Gostou do artigo? Compartilhe!

Estudo sobre associações entre parto cesáreo e mortalidade infantil no Brasil demonstra risco aumentado de mortalidade a menos que haja indicação clara para cesárea

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

Há um uso crescente de parto cesáreo (PC) com base na preferência ao invés de indicação médica. No entanto, ainda não está claro até que ponto o PC não indicado clinicamente beneficia ou prejudica a sobrevivência1 infantil.

Neste estudo, publicado na revista PLOS Medicine, a hipótese era que em grupos com baixa indicação de PC, esse procedimento estaria associado a maior mortalidade infantil2, e em grupos com clara indicação médica de PC, estaria associado a maiores chances de sobrevivência1 infantil.

Foi conduzido um estudo de coorte3 de base populacional no Brasil relacionando dados de rotina sobre nascidos vivos entre 1º de janeiro de 2012 e 31 de dezembro de 2018 e avaliando a mortalidade4 até 5 anos de idade.

Saiba mais sobre "Mortalidade infantil2 no Brasil", "Como é a cesárea" e "Quantas cesarianas uma mulher pode fazer com segurança".

As mulheres com um nascimento vivo que contribuíram com registros durante este período foram classificadas em um dos 10 grupos de Robson com base em suas características de gravidez5 e parto.

Usou-se os escores de propensão para combinar PC com partos vaginais (1:1) e PC pré-trabalho de parto com PC não programado (1:1) e associações estimadas com mortalidade infantil2 usando regressões de Cox.

Um total de 17.838.115 nascidos vivos foram analisados. Após o pareamento do escore de propensão (PEP), descobriu-se que nascidos vivos de mulheres em grupos com baixas frequências esperadas de PC (grupos de Robson 1 a 4) tiveram uma taxa de mortalidade4 maior até a idade de 5 anos se o nascimento foi por PC em comparação com partos vaginais (HR = 1,25, IC 95%: 1,22 a 1,28; p <0,001). A taxa relativa foi maior no período neonatal (HR = 1,39, IC 95%: 1,34-1,45; p <0,001).

Não houve diferença na taxa de mortalidade4 ao comparar os filhos nascidos por um PC pré-trabalho de parto com aqueles nascidos por um PC não programado. Para os nascidos vivos de mulheres com PC em uma gravidez5 anterior (grupo de Robson 5), as taxas relativas de mortalidade infantil2 foram semelhantes para aqueles nascidos por PC em comparação com partos vaginais (HR = 1,05, IC 95%: 1,00 a 1,10; p = 0,024).

Em contraste, para nascidos vivos de mulheres em grupos com altas taxas esperadas de PC (grupos de Robson 6 a 10), a taxa de mortalidade infantil2 foi menor para PC do que para partos vaginais (HR = 0,90, IC 95%: 0,89 a 0,91; p <0,001), principalmente no período neonatal (HR = 0,84, IC 95%: 0,83 a 0,85; p <0,001).

Os resultados devem ser interpretados com cautela na prática clínica, uma vez que dados clínicos relevantes sobre a indicação de parto cesáreo não estavam disponíveis.

Neste estudo, observou-se que nos grupos de Robson com baixas frequências esperadas de parto cesáreo, esse procedimento foi associado a um aumento de 25% na mortalidade infantil2. No entanto, em grupos com altas frequências esperadas de parto cesáreo, os achados sugerem que a cesariana clinicamente indicada está associada a uma redução na mortalidade infantil2.

Assim, o estudo sugere que, no Brasil, a cesárea está associada a um risco aumentado de mortalidade infantil2, a menos que haja uma indicação clara para o procedimento.

O estudo pode ajudar grávidas e seus médicos a tomar decisões informadas sobre se o parto cesáreo é apropriado para elas.

Recomenda-se mais pesquisas em ambientes de baixa e média renda para confirmar os resultados. Se confirmado, intervenções direcionadas a gestantes, profissionais de saúde6 e sistemas de saúde6 devem ser feitas para reduzir as taxas de cesariana não indicada.

Leia sobre "Parto normal ou cesárea" e "Parto vaginal - como é".

 

Fonte: PLOS Medicine, publicação em 12 de outubro de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Estudo sobre associações entre parto cesáreo e mortalidade infantil no Brasil demonstra risco aumentado de mortalidade a menos que haja indicação clara para cesárea. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1404540/estudo-sobre-associacoes-entre-parto-cesareo-e-mortalidade-infantil-no-brasil-demonstra-risco-aumentado-de-mortalidade-a-menos-que-haja-indicacao-clara-para-cesarea.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Sobrevivência: 1. Ato ou efeito de sobreviver, de continuar a viver ou a existir. 2. Característica, condição ou virtude daquele ou daquilo que subsiste a um outro. Condição ou qualidade de quem ainda vive após a morte de outra pessoa. 3. Sequência ininterrupta de algo; o que subsiste de (alguma coisa remota no tempo); continuidade, persistência, duração.
2 Mortalidade Infantil: A taxa de mortalidade infantil é o quociente entre os óbitos de menores de um ano ocorridos em uma determinada unidade geográfica e período de tempo, e os nascidos vivos da mesma unidade nesse período, segundo a fórmula: Taxa de Mortalidade Infantil = (Óbitos de Menores de 1 ano / Nascidos Vivos) x 1.000
3 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
4 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
5 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
6 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
Gostou do artigo? Compartilhe!