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Pediatria em números: onde os esforços realmente valem ser colocados?

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A atenção médica primária envolve relacionamentos. Com o passar do tempo, essas conexões evoluem para confiança mútua entre pais e pediatras. O objetivo e a alegria da Pediatria é ver essas relações individuais florescerem ao longo da vida da criança, enquanto observa-se o processo parental de criar um filho para ser um adulto feliz, saudável e bem-sucedido. Esses especialistas encorajam e promovem o processo, compartilhando pequenos conselhos apropriados ao desenvolvimento infantil. É uma orientação antecipada, entregue a uma família de cada vez.

Mas vale fazer uma pergunta: "Quando se trata de orientação antecipatória pediátrica, qual é o esforço que vale o investimento? Qual é a relação entre o que é pedido e o que realmente prejudica ou mata crianças? Os pediatras estão fazendo as perguntas certas? E estão recebendo respostas válidas?" Um questionário feito com pediatras americanos, em reportagem publicada pelo Medscape, com a participação do Dr. L. Gregory Lawton, pediatra do CHOP Primary Care, HighPoint in Chalfont, nos dá uma boa orientação sobre esta situação:

O questionário foi basicamente o seguinte:

Nós sabemos mesmo quais são as principais causas de mortalidade infantil1?

Excluindo as condições congênitas2, e apenas entre as condições listadas abaixo, você pode ordenar, do máximo ao mínimo, essas causas anuais de morte em crianças de 1 a 20 anos nos Estados Unidos? *

  • Acidentes com veículos automotores
  • Câncer3
  • Armas de fogo
  • Envenenamentos
  • Overdose de drogas

* Como este questionário referencia crianças com idade superior a um ano, as mortes relacionadas ao sono, incluindo a síndrome4 da morte súbita do lactente5 (SMSL), não foram incluídas.

Saiba mais sobre "Malformações6 fetais" e "Morte súbita do lactente5".

Para onde devemos direcionar nossos esforços?

# 1: Overdoses de drogas. É preciso falar sobre o alcance da epidemia de opiáceos, o principal assassino de crianças nos Estados Unidos. Mais americanos morrem de overdoses de drogas acidentais ou complicações relacionadas a drogas, como infecções7 ou eventos cardiovasculares, do que por armas de fogo ou acidentes com veículos automotores. De fato, o persistente declínio na expectativa de vida8 dos americanos é atribuído ao fato de que a tendência dessas mortes continua a aumentar: quase 55.000 em 2016. Para adolescentes e adultos jovens, entre 15 e 24 anos de idade, o número é 4.825. No total, a epidemia de opiáceos e heroína está tendo um efeito impressionante na vida das famílias, pacientes e pais para os quais prestamos cuidados.

# 2: Acidentes com veículos automotores. De acordo com o Insurance Institute for Highway Safety, mais de 700 crianças menores de 13 anos morreram em um carro em 2016. Mortes em adolescentes (até 20 anos de idade) foram relatadas em 2.000 em 2013. Juntas, são aproximadamente 2.700 crianças que morrem anualmente em um carro. Há uma série de razões para o declínio nesses números em comparação com décadas anteriores, mas há pouca dúvida de que os sistemas de retenção para crianças e o design geral do cinto de segurança (bem como as leis) tiveram um impacto significativo nesse declínio. Isso ajuda a esclarecer a importância dos assentos de carro para crianças. No entanto, ainda é inteligente enfatizar este ponto com adolescentes "rebeldes".

# 3: Câncer3. Este é um risco que provavelmente não podemos mitigar9 com a orientação antecipada na Pediatria. O câncer3, apesar de relativamente raro em crianças (1% dos cânceres diagnosticados anualmente), teve uma estimativa preocupante para 2017 nos Estados Unidos. Cerca de 10.270 novos casos de câncer3 em crianças com idade inferior a 15 anos, sendo que esses índices de câncer3 infantil têm aumentado ligeiramente nas últimas décadas. Este lembrete ressalta a importância do financiamento contínuo de pesquisas sobre cânceres infantis.

# 4: Armas de fogo. Um estudo de junho de 2017 em pediatria concluiu que cerca de 1.300 crianças morrem e 5.790 são tratadas anualmente porque uma bala foi disparada em seu corpo. Estes disparos podem ser acidentais, resultado de suicídio (principalmente entre adolescentes impulsivos, combinado à relativa facilidade de acesso a uma arma de fogo) ou por violência familiar. A Academia Americana de Pediatria tem uma declaração política muito clara sobre segurança de armas de fogo em casa: "uma casa sem uma arma é mais segura do que uma casa com uma arma, mesmo quando a arma está armazenada com segurança". Isso é algo a ser mencionado em uma consulta pediátrica.

