O que há de novo em ginecologia e obstetrícia: confira os principais avanços divulgados nos últimos meses
Os últimos meses, em especial o período de setembro a outubro de 2025, têm sido marcados por mudanças importantes na ginecologia e obstetrícia, com novas diretrizes internacionais para hemorragia1 pós-parto, atualizações no rastreamento de câncer2 cervical, revisão de recomendações para diabetes gestacional3, além de dados recentes sobre prevenção de pré-eclâmpsia4 e redução da mortalidade5 materna em escala global. Diversas organizações de saúde6 publicaram documentos que tendem a impactar diretamente a prática clínica na saúde6 da mulher.
Paralelamente, surgem novos tratamentos e tecnologias que ampliam as opções terapêuticas: um antagonista7 duplo de receptores de neurocinina aprovado para sintomas8 vasomotores da menopausa9, estratégias inovadoras de imunoterapia, liberação dirigida de fármacos no câncer2 de ovário10 e abordagens mais personalizadas para miomas uterinos, além do uso crescente de inteligência artificial em diagnóstico11 por imagem e triagem de neoplasias12 ginecológicas.
Esses avanços reforçam um movimento em direção a cuidados cada vez mais baseados em evidências e centrados na paciente.
Confira a seguir os principais destaques em ginecologia dos últimos meses.
- Novas diretrizes para hemorragia1 pós-parto
- Aprovação de novo medicamento para sintomas8 vasomotores da menopausa9
- Avanços em inteligência artificial na ginecologia
- Novas diretrizes de rastreamento de câncer2 cervical
- Imunoterapia para câncer2 de ovário10
- Prevenção da pré-eclâmpsia4
- Novas diretrizes para diabetes gestacional3
- Tratamento de miomas uterinos
- Redução da mortalidade5 materna
Novas diretrizes para hemorragia1 pós-parto
Em 5 de outubro de 2025, a Organização Mundial da Saúde6 (OMS), em colaboração com a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) e a Confederação Internacional de Parteiras (ICM), lançou as Diretrizes Consolidadas para Prevenção, Diagnóstico11 e Tratamento da Hemorragia1 Pós-Parto (HPP)[1]. Esta é a primeira vez que essas três organizações líderes globais desenvolveram conjuntamente um único guia abrangente sobre HPP, que continua sendo a principal causa de morte materna globalmente, responsável por quase 45.000 mortes anualmente.
As diretrizes contêm 51 recomendações baseadas em evidências, das quais 20 são novas ou atualizadas. Entre as mudanças mais significativas está a nova definição diagnóstica: a HPP clinicamente significativa agora é definida como perda sanguínea de 300 mL ou mais com sinais13 de baixo volume sanguíneo (como pressão arterial14 baixa ou pulso rápido), ou 500 mL de perda sanguínea, o que vier primeiro. Essa mudança permite que os profissionais de saúde6 detectem e ajam mais precocemente.
As diretrizes recomendam o conjunto de ações “MOTIVE” para tratamento rápido de HPP, que inclui massagem uterina, oxitocina15, ácido tranexâmico para reduzir o sangramento, fluidos intravenosos, exame vaginal e do trato genital e intensificação do tratamento caso o sangramento persista. A publicação foi lançada durante o Congresso Mundial da FIGO na Cidade do Cabo, África do Sul, marcando também o primeiro Dia Mundial da Hemorragia1 Pós-Parto.
Aprovação de novo medicamento para sintomas8 vasomotores da menopausa9
Em outubro de 2025, a FDA aprovou o elinzanetant (Lynkuet)[2] para o tratamento de sintomas8 vasomotores moderados a severos devido à menopausa9. Este é o primeiro antagonista7 duplo dos receptores de neurocinina-1 (NK1) e neurocinina-3 (NK3) a receber aprovação. A decisão foi baseada em dados robustos do programa de ensaios de fase 3 OASIS, que demonstrou uma redução de 73,8% na frequência de sintomas8 vasomotores em 12 semanas e alívio sustentado dos sintomas8 por 52 semanas.
O elinzanetant também melhorou a qualidade do sono e as pontuações de qualidade de vida específicas da menopausa9. Sem efeitos adversos relatados sobre peso ou função sexual, o elinzanetant oferece uma alternativa de tratamento não hormonal para mulheres na pós-menopausa9, incluindo aquelas que não podem usar terapias baseadas em estrogênio.
Leia sobre "Menopausa9 precoce e menopausa9 tardia", "Trabalho de parto - como é" e "Hemorragia1 pós-parto".
Avanços em inteligência artificial na ginecologia
A inteligência artificial (IA) está transformando rapidamente o cenário da ginecologia e obstetrícia em 2025, oferecendo capacidades sem precedentes em diagnósticos, monitoramento e tratamento personalizado.
