Vacina contra malária que combina parasita com tratamento se mostra promissora
Um novo tipo de vacina1 contra a malária envolve injetar nas pessoas o parasita2 da malária e, alguns dias depois, dar-lhes um medicamento que mata os patógenos. A abordagem mostrou resultados promissores em um teste em estágio inicial, descrito em estudo publicado na revista Nature.
A malária, uma doença infecciosa transmitida por mosquitos, é um dos maiores problemas de saúde3 pública do mundo, sendo particularmente mortal para crianças pequenas na África. Atualmente, o declínio global da malária estagnou, enfatizando a necessidade de vacinas que induzam imunidade4 esterilizante durável.
Já existe uma vacina1 disponível, chamada Mosquirix, que funciona injetando em pessoas uma molécula encontrada na superfície do parasita2. Mas sua eficácia diminui com o tempo, caindo para cerca de 5% após sete anos.
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Alguns grupos estão trabalhando em uma vacina1 melhorada semelhante à Mosquirix, que produziu resultados positivos em abril de 2021. Mas Patrick Duffy do Instituto Nacional de Saúde3 dos Estados Unidos e seus colegas se questionaram sobre uma abordagem alternativa: injetar o parasita2 completo nas pessoas e, em seguida, dar rapidamente um remédio para malária para impedir que adoeçam.
Eles tentaram dois medicamentos antimaláricos5 diferentes e doses diferentes do parasita2 em um pequeno estudo de “desafio humano”, no qual as pessoas são vacinadas e, três meses depois, deliberadamente expostas ao parasita2 da malária para ver se desenvolvem a doença.
O estudo descreve como os pesquisadores otimizaram regimes para vacinação de quimioprofilaxia [VacQ], para os quais esporozoítos de Plasmodium falciparum [PfSPZ] assépticos, purificados, criopreservados e infecciosos foram inoculados sob cobertura profilática com pirimetamina [PIR] (Sanaria PfSPZ-VacQ (PIR)) ou cloroquina [CQ] (PfSPZ-VacQ (CQ)) – que matam parasitas em estágio de fígado6 e sangue7, respectivamente – e avaliaram a eficácia da vacina1 contra infecção8 controlada por malária em humanos [ICMH] homóloga (ou seja, a mesma cepa9) e heteróloga (uma cepa9 diferente) três meses após a imunização10.
Foi relatado que um aumento de quatro vezes na dose de PfSPZ-VacQ (PIR) de 5,12 × 104 para 2 × 105 PfSPZs transformou uma eficácia vacinal mínima (dose baixa, dois de nove (22,2%) participantes protegidos contra ICMH homóloga), para uma eficácia vacinal de alto nível, com sete de oito (87,5%) indivíduos protegidos contra ICMH homóloga e sete de nove (77,8%) protegidos contra ICMH heteróloga.
O aumento da proteção foi associado a respostas de células11 T Vδ2 γδ e de anticorpos12.
Na dose mais alta, PfSPZ-VacQ (CQ) protegeu seis de seis (100%) participantes contra ICMH heteróloga três meses após a imunização10.
Todos os participantes de controle de infectividade13 homóloga (quatro em quatro) e heteróloga (oito em oito) apresentaram parasitemia.
PfSPZ-VacQ (CQ) e PfSPZ-VacQ (PIR) induziram uma eficácia vacinal durável e estéril contra uma cepa9 sul-americana heteróloga de P. falciparum, que tem um genoma e um imunoma de células11 T CD8 previsto que difere mais fortemente da cepa9 da vacina1 africana do que outras cepas14 de P. falciparum africanas analisadas.
Assim, o estudo mostrou que, quando se utilizou o antimalárico pirimetamina e uma alta dose de vacina1 do parasita2, sete em cada oito pessoas ficaram protegidas contra o adoecimento, se a mesma cepa9 do parasita2 fosse usada na vacina1 e no desafio. Se uma cepa9 diferente fosse usada – um teste mais difícil – sete entre nove pessoas foram protegidas. Com o outro medicamento antimalárico, cloroquina, seis em cada seis pessoas ficaram protegidas em um desafio contra cepas14 diferentes.
Esses números de alta eficácia não significam necessariamente que essa abordagem funcionaria melhor do que o Mosquirix na vida real. “Mas é um nível de proteção que não foi visto antes em testes de desafio”, diz Duffy.
A principal desvantagem da nova estratégia é que, se as pessoas não tomarem o medicamento antimalárico após serem vacinadas, provavelmente desenvolverão malária. Para evitar isso, um estudo maior foi iniciado em Mali, no qual as pessoas recebem pirimetamina ao mesmo tempo em que são vacinadas.
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Fontes:
Nature, publicação em 30 de junho de 2021.
New Scientist, notícia publicada em 30 de junho de 2021.