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Traumatismo cranioencefálico está associado a maior risco de desenvolver comorbidades crônicas cardiovasculares e endócrinas, além de neurológicas

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O risco aumentado de condições neurológicas e psiquiátricas após traumatismo1 cranioencefálico (TCE) é bem definido. No entanto, o risco de comorbidade2 cardiovascular e endócrina após TCE em indivíduos sem essas comorbidades3 e associações com mortalidade4 pós-TCE têm recebido pouca atenção.

O objetivo deste estudo, publicado pelo JAMA Network Open, foi avaliar a incidência5 de comorbidades3 cardiovasculares, endócrinas, neurológicas e psiquiátricas em pacientes com TCE leve (TCE-l) ou moderado a grave (TCE-mg) e analisar associações entre comorbidades3 pós-TCE e mortalidade4.

Leia sobre "Traumatismos cranianos", "Concussão cerebral6" e "Encefalopatia7 traumática crônica".

Este estudo de coorte8 longitudinal prospectivo9 usou dados de registro de pacientes hospitalares de um centro médico acadêmico terciário para selecionar pacientes sem comorbidades3 clínicas prévias que sofreram TCE de 2000 a 2015. Usando o mesmo registro de dados, indivíduos sem traumatismo1 craniano, o grupo não exposto, e sem comorbidades3-alvo foram selecionados e pareados por idade, sexo e frequência de raça aos subgrupos de TCE. Os pacientes foram acompanhados por até 10 anos. Os dados foram analisados em 2021.

A exposição do estudo foi traumatismo1 craniano leve ou moderado a grave.

Condições cardiovasculares, endócrinas, neurológicas e psiquiátricas foram definidas com base na Classificação Internacional de Doenças, Nona Revisão (CID-9) ou na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde10, Décima Revisão (CID-10). Foram analisadas associações entre TCE e comorbidades3, bem como associações entre comorbidades3 e mortalidade4.

Um total de 4.351 pacientes com TCE-l (média [IQR] de idade, 45 [29-57] anos), 4.351 pacientes com TCE-mg (média [IQR] de idade, 47 [30-58] anos) e 4.351 indivíduos não expostos (média [IQR] de idade, 46 [30-58] anos) foram incluídos nas análises. Em cada grupo, 45% dos participantes eram mulheres.

TCE-l e TCE-mg foram significativamente associados a maiores riscos de distúrbios cardiovasculares, endócrinos, neurológicos e psiquiátricos em comparação com indivíduos não expostos.

Em particular, o risco de hipertensão11 foi aumentado em ambos os grupos de TCE-l (HR, 2,5; IC 95%, 2,1-2,9) e de TCE-mg (HR, 2,4; IC 95%, 2,0-2,9). O risco de diabetes12 foi aumentado em ambos os grupos de TCE-l (HR, 1,9; IC 95%, 1,4-2,7) e de TCE-mg (HR, 1,9; IC 95%, 1,4-2,6), e o risco de acidente vascular cerebral13 isquêmico14 ou ataque isquêmico14 transitório também foi aumentado nos grupos de TCE-l (HR, 2,2; IC 95%, 1,4-3,3) e de TCE-mg (HR, 3,6; IC 95%, 2,4-5,3).

Todas as comorbidades3 nos subgrupos de TCE surgiram dentro de uma mediana (IQR) de 3,49 (1,76-5,96) anos após a lesão15.

Os riscos de comorbidades3 pós-TCE também foram maiores em pacientes de 18 a 40 anos em comparação com indivíduos não expostos da mesma idade: o risco de hipertensão11 foi aumentado nos grupos de TCE-l (HR, 5,9; IC 95%, 3,9-9,1) e de TCE-mg (HR, 3,9; IC 95%, 2,5-6,1), enquanto hiperlipidemia16 (HR, 2,3; IC 95%, 1,5-3,4) e diabetes12 (HR, 4,6; IC 95%, 2,1-9,9) foram aumentados no grupo de TCE-l.

Indivíduos com TCE-mg, comparados com pacientes não expostos, apresentaram maior risco de mortalidade4 (432 óbitos [9,9%] vs 250 óbitos [5,7%]; P <0,001); hipertensão11 pós-lesão15 (HR, 1,3; IC 95%, 1,1-1,7), doença arterial coronariana (HR, 2,2; IC 95%, 1,6-3,0) e insuficiência17 adrenal (HR, 6,2; IC 95%, 2,8-13,0) também foram associadas a maior mortalidade4.

Esses achados sugerem que o traumatismo1 cranioencefálico de qualquer gravidade foi associado a um maior risco de comorbidades3 crônicas cardiovasculares, endócrinas e neurológicas em pacientes sem diagnóstico18 inicial. Comorbidades3 médicas foram observadas em pacientes relativamente jovens com TCE. Comorbidades3 ocorridas após TCE foram associadas a maior mortalidade4.

Esses achados sugerem a necessidade de um programa de rastreamento direcionado para doenças crônicas multissistêmicas após traumatismo1 cranioencefálico, particularmente doenças cardiometabólicas.

Saiba mais sobre "Doenças crônicas" e "Doenças cardiovasculares19".

 

Fonte: JAMA Network Open, publicação em 28 de abril de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Traumatismo cranioencefálico está associado a maior risco de desenvolver comorbidades crônicas cardiovasculares e endócrinas, além de neurológicas. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1416385/traumatismo-cranioencefalico-esta-associado-a-maior-risco-de-desenvolver-comorbidades-cronicas-cardiovasculares-e-endocrinas-alem-de-neurologicas.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Traumatismo: Lesão produzida pela ação de um agente vulnerante físico, químico ou biológico e etc. sobre uma ou várias partes do organismo.
2 Comorbidade: Coexistência de transtornos ou doenças.
3 Comorbidades: Coexistência de transtornos ou doenças.
4 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
5 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
6 Concussão cerebral: Perda imediata da consciência no momento de um trauma, mas recuperável em 24 horas ou menos e sem seqüelas. Acompanha-se de amnésia retrógrada e pós-traumática, isto é, o paciente não se recorda do trauma, dos momentos que o antecederam, nem de eventos imediatamente posteriores. Hoje a tendência é considerar a concussão como resultante de um grau leve de lesão axonal difusa.
7 Encefalopatia: Qualquer patologia do encéfalo. O encéfalo é um conjunto que engloba o tronco cerebral, o cerebelo e o cérebro.
8 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
9 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
10 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
11 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
12 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
13 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
14 Isquêmico: Relativo à ou provocado pela isquemia, que é a diminuição ou suspensão da irrigação sanguínea, numa parte do organismo, ocasionada por obstrução arterial ou por vasoconstrição.
15 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
16 Hiperlipidemia: Condição em que os níveis de gorduras e colesterol estão mais altos que o normal.
17 Insuficiência: Incapacidade de um órgão ou sistema para realizar adequadamente suas funções.Manifesta-se de diferentes formas segundo o órgão comprometido. Exemplos: insuficiência renal, hepática, cardíaca, respiratória.
18 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
19 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
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