# 5: Envenenamentos. A ingestão acidental de medicamentos, produtos químicos ou produtos de limpeza ainda é responsável por um número significativo de lesões10 e mortes infantis. De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos, mais de 700 crianças morrem a cada ano devido a uma ingestão acidental. Sem dúvida, o número de mortes seria muito maior, não fosse pela preocupação de pediatras com orientações sobre o armazenamento seguro de medicamentos e produtos químicos domésticos. Os pediatras falam sobre colocar medicamentos fora do alcance de crianças e instalar dispositivos de segurança em cozinhas e lavanderias para proteger as crianças dos produtos de limpeza. Os resultados mostram que desde 1972 as intoxicações fatais em crianças com menos de 5 anos diminuíram em 87%. A cada ano, milhares de vidas são salvas porque os pais escutam os pediatras de seus filhos e tomam atitudes para impedir esses envenenamentos.

# 6: Síndrome4 da morte súbita do lactente5 (SMSL). Embora não esteja incluído neste questionário, que faz referência a crianças com mais de 1 ano de idade, nenhuma discussão sobre segurança infantil estaria completa sem a inclusão da síndrome4 da morte súbita do lactente5 (SMSL). A campanha "Voltar a Dormir" ou "Back to Sleep" (atualmente conhecida como "Seguro para Dormir" ou "Safe to Sleep") foi lançada em 1994, como resultado de uma pesquisa que mostrou um declínio de mais de 50% na incidência11 de "morte de berço" em bebês12 que foram colocados de costas13 para dormir. No entanto, em janeiro de 2018, o US Centers for Disease Control and Prevention (CDC) informaram que aproximadamente 3.500 mortes infantis relacionadas ao sono ainda ocorrem anualmente nos Estados Unidos. Como um ponto de orientação antecipatória para novos pais, muitas vezes privados de sono, é difícil argumentar com 50%. Mas é particularmente importante à luz de pesquisas recentes, que concluíram que menos da metade dos pais seguem consistentemente os conselhos do "Back to Sleep".

Leia sobre "Acidentes de trânsito", "Câncer3 infantil" e "Envenenamento".

Os principais pontos desta recomendação

  • A maioria das causas que matam uma criança (além do primeiro ano de vida, quando as anomalias congênitas2 causam mais mortes) são evitáveis (lesões10 não intencionais, suicídio, homicídio).
  • Este artigo tem o objetivo de ser um exercício mental para pais e pediatras que devem se perguntar se estão realmente usando com eficiência o tempo de orientação preventiva em uma consulta.
  • Devemos continuar analisando as pesquisas e orientando de acordo com o resultado delas, pois as mortes devidas ao câncer3 e relacionadas à posição do sono de bebês12 diminuíram devido às pesquisas já realizadas.
  • Como defensores das crianças, precisamos continuar a trabalhar dentro e fora dos consultórios a fim de promover uma filosofia de bem-estar infantil. Ler sobre segurança de crianças em veículos e sobre embalagens de medicamentos reduziu o número de mortes de crianças. Aplique essa lógica às leis relacionadas a armas de fogo e quantas vidas a mais podem ser salvas com uma legislação inteligente?
  • Finalmente, pediatras devem ter a confiança de que os pacientes e os pais deles realmente os escutam, que tem credibilidade. E devem usá-la com sabedoria e baseados em evidências científicas confiáveis.

 

Fonte: Medscape Pediatrics, em 4 de junho de 2018

O artigo completo pode ser visto em: Pediatrics by the Numbers: Putting Our Time Where It Works Best

 

NEWS.MED.BR, 2018. Pediatria em números: onde os esforços realmente valem ser colocados?. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/saude/1319943/pediatria-em-numeros-onde-os-esforcos-realmente-valem-ser-colocados.htm>. Acesso em: 19 mar. 2024.

Complementos

1 Mortalidade Infantil: A taxa de mortalidade infantil é o quociente entre os óbitos de menores de um ano ocorridos em uma determinada unidade geográfica e período de tempo, e os nascidos vivos da mesma unidade nesse período, segundo a fórmula: Taxa de Mortalidade Infantil = (Óbitos de Menores de 1 ano / Nascidos Vivos) x 1.000
2 Congênitas: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
3 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
4 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
5 Lactente: Que ou aquele que mama, bebê. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
6 Malformações: 1. Defeito na forma ou na formação; anomalia, aberração, deformação. 2. Em patologia, é vício de conformação de uma parte do corpo, de origem congênita ou hereditária, geralmente curável por cirurgia. Ela é diferente da deformação (que é adquirida) e da monstruosidade (que é incurável).
7 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
8 Expectativa de vida: A expectativa de vida ao nascer é o número de anos que se calcula que um recém-nascido pode viver caso as taxas de mortalidade registradas da população residente, no ano de seu nascimento, permaneçam as mesmas ao longo de sua vida.
9 Mitigar: Tornar mais brando, mais suave, menos intenso (geralmente referindo-se à dor ou ao sofrimento); aliviar, suavizar, aplacar.
10 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
11 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
12 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
13 Costas:
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