Formigas podem ser vetores de micobactérias, aponta estudo divulgado pela Fiocruz
No Centro de Referência Professor Hélio Fraga da Escola Nacional de Saúde1 Pública Sérgio Arouca (ENSP) ocorreu a sessão científica “Avaliação de formigas como vetor mecânico de micobactérias em hospital especializado no atendimento de doentes de tuberculose”. Um dos trabalhos apresentados confirmou a presença de micobactérias veiculadas por formigas no ambiente hospitalar, representando potencial vetor mecânico destas para pacientes2 e profissionais de saúde1.
Segundo Ana Paula Macedo Ruggiero Couceiro, doutora em Saúde1 Pública pela Faculdade de Saúde1 Pública da USP, a urbanização desencadeia a disseminação de artrópodes e, consequentemente, de doenças veiculadas por eles. As formigas são muito adaptáveis e se beneficiam com a convivência humana. Nos hospitais, elas podem ser vetores mecânicos de inúmeras bactérias, e a diversidade de espécies encontradas nestes ambientes causam preocupação pelo risco potencial à saúde1 pública.
Algumas espécies de formigas são atraídas por instrumentos cirúrgicos e material hospitalar estéril. As formigas são prováveis vetores de microrganismos patogênicos e resistentes a antibióticos. As infecções3 hospitalares podem ser atribuídas à presença de formigas.
Os objetivos do presente estudo foram verificar a presença e determinar as espécies de formigas encontradas em um específico ambiente hospitalar; verificar a contaminação de formigas com espécies de micobactérias, coletadas em hospital especializado em tratamento de tuberculose4 e identificar as espécies de micobactérias isoladas a partir de formigas através de métodos de biologia molecular.
Para realizar esse estudo foram realizadas seis coletas de formigas em diferentes áreas do hospital, no período de 2009 a 2010 (203 coletas no verão e 44 no inverno), semeadas em meios de cultura Löwenstein-Jensen e Stonebrink para isolamento de micobactérias. As culturas sugestivas foram submetidas à coloração de Ziehl-Neelsen para bacilos álcool-ácido resistentes, identificação por métodos moleculares PRC para o gênero Mycobacterium, (PRA-hsp65 com o par de primers TB11 e TB12 gênero-específico e sequenciamento genético do DNA). Do total de 247 amostras de formigas coletadas e semeadas, 70% das formigas pertenciam à espécie Tapinoma Melanocephalum, 25% à espécie Dorymyrmex sp, 3% à espécie Camponotus sp e 2% à espécie Pheidole sp, dados similares com as pesquisas realizadas em hospitais.
Quinze amostras apresentaram bacilos álcool-ácido resistentes de crescimento rápido. Nos métodos moleculares, 12 pertenciam ao gênero Mycobacterium. No PRA-hsp 65, e no sequenciamento genético do DNA, quatro amostras foram identificadas quanto à espécie (duas Mycobacterium chelonae, uma Mycobacterium parafortuitum e uma Mycobacterium murale), quatro micobactérias com resultados idênticos no PRA e não identificadas no sequenciamento e sugestivas de uma nova espécie, e duas amostras não identificadas. Mycobacterium chelonae isolada nesta pesquisa foi previamente descrita como agente causador de abscessos5 em humanos.
Os resultados do estudo confirmaram a presença de micobactérias veiculadas por formigas no ambiente hospitalar, representando potencial vetor mecânico destas para pacientes2 e profissionais de saúde1, principalmente em infecções3 hospitalares.
Fontes: