Número excessivo de cesarianas no Brasil, revela pesquisa da Fiocruz
O Brasil apresenta alto índice de cesarianas e, no setor privado, a situação é ainda pior. A pesquisa Nascer no Brasil, coordenada pela Fiocruz, em parceria com outras instituições científicas do país revela um alto índice de cesarianas no Brasil. Foram entrevistadas 23.894 mulheres no estudo realizado em maternidades públicas, privadas e mistas, que incluiu 266 hospitais de médio e grande porte, localizados em 191 municípios, contemplando capitais e cidades do interior de todos os estados.
O estudo revela que a cesariana é realizada em 52% dos nascimentos, sendo que, no setor privado, esta taxa chega a 88%. A recomendação da Organização Mundial da Saúde1 (OMS) é de que somente 15% dos partos sejam realizados por meio desse procedimento cirúrgico.
Segundo a coordenadora da pesquisa, Maria do Carmo Leal, o número excessivo de cesarianas expõem desnecessariamente as mulheres e os bebês2 aos riscos de efeitos adversos no parto e nascimento. As cesarianas foram frequentes inclusive entre as adolescentes (42%), resultado preocupante pela maior exposição a riscos futuros para essas mulheres.
O estudo aponta que quase 70% das brasileiras deseja um parto normal no início da gravidez3. Entretanto, poucas são apoiadas em sua preferência, principalmente nos serviços privados, nos quais esse valor foi de apenas 15% para aquelas que estavam em sua primeira gestação.
Entre as gestantes que tiveram parto normal, houve predominância de um modelo de atenção extremamente medicalizado, com intervenções excessivas e uso de procedimentos que, além de não serem recomendados pela OMS como de rotina, provocam dor e sofrimento desnecessários quando utilizados sem indicação clínica.
Os dados ainda indicam que cerca de 30% das entrevistadas não desejaram a gestação atual, 9% ficaram insatisfeitas com a gravidez3 e 2,3% relataram ter tentado interromper a gestação. Além disso, a depressão materna foi detectada em 26% das mães entre 6 e 18 meses após o parto, sendo mais frequente entre as mulheres de baixa condição social e econômica, nas pardas e indígenas, nas mulheres sem companheiro, que não desejavam a gravidez3 e já tinham três ou mais filhos.
A atenção pré-natal foi baixa, com 60% das gestantes iniciando o pré-natal tardiamente e cerca de um quarto delas sem receber o número mínimo de seis consultas recomendado pelo Ministério da Saúde1. A mortalidade4 neonatal, por sua vez, esteve associada ao baixo peso ao nascer, ao risco gestacional e à inadequação da atenção ao pré-natal e ao parto, indicando uma qualidade não satisfatória da assistência.
A proporção de nascimentos prematuros (antes de 37 semanas) encontrada no estudo foi de 11,3%. Quando comparado aos dados populacionais da Inglaterra e País de Gales, a ordem brasileira foi 55% maior.
Fonte: Fiocruz, de 30 de maio de 2014
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