Efeito do fluconazol profilático na candidíase invasiva e na mortalidade de prematuros, um ensaio clínico randomizado
A candidíase1 invasiva em crianças prematuras causa morte e deficiência do desenvolvimento neurológico. A profilaxia com o fluconazol reduz a candidíase1, mas seu efeito sobre a mortalidade2 e a segurança do uso desta medicação nesta faixa etária é desconhecido.
Com o objetivo de avaliar a eficácia e a segurança do fluconazol na prevenção da morte ou da candidíase1 invasiva em crianças com extremo baixo peso ao nascer foi realizado um ensaio clínico randomizado3 publicado pelo The Journal of the American Medical Association.
Este estudo controlado por placebo4 envolveu prematuros com peso inferior a 750 gramas ao nascimento (n = 361) a partir de 32 unidades de terapia intensiva5 neonatal (UTIN) nos Estados Unidos. Eles foram aleatoriamente designados para receber ou fluconazol (6 mg/kg de peso corporal) ou placebo4, duas vezes por semana, durante 42 dias. Os sobreviventes foram avaliados em 18 a 22 meses de idade corrigida para os resultados do desenvolvimento neurológico. O estudo foi realizado entre novembro de 2008 e fevereiro de 2013.
O desfecho primário foi um composto de morte ou candidíase1 invasiva definida ou provável antes do 49° dia do estudo (uma semana após a conclusão do fármaco6 em estudo). Os desfechos secundários e de segurança incluíram candidíase1 invasiva, função hepática7, infecção8 bacteriana, duração da internação, hemorragia9 intracraniana, leucomalácia periventricular, doença pulmonar crônica, persistência do canal arterial10 necessitando de cirurgia, retinopatia da prematuridade requerendo cirurgia, enterocolite necrosante11, perfuração intestinal espontânea e os resultados do desenvolvimento neurológico definidos como uma pontuação de menos de 70 no escore Bayley-III Cognition Composite Score, cegueira, surdez ou paralisia12 cerebral aos 18 a 22 meses de idade corrigida.
Entre as crianças que receberam fluconazol, o desfecho primário composto de morte ou candidíase1 invasiva foi de 16% (IC 95%, 11%-22%) vs 21% no grupo placebo4 (IC 95%, 15%-28%; odds ratio, 0,73 [IC 95%, 0,43-1,23], P=0,24; diferença de tratamento -5% [IC 95%, -13% para 3%]). Candidíase1 invasiva ocorreu com menor frequência no grupo fluconazol (3% [IC 95%, 1% a 6%]) vs o grupo placebo4 (9% [IC 95%, 5%-14%], P=0,02; diferença de tratamento -6 % [IC 95%, -11% e -1%]). As incidências cumulativas de outros desfechos secundários não foram estatisticamente diferentes entre os grupos. O comprometimento do desenvolvimento neurológico não diferiu entre os grupos (31% no grupo fluconazol [IC 95%, 21%-41%] vs 27% no grupo placebo4 [IC 95%, 18%-37%], P=0,60; diferença de tratamento 4% [IC de 95%, -10% a 17%]).
As conclusões mostram que entre os recém-nascidos com peso de nascimento inferior a 750 gramas estudados, 42 dias de profilaxia com fluconazol em comparação com placebo4 não resultou em uma menor incidência13 do composto de morte ou candidíase1 invasiva. Estes resultados não apoiam o uso universal de fluconazol profilático em prematuros de muito baixo peso ao nascer.
Fonte: The Journal of the American Medical Association (JAMA), volume 311, número 17, de 7 de maio de 2014