Pesquisadores estão um passo mais perto de reverter o processo destrutivo de envelhecimento dos óvulos
Em grande parte do mundo, um número cada vez maior de mulheres está adiando o nascimento do primeiro filho até os trinta e tantos anos, ou mesmo os quarenta. Nessa idade, seus óvulos estão se deteriorando rapidamente e, mesmo com a fertilização1 in vitro, suas perspectivas de concepção2 estão longe de ser garantidas.
Reverter essa deterioração é o objetivo final do biólogo molecular Dr. Michael Klutstein, da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel. Essa possibilidade agora está mais próxima com pesquisas recentes de seu laboratório, em que eles e seus colegas descobriram como esse mecanismo que envelhece os óvulos funciona e conseguiram revertê-lo com um antiviral inicialmente criado para o tratamento da AIDS, a Zidovudina ou AZT. As descobertas foram publicadas no periódico científico Aging Cell.
No experimento com o uso do antiviral, os pesquisadores conseguiram recuperar gametas3 envelhecidos e elevar sua maturação em até 28,6%.
Leia sobre "Conceitos ligados à reprodução4 humana", "Fertilização1 in vitro: como é o procedimento" e "Como é uma gravidez5 tardia".
Nos humanos, os óvulos começam a acumular danos ao seu material genético quando a mulher é relativamente jovem. Muitas vezes, quando ela chega aos trinta e poucos anos, seus óvulos acumulam tantos danos ao DNA que são incapazes de amadurecer e ser fertilizados. A equipe do Dr. Klutstein identificou com sucesso um dos processos de envelhecimento que impedem a maturação bem-sucedida de um óvulo6. O mais importante entre eles é a perda dos processos de regulação que normalmente impedem que as partes prejudiciais do DNA se tornem ativas.
No artigo, intitulado “Perda de heterocromatina e silenciamento de retrotransposão como determinantes no envelhecimento oocitário”, os pesquisadores investigaram sobre a diminuição da qualidade dos oócitos de mamíferos com a idade.
Eles mostraram que antes da ocorrência de aneuploidia7 significativa (9M em camundongo), as marcas de histonas de heterocromatina são perdidas e a maturação do oócito8 é prejudicada. Essa perda ocorre tanto em marcas de heterocromatina constitutivas quanto facultativas, mas não em marcas ativas eucromáticas. Mostrou-se que a perda de heterocromatina com a idade também ocorre em oócitos humanos presos em prófase I.
Além disso, a perda de heterocromatina é acompanhada em oócitos de camundongos por um aumento no processamento de RNA e associada a uma elevação na expressão de retrotransposões9 de L1 e IAP e na localização nuclear de danos no DNA e proteínas10 de reparo do DNA.
A inibição artificial da maquinaria da heterocromatina em oócitos jovens causa uma elevação na expressão do retrotransposão e defeitos na maturação do oócito8. A inibição da transcriptase reversa do retrotransposão através do tratamento com azidotimidina (AZT) em oócitos mais velhos resgata parcialmente seus defeitos de maturação e a atividade da maquinaria de reparo do DNA.
Além disso, a ativação da maquinaria da heterocromatina por meio do tratamento com a molécula ativadora de SIRT1 SRT-1720, ou a superexpressão de Sirt1 ou Ezh2 via eletroporação de plasmídeo em oócitos mais velhos causa uma regulação positiva da heterocromatina constitutiva, regulação negativa da expressão de retrotransposão e taxas de maturação elevadas.
Coletivamente, esse trabalho demonstra um processo significativo no envelhecimento do oócito8, caracterizado pela perda das marcas de cromatina11 associadas à heterocromatina e ativação de retrotransposões9 específicos, que causam danos ao DNA e prejudicam a maturação do oócito8.
Veja também sobre "Reprodução4 assistida", "Infertilidade12 feminina" e "Indutores da ovulação13".
Fontes:
Aging Cell, publicação em 15 de fevereiro de 2022.
News Medical, notícia publicada em 08 de março de 2022.