Gostou do artigo? Compartilhe!

Controle precoce da sepse foi associado a menor mortalidade em 90 dias

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

O controle rápido e precoce da sepse1 por infecções2 adquiridas na comunidade levou a um menor risco de morte em 90 dias, segundo um estudo de coorte3 retrospectivo4 publicado pelo JAMA Surgery.

Entre mais de 4.900 pacientes hospitalizados com sepse1, a análise de regressão logística multivariada ajustada mostrou que o controle precoce da fonte – dentro de 6 horas – foi associado a uma chance 29% menor de mortalidade5 em 90 dias em comparação com o controle tardio da fonte, definido como 6 a 36 horas.

A relação foi ainda mais forte para aqueles que foram submetidos a intervenções gastrointestinais ou intervenções de tecidos moles, em comparação com ortopédicas e cranianas.

Curiosamente, cada hora de atraso no controle da fonte foi associada a um maior risco de mortalidade5 em 90 dias. A diferença de risco absoluto ajustado de mortalidade5 em 90 dias foi 0,5% menor em 3 horas, mas aumentou 1% em 12 horas, seguido por aumentos de 3% em 24 horas e 5% em 36 horas.

“Na minha própria interpretação deste estudo no contexto de estudos anteriores, defenderei anti-infecciosos precoces e controle da fonte dentro de 6 horas em todos os pacientes com infecções2 adquiridas na comunidade que requerem controle da fonte quando a fonte da infecção6 é gastrointestinal, abdominal, ou tecidos moles na origem”, escreveu Pamela Lipsett, MD, do Johns Hopkins Hospital em Baltimore, em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.

“Devemos coletar prospectivamente resultados de qualidade sobre quão bem somos capazes de seguir esses protocolos e até que ponto podemos melhorar a mortalidade5 por essas doenças”, acrescentou Lipsett.

Saiba mais sobre "Septicemia7" e "Diferenças entre inflamação8 e infecção6".

No artigo publicado, os pesquisadores relatam que o controle rápido da fonte é recomendado para melhorar os resultados do paciente na sepse1. No entanto, existem poucos dados para orientar a rapidez com que o controle da fonte é necessário.

O objetivo do estudo, portanto, foi determinar a associação entre o tempo até o controle da fonte e os resultados do paciente na sepse1 adquirida na comunidade.

Foi realizado um estudo de coorte3 em múltiplos hospitais do sistema integrado de saúde9, incluindo adultos hospitalizados (1º de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2017) com sepse1 adquirida na comunidade, conforme definida pelo consenso Sepsis-3, submetidos a procedimentos de controle da fonte. O acompanhamento continuou até 1º de janeiro de 2019 e as análises de dados foram concluídas em 17 de março de 2022.

As exposições do estudo foram controle precoce (<6 horas) comparado com controle tardio (6-36 horas), bem como cada hora de atraso no controle da fonte (1-36 horas) desde o início da sepse1.

Modelos multivariáveis foram agrupados no nível do hospital com ajuste para fatores do paciente, gravidade da sepse1, disponibilidade de recursos e estresse fisiológico10 dos procedimentos gerando odds ratios ajustados (aOR) e IC 95%.

Dos 4.962 pacientes com sepse1 (média [DP] idade, 62 [16] anos; 52% do sexo masculino; 85% brancos; média [DP] de pontuação na Avaliação Sequencial de Insuficiência11 de Órgãos, 3,8 [2,5]), o controle da fonte ocorreu em uma mediana (IQR ) de 15,4 horas (5,5-21,7) após o início da sepse1, com 1.315 pacientes (27%) submetidos ao controle da fonte dentro de 6 horas.

A mortalidade5 bruta em 90 dias foi semelhante para controle da fonte precoce e tardio (n = 177 [14%] vs n = 529 [15%]; P = 0,35).

Em modelos multivariáveis, o controle precoce da fonte foi associado à diminuição das chances ajustadas ao risco de mortalidade5 em 90 dias (aOR, 0,71; IC 95%, 0,63-0,80). Essa associação foi maior entre intervenções gastrointestinais e abdominais (aOR, 0,56; IC 95%, 0,43-0,80) e de tecidos moles (aOR, 0,72; IC 95%, 0,55-0,95) em comparação com intervenções ortopédicas e cranianas (aOR, 1,33; IC 95%, 0,96-1,83; P < 0,001 para interação).

O estudo concluiu que o controle da fonte dentro de 6 horas do início da sepse1 adquirida na comunidade foi associado a uma redução das chances ajustadas ao risco de mortalidade5 em 90 dias.

Priorizar a identificação rápida de focos sépticos e o início de intervenções de controle das fontes pode reduzir o número de mortes evitáveis entre pacientes com sepse1.

Leia sobre "Sepse1 em crianças" e "Infecção6 hospitalar".

 

Fontes:
JAMA Surgery, publicação em 13 de julho de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 14 de julho de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Controle precoce da sepse foi associado a menor mortalidade em 90 dias. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1421825/controle-precoce-da-sepse-foi-associado-a-menor-mortalidade-em-90-dias.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Sepse: Infecção produzida por um germe capaz de provocar uma resposta inflamatória em todo o organismo. Os sintomas associados a sepse são febre, hipotermia, taquicardia, taquipnéia e elevação na contagem de glóbulos brancos. Pode levar à morte, se não tratada a tempo e corretamente.
2 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
3 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
4 Retrospectivo: Relativo a fatos passados, que se volta para o passado.
5 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
6 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
7 Septicemia: Septicemia ou sepse é uma infecção generalizada grave que ocorre devido à presença de micro-organismos patogênicos e suas toxinas na corrente sanguínea. Geralmente ela ocorre a partir de outra infecção já existente.
8 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
9 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
10 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
11 Insuficiência: Incapacidade de um órgão ou sistema para realizar adequadamente suas funções.Manifesta-se de diferentes formas segundo o órgão comprometido. Exemplos: insuficiência renal, hepática, cardíaca, respiratória.
Gostou do artigo? Compartilhe!