Em um estudo publicado no International Journal of Gynecology & Obstetrics[3], a IA demonstrou melhorias notáveis na detecção precoce de cânceres ginecológicos, alcançando até 95% de precisão no rastreamento de câncer2 cervical através da análise de esfregaços de Papanicolau16 aprimorada por IA e colposcopia17. Para cânceres ovarianos e endometriais, imagens orientadas por IA e detecção de biomarcadores permitiram abordagens de tratamento mais personalizadas. Ferramentas de IA também melhoraram a precisão em cirurgia assistida por robô e radioterapia18, e a histopatologia19 baseada em IA reduziu a variabilidade diagnóstica.
Um estudo multicêntrico publicado na Nature Medicine[4], envolvendo 17.119 imagens de ultrassom transvaginal de 3.652 pacientes em oito países, treinou redes neurais baseadas em transformadores para distinguir lesões20 ovarianas benignas de malignas, superando significativamente tanto clínicos especialistas quanto novatos em sensibilidade, especificidade e precisão geral.
Novas diretrizes de rastreamento de câncer2 cervical
Em 2025, as diretrizes europeias sobre rastreamento de câncer2 cervical[5] foram atualizadas, recomendando fortemente o uso de testes de detecção de HPV para rastreamento primário em populações assintomáticas, com colo do útero21, com idade de 30 a 50 anos, no contexto de um programa de rastreamento populacional organizado. Os testes de detecção de HPV são considerados mais eficazes na prevenção do câncer2 cervical do que a citologia isolada ou testes combinados.
Um estudo publicado em 2025 no JAMA Network Open[6] modelou que, com um cenário ideal de 70% de cobertura de rastreamento e 90% de vacinação a partir de 2030, um adicional de 12% dos casos e 7% das mortes poderiam ser prevenidos. O teste de HPV de alto risco a cada 2 ou 3 anos poderia levar à eliminação mais precoce do câncer2 cervical até 2034.
Imunoterapia para câncer2 de ovário10
Em estudo publicado na revista Nature Materials[7], pesquisadores do MIT desenvolveram novas nanopartículas que podem fornecer uma molécula estimuladora imunológica chamada IL-12 diretamente aos tumores ovarianos. Quando administrada juntamente com inibidores de checkpoint imunológico, a IL-12 ajuda o sistema imunológico22 a lançar um ataque às células23 cancerosas. Estudando um modelo murino de câncer2 de ovário10, os pesquisadores mostraram que este tratamento combinado poderia eliminar tumores metastáticos em mais de 80% dos camundongos.
Já em um estudo publicado na revista científica Med[8], pesquisadores da UCLA também desenvolveram um novo tipo de imunoterapia chamada terapia com células23 CAR-NKT que, em amostras de tumores derivadas de pacientes, mostrou-se mais eficaz no combate ao câncer2 de ovário10 do que a terapia convencional24 com células23 CAR-T. Ao contrário das imunoterapias celulares atuais que requerem fabricação específica para o paciente e podem custar centenas de milhares de dólares, as células23 CAR-NKT podem ser produzidas prontas para uso, reduzindo os custos para aproximadamente $5.000 por dose.
Prevenção da pré-eclâmpsia4
Uma revisão abrangente, publicada em 2025 no jornal Frontiers in Cell and Developmental Biology[9], examinou as estratégias de prevenção secundária da pré-eclâmpsia4. Aspirina em baixa dose demonstrou ser benéfica em reduzir a ocorrência de pré-eclâmpsia4 de início precoce, especialmente quando iniciada antes de 16 semanas de gravidez25. A suplementação26 de cálcio é vantajosa para mulheres com baixa ingestão dietética de cálcio, reduzindo a ativação endotelial e a hipertensão27.
Outras terapias promissoras em estudo incluem estatinas (especialmente pravastatina), que mostraram resultados positivos em reduzir a pré-eclâmpsia4 pré-termo e melhorar os resultados para mãe e bebê; metformina28, particularmente em mulheres com obesidade29 mórbida; e doadores de óxido nítrico e L-arginina, que demonstraram reduzir efetivamente a resistência vascular30 e melhorar o fluxo sanguíneo para a placenta.
Veja também sobre "Câncer2 do colo do útero21", "Câncer2 de ovário10" e "Diferenças entre pré-eclâmpsia4 e eclâmpsia31".
Novas diretrizes para diabetes gestacional3
Em junho de 2025, a Sociedade Australasiana de Diabetes32 na Gravidez25 (ADIPS) publicou novas Recomendações de Consenso de 2025 para rastreamento, diagnóstico11 e classificação do diabetes gestacional3[10]. As recomendações atualizadas aumentam os limiares diagnósticos de glicose33 para diabetes mellitus34 gestacional e esclarecem abordagens para rastreamento precoce na gravidez25 para mulheres com fatores de risco para hiperglicemia35 na gravidez25.
