluiu adultos com 50 anos ou mais (n = 36.060) sem diabetes2 no início. Os dados foram analisados de 1º de junho de 2021 a 31 de julho de 2022.

A presença de diabetes2, especificamente a idade no diagnóstico1 do diabetes2, foi a principal exposição do estudo. A idade no diagnóstico1 foi definida como a idade em que o entrevistado relatou o diabetes2 pela primeira vez. Os adultos que desenvolveram diabetes2 foram classificados em 3 grupos de idade no diagnóstico1: 50 a 59 anos, 60 a 69 anos e 70 anos ou mais.

Para cada grupo de idade no diagnóstico1 de diabetes2, foi construído um grupo de controle correspondente ao escore de propensão de entrevistados que nunca desenvolveram diabetes2. A associação de diabetes2 com a incidência18 de desfechos-chave – incluindo doença cardíaca, acidente vascular cerebral9, incapacidade, comprometimento cognitivo8 e mortalidade4 por todas as causas – foi estimada e a associação de diabetes2 versus não diabetes2 entre o caso de idade no diagnóstico1 e grupos de controle pareados foi comparado.

Um total de 7.739 participantes do HRS desenvolveram diabetes2 e foram incluídos na análise (4.267 mulheres [55,1%]; média [DP] de idade no momento do diagnóstico1, 67,4 [9,9] anos). Os grupos de idade no diagnóstico1 incluíram 1.866 entrevistados de 50 a 59 anos, 2.834 de 60 a 69 anos e 3.039 de 70 anos ou mais; 28.321 entrevistados do HRS nunca desenvolveram diabetes2.

A idade no diagnóstico1 de 50 a 59 anos foi significativamente associada a doença cardíaca incidente7 (taxa de risco [HR], 1,66 [IC 95%, 1,40-1,96]), acidente vascular cerebral9 (HR, 1,64 [IC 95%, 1,30-2,07]), incapacidade (HR, 2,08 [IC 95%, 1,59-2,72]), comprometimento cognitivo8 (HR, 1,30 [IC 95%, 1,05-1,61]) e mortalidade4 (HR, 1,49 [IC 95%, 1,29-1,71]) em comparação com controles pareados, mesmo considerando a duração do diabetes2.

Essas associações diminuíram significativamente com o avançar da idade ao diagnóstico1. Os entrevistados com diabetes2 diagnosticado aos 70 anos ou mais mostraram apenas uma associação significativa com o desfecho de mortalidade4 elevada (HR, 1,08 [IC 95%, 1,01-1,17]).

Os achados deste estudo de coorte17 sugerem que a idade no diagnóstico1 do diabetes2 foi diferencialmente associada aos desfechos e que os grupos etários mais jovens estavam em risco elevado de doença cardíaca, acidente vascular cerebral9, incapacidade, comprometimento cognitivo8 e mortalidade4 por todas as causas.

Esses achados reforçam a heterogeneidade clínica do diabetes2 e destacam a importância de melhorar o manejo do diabetes2 em adultos com diagnóstico1 precoce.

Leia sobre "Doenças cardiovasculares19" e "Opções de tratamentos para o diabetes2".

 

Fontes:
JAMA Network Open, publicação em 30 de setembro de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 30 de setembro de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Idade no início do diabetes tem implicações importantes para os resultados da doença, com piores resultados naqueles diagnosticados mais jovens. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1426895/idade-no-inicio-do-diabetes-tem-implicacoes-importantes-para-os-resultados-da-doenca-com-piores-resultados-naqueles-diagnosticados-mais-jovens.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.

Complementos

1 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
2 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
3 Morbidade: Morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
4 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
5 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
6 Comorbidades: Coexistência de transtornos ou doenças.
7 Incidente: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
8 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
9 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
10 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
11 Complicações do diabetes: São os efeitos prejudiciais do diabetes no organismo, tais como: danos aos olhos, coração, vasos sangüíneos, sistema nervoso, dentes e gengivas, pés, pele e rins. Os estudos mostram que aqueles que mantêm os níveis de glicose do sangue, a pressão arterial e o colesterol próximos aos níveis normais podem ajudar a impedir ou postergar estes problemas.
12 Incidentes: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
13 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
14 Insuficiência: Incapacidade de um órgão ou sistema para realizar adequadamente suas funções.Manifesta-se de diferentes formas segundo o órgão comprometido. Exemplos: insuficiência renal, hepática, cardíaca, respiratória.
15 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
16 Diabetes tipo 2: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada tanto por graus variáveis de resistência à insulina quanto por deficiência relativa na secreção de insulina. O tipo 2 se desenvolve predominantemente em pessoas na fase adulta, mas pode aparecer em jovens.
17 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
18 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
19 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
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