Associação do aumento de suicídios juvenis nos Estados Unidos com o lançamento da série 13 Reasons Why
Em 31 de março de 2017, a Netflix lançou a série “13 Reasons Why”, provocando críticas imediatas de organizações de prevenção do suicídio por não seguir as recomendações midiáticas para a representação responsável de suicídio e para o possível contágio1 suicida pela mídia. Até o momento, pouca pesquisa foi conduzida sobre as associações entre a série e o número de suicídios entre o público-alvo jovem.
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Este estudo, publicado pelo periódico JAMA Psychiatry, buscou responder à questão se o lançamento de “13 Reasons Why” se associa com excesso de suicídios nos Estados Unidos, analisando as mudanças nas contagens de suicídio após o lançamento.
A série apresenta cena gráfica da personagem principal, Hannah Baker, cometendo suicídio no episódio final da primeira temporada. Em julho de 2019, após diversos conselhos por parte de especialistas, a Netflix removeu a cena da série.
Para esta análise de séries temporais, os dados mensais de suicídio para as faixas etárias de 10 a 19 anos, 20 a 29 anos e 30 anos ou mais, para homens e mulheres nos EUA, de 1º de janeiro de 1999 a 31 de dezembro de 2017, foram extraídos do banco de dados do Centers for Disease Control and Prevention’s WONDER (ampla gama de dados online para pesquisa epidemiológica).
As postagens no Twitter e no Instagram foram usadas como representantes para estimar a quantidade de atenção recebida pela mídia social de 1º de abril de 2017 a 30 de junho de 2017. Os modelos de séries temporais móveis integrados e autorregressivos foram ajustados para o período pré-abril de 2017 para estimar os suicídios entre as faixas etárias e identificar mudanças nos métodos específicos de suicídio utilizados. Os modelos foram ajustados à série histórica completa com variáveis dummy para (1) abril 2017 e (2) 01 de abril de 2017 até 30 de junho de 2017. Os dados foram analisados em dezembro de 2018 e janeiro de 2019.
Com base em dados de mídia social, o interesse público na série foi maior em abril de 2017 e foi insignificante depois de junho de 2017. Para homens e mulheres entre 10 e 19 anos, os aumentos nos valores observados de abril a junho de 2017 ficaram fora do intervalo de 95% das faixas de confiança das previsões.
Os modelos que testaram a mortalidade2 por suicídio em 3 meses indicaram 66 (IC 95%, 16,3-115,7) suicídios em excesso entre os homens (aumento de 12,4%; IC 95%, 3,1% -21,8%) e 37 (IC 95%, 12,4-61,5) entre as mulheres (aumento de 21,7%; IC 95%, 7,3% -36,2%). Nenhum excesso de mortalidade2 por suicídio foi observado em outras faixas etárias. O aumento no método de suicídio por enforcamento foi particularmente alto (aumento de 26,9%; IC 95%, 15,3% -38,4%).
Nesta análise de séries temporais de dados mensais de suicídio de 1999 a 2017, um aumento imediato de suicídios além da tendência geralmente crescente foi observado entre o público-alvo de indivíduos de 10 a 19 anos nos 3 meses após o lançamento da série “13 Reasons Why”. Modelos específicos de idade e sexo indicaram que a associação com a mortalidade2 por suicídio estava restrita a indivíduos de 10 a 19 anos e aumentos proporcionais foram mais fortes no sexo feminino.
Cuidado deve ser tomado na interpretação desses achados; no entanto, o aumento do suicídio apenas na juventude e o sinal3 de um aumento potencialmente maior em mulheres jovens parecem consistentes com um contágio1 da mídia e parecem reforçar a necessidade de colaboração para melhorar os retratos fictícios do suicídio, buscando uma representação mais segura e mais ponderada.
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Fonte: JAMA Psychiatry, em 29 de maio de 2019.