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Nova vacina contra clamídia mostra-se promissora em ensaio clínico inicial

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Uma vacina1 experimental contra a clamídia (CTH522) induziu anticorpos2 neutralizantes em todos os participantes que a receberam, e sem grandes preocupações de segurança, mostraram os resultados de um ensaio de fase I publicado no The Lancet Infectious Diseases.

Ocorreu uma taxa de soroconversão de 100% com aumento de quatro vezes em todos os grupos que receberam CTH522, uma vacina1 recombinante contendo a principal membrana externa de Chlamydia trachomatis, sem soroconversão em receptores de placebo3, relataram Katrina Pollock, PhD, do Imperial College London, e colegas.

“O presente estudo é o segundo ensaio clínico de uma vacina1 com imunogenicidade contra o tracoma e os sorovares urogenitais da clamídia, e o primeiro a avaliar as respostas imunes oculares de uma vacina1 contra C. trachomatis desde os ensaios de tracoma no século 20”, escreveram eles. Além de um ensaio clínico para uma vacina1 contra a clamídia em 2019, os autores disseram ter encontrado apenas seis referências a ensaios realizados em quatro países entre 1966 e 1979.

No presente estudo, 59 dos 65 participantes foram distribuídos aleatoriamente em cinco grupos da vacina1 intramuscular (grupos A-E, com uma dose de 85 μg para quatro grupos e uma dose de 15 μg para um grupo), juntamente com um dos dois adjuvantes lipossomais (CAF01 ou CAF09). Seis participantes receberam apenas placebo3 (grupo F). Os seis grupos foram divididos em 12 e designados para uma das três abordagens de reforço (intramuscular com adjuvante lipossomal, intradérmica sem adjuvante e ocular tópica sem adjuvante) ou placebo3 nos dias 28, 112 e 140.

Leia sobre "Doenças sexualmente transmissíveis", "Tracoma" e "Uretrites gonocócicas e não gonocócicas".

As descobertas deste ensaio são “convincentes”, disse Wilhelmina Huston, PhD, da Universidade de Tecnologia de Sydney, em um comentário sobre o estudo. “É amplamente acordado que uma vacina1 contra a clamídia é uma medida essencial de controle de saúde4 pública, tanto para infecções5 sexualmente transmissíveis como para infecções5 oculares”.

“É promissor ver que a IgA ocular contra o antígeno6 da vacina1 foi significativamente aumentada pela vacinação ocular tópica ou regimes de reforço, particularmente no grupo que recebeu dois reforços oculares tópicos após a dose intramuscular inicial”, embora os anticorpos2 oculares não tenham diferido com base nas doses, observou Huston.

No artigo, os pesquisadores relatam que não existe vacina1 contra o principal patógeno global, Chlamydia trachomatis; seus diferentes sorovares causam tracoma no olho7 ou clamídia no trato genital. Foi feito um ensaio clínico administrando CTH522, uma versão recombinante da molécula da principal membrana externa de C. trachomatis, em diferentes concentrações de dose com e sem adjuvante, para estabelecer sua segurança e imunogenicidade quando administrada por via intramuscular, intradérmica e tópica no olho7, em regimes prime-boost.

O CHLM-02 foi um ensaio de fase 1, duplo-cego, randomizado8 e controlado por placebo3 no National Institute for Health Research Imperial Clinical Research Facility, Londres, Reino Unido. Os participantes eram homens saudáveis e mulheres não grávidas com idades entre 18 e 45 anos, sem infecção9 genital preexistente por C trachomatis.

Os participantes foram divididos em seis grupos pelo banco de dados eletrônico em uma lista de randomização pré-preparada (A – F). Os participantes foram designados aleatoriamente (1:1:1:1:1) para cada um dos grupos A – E (12 participantes cada) e 6 foram designados aleatoriamente para o grupo F. Os pesquisadores foram mascarados quanto à alocação do tratamento. Os grupos A – E receberam medicamento experimental e o grupo F recebeu apenas placebo3. Dois adjuvantes lipossomais foram comparados, CAF01 e CAF09b.

Os grupos receberam:

  • 85 μg de CTH522-CAF01 por via intramuscular ou placebo3 no dia 0 e dois reforços ou placebo3 nos dias 28 e 112, e um recall de mucosa10 com placebo3 ou CTH522 tópica ocularmente no dia 140 (A);
  • 85 μg de CTH522-CAF01 por via intramuscular, dois reforços nos dias 28 e 112 com administração ocular tópica adicional de CTH522 e um recall de mucosa10 com placebo3 ou CTH522 tópica ocularmente no dia 140 (B);
  • 85 μg de CTH522-CAF01 por via intramuscular, dois reforços nos dias 28 e 112 com administração intradérmica adicional de CTH522 e um recall de mucosa10 com placebo3 ou CTH522 tópica ocularmente no dia 140 (C);
  • 15 μg de CTH522-CAF01 por via intramuscular, dois reforços nos dias 28 e 112, e um recall de mucosa10 com placebo3 ou CTH522 tópica ocularmente no dia 140 (D);
  • 85 μg de CTH522-CAF09b por via intramuscular, dois reforços nos dias 28 e 112, e um recall de mucosa10 com placebo3 ou CTH522 tópica ocularmente no dia 140 (E);
  • placebo3 intramuscular (F).

