O uso pré-natal de maconha pode afetar o desenvolvimento e o comportamento das crianças, através da supressão das redes de genes imunológicos na placenta e do aumento dos fenótipos de ansiedade
Filhos de mulheres que usam maconha durante ou logo após a gravidez1 têm duas vezes mais probabilidade do que outras crianças de ficarem ansiosos, agressivos ou hiperativos, de acordo com um novo estudo, publicado no jornal científico Proceedings of the National Academy of Sciences.
As descobertas adicionam peso a um crescente corpo de evidências que liga o uso de cannabis durante a gravidez1 a problemas psiquiátricos em crianças. Os problemas comportamentais podem ser causados em parte por mudanças na atividade dos genes encontrados na placenta, o órgão que fornece nutrientes e oxigênio para o feto2 em crescimento.
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Para grávidas, a maconha não é apenas um meio de ficar chapada. Algumas mulheres a usam para aliviar os enjôos matinais graves e a ansiedade, e podem não estar cientes de que pode representar riscos.
As mulheres “tendem a pensar que fumar e beber durante a gravidez1 devem ser evitados a todo custo, mas não a maconha”, disse Yoko Nomura, neurocientista comportamental do Queens College, City University of New York e coautora do novo estudo. “Temos um longo caminho a percorrer para educar grávidas, legisladores e até médicos obstetras sobre esse assunto”.
O uso de cannabis está se tornando mais prevalente, inclusive durante períodos sensíveis ao desenvolvimento, como a gravidez1. Embora a cannabis esteja entre as drogas recreativas mais usadas durante a gravidez1, o impacto do uso materno de cannabis (mCB) no desenvolvimento fetal e infantil permanece obscuro.
No estudo, os pesquisadores avaliaram os efeitos do mCB nas medidas psicossociais e fisiológicas3 em crianças pequenas, juntamente com a relevância potencial do ambiente intrauterino refletido no transcriptoma placentário.
As crianças (∼3 a 6 anos) foram avaliadas quanto aos níveis de hormônio4 capilar5, traços neurocomportamentais no Sistema de Avaliação Comportamental para Crianças (BASC-2) e variabilidade da frequência cardíaca (VFC) em repouso e durante o sobressalto auditivo.
Para um subconjunto de crianças com avaliações comportamentais, as amostras de placenta coletadas no nascimento foram processadas para sequenciamento de RNA.
A análise dos hormônios capilares6 revelou níveis aumentados de cortisol em crianças cujas mães usaram cannabis. Além disso, o mCB foi associado a maior ansiedade, agressividade e hiperatividade.
Crianças com mCB também mostraram uma redução no componente de alta frequência da VFC no início do estudo, refletindo a redução do tônus vagal.
Na placenta, houve redução da expressão de muitos genes envolvidos na função do sistema imunológico7, incluindo interferon tipo I, neutrófilos8 e vias de sinalização de citocinas9.
Finalmente, vários desses genes imunes ligados ao mCB se organizaram em redes de coexpressão que se correlacionaram com a ansiedade e hiperatividade infantil.
No geral, esses resultados revelam uma relação entre uso materno de cannabis e redes de genes de resposta imune na placenta como um mediador potencial de risco para problemas relacionados à ansiedade na primeira infância.
Estudos futuros são necessários para examinar os efeitos da cannabis na função imunológica durante a gravidez1 como um mecanismo regulador potencial que molda o desenvolvimento neurocomportamental.
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Fontes:
Proceedings of the National Academy of Sciences, publicação em 19 de novembro de 2021.
The New York Times, notícia publicada em 19 de novembro de 2021.