As principais recomendações incluem que mulheres com fatores de risco para hiperglicemia35 na gravidez25 devem ter hemoglobina glicada36 (HbA1c37) medida no primeiro trimestre, e mulheres com histórico prévio de diabetes gestacional3 ou HbA1c37 de primeiro trimestre de 6,0 a 6,4%, mas sem diabetes32 diagnosticado, devem realizar um teste oral de tolerância à glicose33 na gravidez25 (TOTGG) antes de 20 semanas de gestação. Todas as mulheres grávidas (sem diabetes32 já detectada na gravidez25 atual) devem realizar um TOTGG entre 24 e 28 semanas de gestação.
Tratamento de miomas uterinos
Uma revisão publicada em julho de 2025 no The Lancet[11] ofereceu uma avaliação dos tratamentos atuais para miomas uterinos sintomáticos, incluindo embolização38 da artéria39 uterina, ultrassom focalizado de alta intensidade guiado por ressonância magnética40, ablação41 por radiofrequência laparoscópica, ablação41 por radiofrequência transcervical42, acetato de ulipristal e antagonistas orais do hormônio43 liberador de gonadotrofina com terapia de adição hormonal (add-back therapy).
Ao inserir essas terapias na estrutura IDEAL (Ideia, Desenvolvimento, Exploração, Avaliação e Acompanhamento a Longo Prazo) e na estrutura das fases clínicas do desenvolvimento de medicamentos, a revisão destacou lacunas importantes nas evidências, como a falta de comparações diretas com o tratamento padrão, a escassez de dados de longo prazo e a consideração inadequada das características reais dos miomas e das pacientes.
Pesquisas genéticas em 2025[12] também estão revolucionando os tratamentos de miomas uterinos, com novas descobertas genéticas moldando como entendemos e tratamos os miomas, abrindo caminho para opções mais personalizadas e minimamente invasivas.
Redução da mortalidade5 materna
Um estudo histórico publicado em The Lancet Global Health em novembro de 2025[13] forneceu evidências claras de que o declínio global nas mortes maternas nas últimas duas décadas foi impulsionado por melhorias tanto no planejamento familiar quanto nos cuidados de maternidade. Os pesquisadores constataram que 61,2% do declínio na mortalidade5 materna é atribuível a melhorias nos cuidados de maternidade, enquanto 38,8% decorre da redução da fertilidade.
Importante, o aumento do uso de contraceptivos por si só evitou cerca de 77.400 mortes maternas em 2023, ressaltando o papel vital do planejamento familiar ao lado dos cuidados clínicos de qualidade.
Especificamente nas Américas, um relatório das Nações Unidas[14] destaca que entre 2020 e 2023 a mortalidade5 materna diminuiu 19%, traduzindo-se em cinco mortes maternas a menos por dia na região.
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Referências
[1] Consolidated guidelines for the prevention, diagnosis and treatment of postpartum haemorrhage, disponível em WHO.
[2] Bayer’s Lynkuet® (elinzanetant), the First and Only Neurokinin 1 and Neurokinin 3 Receptor Antagonist, Receives FDA Approval for Moderate to Severe Hot Flashes Due to Menopause, disponível em Bayer.
[3] Artificial intelligence in the diagnosis and management of gynecologic cancer2, disponível em International Journal of Gynecology & Obstetrics.
[4] International multicenter validation of AI-driven ultrasound detection of ovarian cancer2, disponível em Nature Medicine.
[5] European guidelines on cervical cancer2 screening and diagnosis, disponível em European Commission.
[6] Cervical Cancer2 Screening, HPV Vaccination, and Cervical Cancer2 Elimination, disponível em JAMA Network Open.
[7] IL-12-releasing nanoparticles for effective immunotherapy of metastatic ovarian cancer2, disponível em Nature Materials.
[8] Overcoming ovarian cancer2 resistance and evasion to CAR-T cell therapy by harnessing allogeneic CAR-NKT cells, disponível em Med.
[9] Secondary prevention of preeclampsia, disponível em Frontiers in Cell and Developmental Biology.
[10] Australasian Diabetes32 in Pregnancy Society (ADIPS) 2025 consensus recommendations for the screening, diagnosis and classification of gestational diabetes32, disponível em The Medical Journal of Australia.
[11] Current treatment for symptomatic uterine fibroids: available evidence and therapeutic dilemmas, disponível em The Lancet.
[12] Genome-wide meta-analysis identifies novel risk loci for uterine fibroids within and across multiple ancestry groups, disponível em Nature Communications.
[13] Effect of maternity care improvement, fertility decline, and contraceptive use on global maternal mortality reduction between 2000 and 2023: results from a decomposition analysis, disponível em The Lancet Global Health.
[14] Trends in maternal mortality estimates 2000 to 2023, disponível em PAHO.