O desfecho primário foi segurança; o resultado secundário (imunogenicidade humoral11) foi a porcentagem de participantes no ensaio que alcançaram soroconversão de IgG anti-CTH522, definida como um aumento de quatro e dez vezes em relação às concentrações basais. As análises foram feitas conforme intenção de tratar e conforme protocolo.

Entre 17 de fevereiro de 2020 e 22 de fevereiro de 2022, dos 154 participantes selecionados, 65 foram designados aleatoriamente e 60 completaram o estudo (34 [52%] de 65 mulheres, 46 [71%] de 65 brancos, idade média de 26,8 anos).

Não ocorreram eventos adversos graves, mas um participante do grupo A2 interrompeu a administração após apresentar eventos adversos autolimitados após doses de placebo3 e do medicamento experimental.

Os procedimentos do estudo foram de outra forma bem tolerados; a maioria dos eventos adversos foram leves a moderados, com apenas sete (1%) dos 865 relatados como grau 3 (grave).

Houve uma taxa de soroconversão de 100% com aumento de quatro vezes no dia 42 nos grupos ativos (A – E) e nenhuma soroconversão no grupo placebo3. Os títulos séricos de IgG anti-CTH522 foram maiores após 85 μg de CTH522-CAF01 do que 15 μg, embora não significativamente (razão de título de IgG mediana por intenção de tratar grupos A – C: D = 5,6; p = 0,062), com nenhuma diferença após três injeções de 85 μg de CTH522-CAF01 em comparação com CTH522-CAF09b (grupo E). A CTH522 intradérmica (grupo C) induziu títulos elevados de anticorpos2 neutralizantes IgG anti-CTH522 séricos contra os sorovares B (tracoma) e D (urogenital12).

CTH522 ocular tópica (grupo B) nos dias 28 e 112 induziu maior IgA ocular total em comparação com o valor basal (p <0,001).

Os participantes de todos os grupos de vacinas ativas, particularmente dos grupos B e E, desenvolveram respostas imunológicas mediadas por células13 contra a CTH522.

O estudo concluiu que a CTH522, com adjuvante de CAF01 ou CAF09b, é segura e imunogênica, com 85 μg de CTH522-CAF01 induzindo títulos robustos de ligação de IgG séricos. A vacinação intradérmica conferiu amplitude de neutralização sistêmica de IgG e a administração ocular tópica aumentou a formação de IgA ocular.

Estas descobertas indicam regimes da vacina1 CTH522 contra tracoma ocular e clamídia urogenital12 para testes em ensaios clínicos14 de fase 2.

Veja também sobre "Vacinas - como funcionam e quais os prós e contras" e "Antígenos15 e anticorpos2 - o que são".

 

Fontes:
The Lancet Infectious Diseases, publicação em 11 de abril de 2024.
MedPage Today, notícia publicada em 16 de abril de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Nova vacina contra clamídia mostra-se promissora em ensaio clínico inicial. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/pharma-news/1469317/nova-vacina-contra-clamidia-mostra-se-promissora-em-ensaio-clinico-inicial.htm>. Acesso em: 20 mai. 2024.

Complementos

1 Vacina: Tratamento à base de bactérias, vírus vivos atenuados ou seus produtos celulares, que têm o objetivo de produzir uma imunização ativa no organismo para uma determinada infecção.
2 Anticorpos: Proteínas produzidas pelo organismo para se proteger de substâncias estranhas como bactérias ou vírus. As pessoas que têm diabetes tipo 1 produzem anticorpos que destroem as células beta produtoras de insulina do próprio organismo.
3 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
4 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
5 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
6 Antígeno: 1. Partícula ou molécula capaz de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substância que, introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpo.
7 Olho: s. m. (fr. oeil; ing. eye). Órgão da visão, constituído pelo globo ocular (V. este termo) e pelos diversos meios que este encerra. Está situado na órbita e ligado ao cérebro pelo nervo óptico. V. ocular, oftalm-. Sinônimos: Olhos
8 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
9 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
10 Mucosa: Tipo de membrana, umidificada por secreções glandulares, que recobre cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
11 Humoral: 1. Relativo a humor. 2. Em fisiologia, relativo a ou próprio do conjunto de líquidos do organismo (sangue, linfa, líquido cefalorraquidiano).
12 Urogenital: Na anatomia geral, é a região relativa aos órgãos genitais e urinários; geniturinário.
13 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
14 Ensaios clínicos: Há três fases diferentes em um ensaio clínico. A Fase 1 é o primeiro teste de um tratamento em seres humanos para determinar se ele é seguro. A Fase 2 concentra-se em saber se um tratamento é eficaz. E a Fase 3 é o teste final antes da aprovação para determinar se o tratamento tem vantagens sobre os tratamentos padrões disponíveis.
15 Antígenos: 1. Partículas ou moléculas capazes de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substâncias que, introduzidas no organismo, provocam a formação de anticorpo.
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