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Obefazimod, primeiro medicamento de sua classe, traz alívio na colite ulcerativa

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Um agente experimental que é o primeiro de sua classe ofereceu alívio dos sintomas1 a pacientes com colite2 ulcerativa moderada a grave ativa, de acordo com um estudo randomizado3 de fase 2b publicado no The Lancet Gastroenterology & Hepatology.

Entre mais de 200 pacientes, aqueles que receberam três doses diferentes de obefazimod (ABX464) tiveram uma melhora significativamente maior no escore de Mayo modificado (EMM) - uma medida da atividade da doença, marcada por uma mudança na média dos mínimos quadrados (MMQ) da linha de base em 8 semanas em comparação com placebo4:

  • 25 mg: MMQ -3,1 (IC 95% -3,6 a -2,6)
  • 50 mg: MMQ -3,2 (IC 95% -3,7 a -2,7)
  • 100 mg: MMQ -2,9 (IC 95% -3,4 a -2,5)
  • Placebo4: MMQ -1,9 (IC 95% -2,4 a -1,5)
Saiba mais sobre "Colite2 ulcerativa" e "Retocolite ulcerativa".

Em todas as doses de obefazimod, mais pacientes alcançaram resposta clínica (50-62% com obefazimod vs 34% com placebo4), remissão clínica (18-26% vs 13%) e melhora endoscópica (35-44% vs 14%) em 8 semanas, com resultados semelhantes em 16 semanas.

Durante o período de extensão aberto de 48 semanas usando apenas 50 mg de obefazimod (n = 217), 84% dos pacientes obtiveram resposta clínica nova ou sustentada, enquanto 65% estavam em remissão clínica, 58% tiveram melhora endoscópica e 33% estavam em remissão endoscópica.

As opções de tratamento para colite2 ulcerativa são baseadas no padrão de envolvimento da doença e gravidade da atividade clínica, disseram os pesquisadores. Pacientes com colite2 ulcerativa moderada a grave que não respondem aos ácidos 5-aminossalicílicos (5-ASA) usuais podem necessitar de terapia adicional.

Obefazimod é uma pequena molécula que induz a regulação positiva seletiva do microRNA-124 (miR-124) em células5 imunes, “um modulador da inflamação6 e imunidade7 inata que tem o potencial de fornecer restituição terapêutica8 de vias fisiológicas9 prejudicadas por doenças inflamatórias”, explicaram os autores.

O objetivo do estudo foi avaliar o ABX464 como tratamento para pacientes10 com colite2 ulcerativa ativa moderada a grave.

No ensaio de indução de fase 2b, duplo-cego, randomizado11 e controlado por placebo4, os pacientes foram recrutados em 95 centros (hospitais e centros de saúde12) em 16 países. Os pacientes elegíveis tinham idades entre 18 e 75 anos, com diagnóstico13 de colite2 ulcerativa ativa moderada a grave e um escore de Mayo modificado (EMM) de 5 pontos ou superior, e uma não resposta ou intolerância documentada ao tratamento anterior.

Os pacientes inscritos foram aleatoriamente designados (1:1:1:1) por meio de um sistema interativo de resposta de voz e web para receber uma vez por dia, por via oral, ABX464 100 mg, ABX464 50 mg, ABX464 25 mg ou placebo4 combinado. A randomização foi estratificada de acordo com o local do estudo (EUA vs não-EUA) e se o paciente teve exposição anterior ao tratamento de segunda linha com biológicos ou inibidores de JAK.

O desfecho primário foi a alteração da linha de base no EMM na semana 8. A análise de eficácia primária foi feita no conjunto de análise completo (CAC), definido como todos os pacientes aleatoriamente designados que receberam pelo menos uma dose do tratamento do estudo e tiveram dados de linha de base para pelo menos uma variável de eficácia, e foi analisada de acordo com os princípios da intenção de tratar.

As análises de segurança incluíram pacientes que foram aleatoriamente designados e que receberam pelo menos uma dose do tratamento do estudo. A extensão de rótulo aberto de 96 semanas está em andamento.

