Gostou do artigo? Compartilhe!

As glândulas salivares tubárias: um novo órgão potencial em risco para radioterapia

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

Médicos podem ter encontrado novos órgãos no centro da cabeça1. Eles parecem ser um quarto par de grandes glândulas salivares2, aninhadas no espaço onde a cavidade nasal3 encontra a garganta4.

Destaques

• Tomografia por emissão de pósitrons / tomografia computadorizada5 com ligantes de antígeno6 de membrana específico da próstata7 (PSMA PET/CT) indicou uma glândula8 salivar nasofaríngea pareada previamente despercebida e macroscópica.

• A presença de glândulas9 mucosas10 pareadas foi confirmada em 100 pacientes consecutivos e histologia de cadáver.

• Em 723 pacientes, a dose de radioterapia11 nessa área foi associada a xerostomia12 e disfagia13.

• Propõe-se denominar essas glândulas9 macroscópicas recém-identificadas de “glândulas tubárias”.

• A preservação dessas glândulas9 na radioterapia11 oferece uma oportunidade de melhorar a qualidade de vida.

...

Uma equipe de pesquisadores na Holanda descobriu o que pode ser um conjunto de órgãos até então não identificados: um par de grandes glândulas salivares2, à espreita no canto onde a cavidade nasal3 encontra a garganta4. Se as descobertas forem confirmadas, essa fonte oculta de saliva pode marcar a primeira identificação desse tipo em cerca de três séculos.

Qualquer livro moderno de anatomia mostrará apenas três tipos principais de glândulas salivares2: uma colocada perto das orelhas14, outra abaixo da mandíbula15 e outra embaixo da língua16. “Agora, achamos que há um quarto”, disse o Dr. Matthijs Valstar, cirurgião e pesquisador do Instituto do Câncer17 da Holanda e autor do estudo, publicado no mês passado na revista Radiotherapy and Oncology.

Leia sobre "As funções da saliva", "Xerostomia12" e "Radioterapia11".

O estudo foi pequeno e examinou uma população limitada de pacientes, disse a Dra. Valerie Fitzhugh, uma patologista18 da Rutgers University que não estava envolvida na pesquisa. Mas “parece que eles podem estar no caminho certo”, disse ela. “Se for real, pode mudar a forma como vemos as doenças nesta região.”

A presença de localizações macroscópicas da glândula8 salivar bilateral previamente despercebidas na nasofaringe19 humana foi suspeitada após visualização por tomografia por emissão de pósitrons / tomografia computadorizada5 com ligantes de antígeno6 de membrana específicos da próstata7 (PSMA PET/CT). O objetivo dos pesquisadores foi elucidar as características desta entidade desconhecida e suas potenciais implicações clínicas para a radioterapia11.

A presença e configuração da área PSMA-positiva foi avaliada em uma coorte20 retrospectiva de pacientes examinados consecutivamente com câncer17 de próstata7 ou da glândula8 uretral21 (n = 100). As características morfológicas e histológicas22 foram avaliadas em um estudo com cadáveres humanos (n = 2). O efeito da radioterapia11 (RT) na salivação e deglutição23 foi investigado retrospectivamente usando dados clínicos coletados prospectivamente de uma coorte20 de pacientes com câncer17 de cabeça1 e pescoço24 (n = 723). Com a análise de regressão logística multivariável, foi avaliada a associação entre a dose de radioterapia11 e xerostomia12 ou disfagia13.

Todos os 100 pacientes demonstraram uma área positiva de PSMA bilateral demarcada (comprimento médio de 4 cm). A histologia e a reconstrução 3D confirmaram a presença de glândulas9 predominantemente mucosas10 que expressam PSMA, com múltiplos dutos de drenagem25, predominantemente próximas ao tórus tubário.

Em pacientes com câncer17 de cabeça1 e pescoço24, a dose média de RT para a área da glândula8 foi significativamente associada com xerostomia12 pós-tratamento e disfagia13 ≥ grau 2 em 12 meses (0,019/gy, IC 95% 0,005-0,033, p = 0,007; 0,016/gy, IC 95% 0,001–0,031, p = 0,036). O acompanhamento em 24 meses teve resultados semelhantes.

O estudo concluiu que o corpo humano26 contém um par de localizações macroscópicas de glândulas salivares2 previamente negligenciadas e clinicamente relevantes, para as quais foi proposto o nome de glândulas9 tubárias. A preservação dessas glândulas9 em pacientes que recebem RT pode ser uma oportunidade para melhorar sua qualidade de vida.

A nova descoberta, disse o Dr. Wouter Vogel, oncologista de radiação do Instituto do Câncer17 da Holanda e autor do estudo, pode ajudar a explicar por que as pessoas que se submetem à radioterapia11 para câncer17 de cabeça1 ou pescoço24 muitas vezes acabam com boca27 seca crônica e problemas de deglutição23. Como essas glândulas9 obscuras não eram conhecidas pelos médicos, "ninguém jamais tentou poupá-las" de tais tratamentos, disse Vogel.

