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Redução da pressão arterial é uma estratégia eficaz para a prevenção de novo início do diabetes tipo 2

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A redução da pressão arterial1 é uma estratégia estabelecida para prevenir complicações microvasculares e macrovasculares do diabetes2, mas seu papel na prevenção do diabetes2 em si não é claro. O objetivo neste estudo, publicado pelo The Lancet, foi examinar esta questão usando dados de participantes individuais de grandes ensaios clínicos3 randomizados.

Foi realizada uma metanálise de dados de participantes individuais de um estágio, em que os dados foram agrupados para investigar o efeito da redução da pressão arterial1 per se sobre o risco de novo início do diabetes2 tipo 2.

Uma metanálise de rede de dados de participantes individuais foi usada para investigar os efeitos diferenciais de cinco classes principais de medicamentos anti-hipertensivos sobre o risco de novo início do diabetes tipo 24.

Leia sobre "O que vem a ser pressão arterial1", "Diabetes Mellitus5" e "Complicações do diabetes6 mellitus".

No geral, os dados de 22 estudos conduzidos entre 1973 e 2008 foram obtidos pela Blood Pressure Lowering Treatment Trialists’ Collaboration (Oxford University, Oxford, Reino Unido). Foram incluídos todos os ensaios de prevenção primária e secundária que usaram uma classe específica ou classes de medicamentos anti-hipertensivos versus placebo7 ou outras classes de medicamentos para baixar a pressão arterial1 que tiveram pelo menos 1000 pessoas-anos de acompanhamento em cada braço alocado aleatoriamente.

Participantes com diagnóstico8 conhecido de diabetes2 no início do estudo e estudos realizados em pacientes com diabetes2 prevalente foram excluídos. Para a metanálise de dados de participantes individuais de um estágio, usou-se o modelo estratificado de riscos proporcionais de Cox e para a metanálise de rede de dados de participantes individuais usou-se modelos de regressão logística para calcular o risco relativo (RR) para comparações de classes de medicamentos.

145.939 participantes (88.500 [60,6%] homens e 57.429 [39, 4%] mulheres) de 19 ensaios clínicos3 randomizados foram incluídos na metanálise de dados individuais de um estágio. 22 estudos foram incluídos na metanálise de rede de dados de participantes individuais.

Após um acompanhamento médio de 4,5 anos (IQR 2,0), 9.883 participantes foram diagnosticados com novo início do diabetes tipo 24. A redução da pressão arterial sistólica9 em 5 mmHg reduziu o risco de diabetes tipo 24 em todos os ensaios em 11% (razão de risco 0,89 [IC 95% 0,84-0,95]).

A investigação dos efeitos das cinco classes principais de medicamentos anti-hipertensivos mostrou que, em comparação com o placebo7, os inibidores da enzima10 conversora da angiotensina (RR 0,84 [IC 95% 0,76-0,93]) e os bloqueadores dos receptores da angiotensina II (RR 0,84 [0,76-0,92]) reduziram o risco de novo início do diabetes tipo 24; no entanto, o uso de β bloqueadores (RR 1,48 [1,27-1,72]) e diuréticos11 tiazídicos (RR 1,20 [1,07-1,35]) aumentaram este risco, e nenhum efeito material foi encontrado para bloqueadores dos canais de cálcio (RR 1,02 [0,92-1,13]).

A redução da pressão arterial1 é uma estratégia eficaz para a prevenção de novo início do diabetes tipo 24. As intervenções farmacológicas estabelecidas, no entanto, têm efeitos qualitativa e quantitativamente diferentes sobre o diabetes2, provavelmente devido aos seus diferentes efeitos fora do alvo, com inibidores da enzima10 conversora da angiotensina e bloqueadores dos receptores da angiotensina II tendo os resultados mais favoráveis.

Essa evidência apoia a indicação de classes selecionadas de medicamentos anti-hipertensivos para a prevenção do diabetes2, o que poderia refinar ainda mais a escolha do medicamento de acordo com o risco clínico de diabetes2 do indivíduo.

Veja também sobre "Hipertensão Arterial12", "Mecanismos de ação dos anti-hipertensivos" e "Prevenção do diabetes2 e suas complicações".

 

Fonte: The Lancet, Vol. 398, Nº 10313, em 13 de novembro de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Redução da pressão arterial é uma estratégia eficaz para a prevenção de novo início do diabetes tipo 2. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1405760/reducao-da-pressao-arterial-e-uma-estrategia-eficaz-para-a-prevencao-de-novo-inicio-do-diabetes-tipo-2.htm>. Acesso em: 19 mar. 2024.

Complementos

1 Pressão arterial: A relação que define a pressão arterial é o produto do fluxo sanguíneo pela resistência. Considerando-se a circulação como um todo, o fluxo total é denominado débito cardíaco, enquanto a resistência é denominada de resistência vascular periférica total.
2 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
3 Ensaios clínicos: Há três fases diferentes em um ensaio clínico. A Fase 1 é o primeiro teste de um tratamento em seres humanos para determinar se ele é seguro. A Fase 2 concentra-se em saber se um tratamento é eficaz. E a Fase 3 é o teste final antes da aprovação para determinar se o tratamento tem vantagens sobre os tratamentos padrões disponíveis.
4 Diabetes tipo 2: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada tanto por graus variáveis de resistência à insulina quanto por deficiência relativa na secreção de insulina. O tipo 2 se desenvolve predominantemente em pessoas na fase adulta, mas pode aparecer em jovens.
5 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
6 Complicações do diabetes: São os efeitos prejudiciais do diabetes no organismo, tais como: danos aos olhos, coração, vasos sangüíneos, sistema nervoso, dentes e gengivas, pés, pele e rins. Os estudos mostram que aqueles que mantêm os níveis de glicose do sangue, a pressão arterial e o colesterol próximos aos níveis normais podem ajudar a impedir ou postergar estes problemas.
7 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
8 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
9 Pressão arterial sistólica: É a pressão mais elevada (pico) verificada nas artérias durante a fase de sístole do ciclo cardíaco, é também chamada de pressão máxima.
10 Enzima: Proteína produzida pelo organismo que gera uma reação química. Por exemplo, as enzimas produzidas pelo intestino que ajudam no processo digestivo.
11 Diuréticos: Grupo de fármacos que atuam no rim, aumentando o volume e o grau de diluição da urina. Eles depletam os níveis de água e cloreto de sódio sangüíneos. São usados no tratamento da hipertensão arterial, insuficiência renal, insuficiência cardiaca ou cirrose do fígado. Há dois tipos de diuréticos, os que atuam diretamente nos túbulos renais, modificando a sua atividade secretora e absorvente; e aqueles que modificam o conteúdo do filtrado glomerular, dificultando indiretamente a reabsorção da água e sal.
12 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.
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