Entre 13 de agosto de 2019 e 16 de abril de 2021, 254 pacientes foram alocados aleatoriamente para ABX464 100 mg (n = 64), ABX464 50 mg (n = 63), ABX464 25 mg (n = 63) ou placebo4 (n = 64). Dois pacientes, ambos do grupo ABX464 25 mg, foram excluídos do CAC.

No CAC na semana 8, a alteração da média dos mínimos quadrados (MMQ) da linha de base no EMM foi -2,9 (IC 95% -3,4 a -2,5) para o grupo ABX464 100 mg, -3,2 (-3,7 a -2,7) para o grupo ABX464 50 mg, -3,1 (-3,6 a -2,6) para o grupo ABX464 25 mg e -1,9 (-2,4 a -1,5) para o grupo placebo4; a magnitude da diferença no EMM da linha de base foi significativamente maior em todos os três grupos ABX464 em comparação com placebo4 (p = 0,0039 para ABX464 100 mg vs placebo4, p = 0,0003 para ABX464 50 mg vs placebo4, e p = 0,0010 para ABX464 25 mg vs placebo4).

O evento adverso mais frequentemente relatado foi cefaleia14, que foi relatada por 27 (42%) de 64 pacientes no grupo ABX464 100 mg, 19 (30%) de 63 no grupo 50 mg, 13 (21%) de 62 no grupo 25 mg e cinco (8%) de 64 no grupo placebo4. Cefaleia14 grave (grau 3) foi relatada em três (5%) pacientes no grupo ABX464 100 mg, dois (3%) no grupo ABX464 50 mg, um (2%) no grupo ABX464 25 mg e nenhum no grupo placebo4.

O único evento adverso grave relatado para dois ou mais pacientes em qualquer grupo foi colite2 ulcerativa (um em cada um dos grupos ABX464 100 mg e 50 mg, e três [5%] no grupo placebo4).

O estudo concluiu que todas as doses de ABX464 melhoraram significativamente a colite2 ulcerativa ativa moderada a grave em comparação com placebo4, conforme medido pelas alterações no escore Mayo modificado desde o início até a semana 8. Um programa clínico de fase 3 está em andamento.

Leia também sobre "Síndrome15 do intestino irritável" e "Doença de Crohn16".

 

Fontes:
The Lancet Gastroenterology & Hepatology, publicação em 05 de setembro de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 07 de setembro de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Obefazimod, primeiro medicamento de sua classe, traz alívio na colite ulcerativa. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/novos-medicamentos/1425685/obefazimod-primeiro-medicamento-de-sua-classe-traz-alivio-na-colite-ulcerativa.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
2 Colite: Inflamação da porção terminal do cólon (intestino grosso). Pode ser devido a infecções intestinais (a causa mais freqüente), ou a processos inflamatórios diversos (colite ulcerativa, colite isquêmica, colite por radiação, etc.).
3 Estudo randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle - o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
4 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
5 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
6 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
7 Imunidade: Capacidade que um indivíduo tem de defender-se perante uma agressão bacteriana, viral ou perante qualquer tecido anormal (tumores, enxertos, etc.).
8 Terapêutica: Terapia, tratamento de doentes.
9 Fisiológicas: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
10 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
11 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
12 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
13 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
14 Cefaleia: Sinônimo de dor de cabeça. Este termo engloba todas as dores de cabeça existentes, ou seja, enxaqueca ou migrânea, cefaleia ou dor de cabeça tensional, cefaleia cervicogênica, cefaleia em pontada, cefaleia secundária a sinusite, etc... são tipos dentro do grupo das cefaleias ou dores de cabeça. A cefaleia tipo tensional é a mais comum (acomete 78% da população), seguida da enxaqueca ou migrânea (16% da população).
15 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
16 Doença de Crohn: Doença inflamatória crônica do intestino que acomete geralmente o íleo e o cólon, embora possa afetar qualquer outra parte do intestino. A doença cursa com períodos de remissão sintomática e outros de agravamento. Na maioria dos casos, a doença de Crohn é de intensidade moderada e se torna bem controlada pela medicação, tornando possível uma vida razoavelmente normal para seu portador. A causa da doença de Crohn ainda não é totalmente conhecida. Os sintomas mais comuns são: dor abdominal, diarreia, perda de peso, febre moderada, sensação de distensão abdominal, perda de apetite e de peso.
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