Novo medicamento agonista do receptor de kisspeptina pode melhorar a fertilidade em mulheres com distúrbios reprodutivos
Um medicamento que atua através do sistema hormonal natural da 'kisspeptina' no corpo tem o potencial de tratar problemas de saúde1 reprodutiva em mulheres, de acordo com um novo estudo.
Em estudo publicado pelo The Journal of Clinical Investigation, vinte e quatro mulheres foram injetadas com uma droga chamada MVT-602, que tem como alvo o sistema da kisspeptina para estimular os hormônios reprodutivos que afetam a fertilidade, o desenvolvimento sexual e a menstruação2.
A forma natural da kisspeptina, chamada kisspeptina-54 (KP54,) foi pesquisada por vários anos para tratar distúrbios reprodutivos, mas no novo estudo, o MVT-602 induziu uma sinalização mais potente do sistema da kisspeptina por um período de tempo mais longo do que a KP54.
Leia sobre "Infertilidade3 feminina" e "Diferença entre infertilidade3 e esterilidade4".
A kisspeptina é um regulador chave dos neurônios5 do hormônio6 liberador de gonadotropina hipotalâmico (GnRH) e é essencial para a saúde1 reprodutiva. Um agonista7 específico do receptor da kisspeptina (KISS1R) poderia expandir significativamente a utilidade clínica potencial de terapêuticas que visam à via da kisspeptina. Nesse estudo, pesquisadores do Imperial College London e médicos do Imperial College Healthcare NHS Trust investigaram os efeitos de um agonista7 do KISS1R, o MVT-602, em mulheres saudáveis e em mulheres com distúrbios reprodutivos.
Foram conduzidos estudos in vivo e in vitro para caracterizar a ação do MVT-602 em comparação com a kisspeptina-54 nativa. Determinou-se as propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas do MVT-602 (doses 0,01 e 0,03 nmol/kg) versus KP54 (9,6 nmol/kg) na fase folicular de mulheres saudáveis (n = 9) e em mulheres com síndrome8 dos ovários9 policísticos (SOP; n = 6) ou amenorreia10 hipotalâmica (AH; n = 6). Além disso, investigou-se seus efeitos na sinalização de monofosfato de inositol (IP1) e Ca²+ mediada por KISS1R em linhas celulares e no disparo do potencial de ação dos neurônios5 de GnRH em fatias do cérebro11.
Em mulheres saudáveis, a amplitude do aumento do hormônio6 luteinizante (LH) foi semelhante àquela após a KP54, mas atingiu o pico mais tarde (21,4 vs. 4,7 horas; P = 0,0002), com aumento correspondente da AUC12 da exposição de LH (169,0 vs. 38,5 IU∙h/L; P = 0,0058). Aumentos de LH após MVT-602 foram semelhantes em mulheres com SOP e mulheres saudáveis, mas avançados em mulheres com AH (P = 0,004).
De acordo com os dados clínicos, o MVT-602 induziu uma sinalização mais potente do acúmulo de IP1 mediado por KISS1R e uma duração mais longa do disparo do neurônio GnRH do que a KP54 (115 vs. 55 minutos; P = 0,0012).
Tomados em conjunto, esses dados clínicos e mecanísticos identificam o MVT-602 como tendo considerável potencial terapêutico para o tratamento de distúrbios reprodutivos femininos.
Os pesquisadores sugerem que, devido à duração de ação muito mais longa do MVT-602, ele pode ser administrado com menos frequência do que a forma natural de kisspeptina, embora ainda seja capaz de manter o grau de estimulação dos níveis de hormônio6 reprodutivo necessário para restaurar a saúde1 reprodutiva.
O professor Waljit Dhillo, autor principal, professor pesquisador em endocrinologia e metabolismo13 do NIHR no Imperial College London e consultor em endocrinologia no Imperial College Healthcare NHS Trust disse:
"Problemas de saúde1 reprodutiva são comuns para mulheres em todo o mundo. A infertilidade3 como resultado dessas condições pode causar muito sofrimento. Embora tenhamos feito grandes avanços no desenvolvimento de tratamentos para infertilidade3 e outros distúrbios reprodutivos, é necessário encontrar tratamentos mais eficazes. Nosso trabalho anterior mostrou que a kisspeptina pode ser usada para estimular a ovulação14 em mulheres submetidas a tratamento de fertilização15 in vitro, mas há algumas limitações no uso do hormônio6 kisspeptina de ocorrência natural, pois sua eficácia diminui após algumas horas. Esse novo estudo sugere que o MVT-602 pode estimular a kisspeptina por um período de tempo mais longo sem efeitos colaterais16, o que significa que podemos usá-lo potencialmente para tratar uma ampla gama de distúrbios reprodutivos. Esse é um estudo em estágio inicial e mais pesquisas precisam ser realizadas para determinar totalmente os efeitos do MVT-602 em mais pacientes."
Veja também sobre "Fertilização15 in vitro", "Ovários9 policísticos", "Amenorreia10", "Malformações17 uterinas" e "Indutores de ovulação14".
Fontes:
The Journal of Clinical Investigation, publicação em 16 de novembro de 2020.
Medical X press, notícia publicada em 16 de novembro de 2020.