Veja também sobre "PET Scan" e "Câncer17 de cabeça1 e pescoço24".

 

Fontes:
Radiotherapy and Oncology, publicação em 23 de setembro de 2020.
The New York Times, notícia publicada em 19 de outubro de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2020. As glândulas salivares tubárias: um novo órgão potencial em risco para radioterapia. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1381293/as-glandulas-salivares-tubarias-um-novo-orgao-potencial-em-risco-para-radioterapia.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.

Complementos

1 Cabeça:
2 Glândulas salivares: As glândulas salivares localizam-se no interior e em torno da cavidade bucal tendo como objetivo principal a produção e a secreção da saliva. São elas: parótidas, submandibulares, sublinguais e várias glândulas salivares menores.
3 Cavidade Nasal: Porção proximal da passagem respiratória em cada lado do septo nasal, revestida por uma mucosa ciliada extendendo-se das narinas até a faringe.
4 Garganta: Tubo fibromuscular em forma de funil, que leva os alimentos ao ESÔFAGO e o ar à LARINGE e PULMÕES. Situa-se posteriormente à CAVIDADE NASAL, à CAVIDADE ORAL e à LARINGE, extendendo-se da BASE DO CRÂNIO à borda inferior da CARTILAGEM CRICÓIDE (anteriormente) e à borda inferior da vértebra C6 (posteriormente). É dividida em NASOFARINGE, OROFARINGE e HIPOFARINGE (laringofaringe).
5 Tomografia computadorizada: Exame capaz de obter imagens em tons de cinza de “fatias†de partes do corpo ou de órgãos selecionados, as quais são geradas pelo processamento por um computador de uma sucessão de imagens de raios X de alta resolução em diversos segmentos sucessivos de partes do corpo ou de órgãos.
6 Antígeno: 1. Partícula ou molécula capaz de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substância que, introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpo.
7 Próstata: Glândula que (nos machos) circunda o colo da BEXIGA e da URETRA. Secreta uma substância que liquefaz o sêmem coagulado. Está situada na cavidade pélvica (atrás da parte inferior da SÍNFISE PÚBICA, acima da camada profunda do ligamento triangular) e está assentada sobre o RETO.
8 Glândula: Estrutura do organismo especializada na produção de substâncias que podem ser lançadas na corrente sangüínea (glândulas endócrinas) ou em uma superfície mucosa ou cutânea (glândulas exócrinas). A saliva, o suor, o muco, são exemplos de produtos de glândulas exócrinas. Os hormônios da tireóide, a insulina e os estrógenos são de secreção endócrina.
9 Glândulas: Grupo de células que secreta substâncias. As glândulas endócrinas secretam hormônios e as glândulas exócrinas secretam saliva, enzimas e água.
10 Mucosas: Tipo de membranas, umidificadas por secreções glandulares, que recobrem cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
11 Radioterapia: Método que utiliza diversos tipos de radiação ionizante para tratamento de doenças oncológicas.
12 Xerostomia: Ressecamento da boca provocado em geral pela secreção insuficiente de saliva pelas glândulas salivares. É ocasionado como efeito colateral de algumas drogas (anticolinérgicos) ou por diversos transtornos locais ou gerais.
13 Disfagia: Sensação consciente da passagem dos alimentos através do esôfago. Pode estar associado a doenças motoras, inflamatórias ou tumorais deste órgão.
14 Orelhas: Sistema auditivo e de equilíbrio do corpo. Consiste em três partes
15 Mandíbula: O maior (e o mais forte) osso da FACE; constitui o maxilar inferior, que sustenta os dentes inferiores. Sinônimos: Forame Mandibular; Forame Mentoniano; Sulco Miloióideo; Maxilar Inferior
16 Língua:
17 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
18 Patologista: Estudioso ou especialista em patologia, que é a especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo.
19 Nasofaringe: Nasofaringe ou cavum é a parte superior da faringe, localizada logo atrás do nariz e acima do palato mole. Nesta área, drenam as trompas de Eustáquio, comunicação entre o ouvido médio e a faringe, com a função de ventilar adequadamente as orelhas.
20 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
21 Uretral: Relativo ou pertencente à uretra.
22 Histológicas: Relativo à histologia, ou seja, relativo à disciplina biomédica que estuda a estrutura microscópica, composição e função dos tecidos vivos.
23 Deglutição: Passagem dos alimentos desde a boca até o esôfago; ação ou efeito de deglutir; engolir. É um mecanismo em parte voluntário e em parte automático (reflexo) que envolve a musculatura faríngea e o esfíncter esofágico superior.
24 Pescoço:
25 Drenagem: Saída ou retirada de material líquido (sangue, pus, soro), de forma espontânea ou através de um tubo colocado no interior da cavidade afetada (dreno).
26 Corpo humano: O corpo humano é a substância física ou estrutura total e material de cada homem. Ele divide-se em cabeça, pescoço, tronco e membros. A anatomia humana estuda as grandes estruturas e sistemas do corpo humano.
27 Boca: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
Gostou do artigo? Compartilhe!