The Lancet: será que a felicidade afeta diretamente a mortalidade?
Saúde1 precária pode causar infelicidade e aumento da mortalidade2. Relatórios anteriores indicando redução da mortalidade2 associada à felicidade podem ser devidos ao aumento da mortalidade2 de pessoas que são infelizes por causa de sua saúde1 precária. Além disso, a infelicidade pode estar associada a fatores de estilo de vida que afetam a mortalidade2. O objetivo do UK Million Women Study foi verificar se, depois de levar em consideração a má saúde1 e o estilo de vida de pessoas que são infelizes, persiste qualquer evidência sólida de que a felicidade ou medidas subjetivas de bem-estar relacionam-se diretamente com a redução da mortalidade2.
O estudo prospectivo3 com mulheres do Reino Unido, recrutadas entre 1996 e 2001 e acompanhadas eletronicamente por causa específica de mortalidade2, fez um questionário de autoavaliação das mulheres sobre sua saúde1, felicidade, stress, sentimentos de controle e grau de relaxamento. As principais análises foram sobre mortalidade2 antes de 1º de janeiro de 2012, por todas as causas, por doença isquêmica do coração4 e por câncer5 em mulheres que não tinham doença cardíaca, acidente vascular cerebral6, doença pulmonar obstrutiva crônica ou câncer5 no momento em que responderam o questionário de base. Foi utilizada a regressão de Cox, ajustada para fatores de autoavaliação de saúde1 e de estilo de vida no início do estudo, para calcular índices de mortalidade2, comparando a mortalidade2 em mulheres que relataram infelicidade (ou seja, feliz às vezes, raramente ou nunca) com aquelas que relataram ser felizes a maior parte do tempo.
De 719.671 mulheres nas principais análises (idade média de 59 anos), 39% relataram estar feliz a maior parte do tempo, 44% geralmente felizes e 17% infelizes. Durante 10 anos de acompanhamento, 4% das participantes morreram. A autoavaliação mostrando ter uma saúde1 precária no início do estudo foi fortemente associada à infelicidade. Mas após o ajuste para a autopercepção de saúde1, o tratamento para hipertensão7, diabetes8, asma9, artrite10, depressão ou ansiedade e vários fatores sociodemográficos e de estilo de vida (incluindo o tabagismo, carência e índice de massa corporal11), a infelicidade não foi associada à mortalidade2 por todas as causas, por doença isquêmica do coração4 ou por câncer5. As observações realizadas foram igualmente nulas para medidas relacionadas, tais como estresse ou falta de controle.
Os dados deste estudo mostram que, em mulheres de meia-idade, a saúde1 precária pode causar infelicidade. Mas que a felicidade e as medidas complementares de bem-estar não parecem ter qualquer efeito direto sobre a mortalidade2.
Fonte: The Lancet, volume 387, número 10021, de 27 de fevereiro de 2016