Ácido fólico e câncer: meta-análise de dados de 50.000 indivíduos mostra que não houve aumento ou diminuição substancial na incidência de câncer, em artigo publicado pelo The Lancet
A fortificação com ácido fólico, instituída em meados da década de 1990 nos EUA e no Canadá, e agora, em mais de 50 países, tem sido altamente eficaz para reduzir a incidência1 de defeitos do tubo neural2 (por exemplo, espinha bífida3 e anencefalia). No entanto, as preocupações persistem sobre a segurança da ingestão excessiva de ácido fólico, especialmente em relação ao câncer4.
Resultados de um artigo sugerem que, em curto prazo, o uso de suplementos de ácido fólico provavelmente não aumenta, nem diminui substancialmente o risco de câncer4 em geral e tem pouco efeito sobre o risco de desenvolver qualquer tipo de câncer4 em locais específicos. Stein Emil Vollset e colaboradores realizaram uma meta-análise de treze ensaios clínicos5 randomizados, avaliando dados de 49.621 indivíduos, que receberam ou um suplemento de ácido fólico (sozinho ou combinado com outras vitaminas B) ou placebo6. Aqueles que tomaram o ácido fólico diariamente, durante cinco anos ou menos, não estavam significativamente mais propensos a desenvolver câncer4 do que aqueles que tomaram placebo6 (7,7% dos casos novos de câncer4 versus 7,3%).
O objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos da suplementação7 de ácido fólico, com doses mais altas do que as usadas para a fortificação de farinhas, sobre as taxas de câncer4 em locais específicos em ensaios clínicos5 randomizados. O principal resultado foi a incidência1 de câncer4 (ignorando câncer4 de pele8 não-melanoma9) durante o período de tratamento previsto (entre os participantes que ainda estavam livres de câncer4).
Durante um tratamento com duração média ponderada prevista de 5,2 anos, o uso de ácido fólico quadruplicou as concentrações plasmáticas de ácido fólico, mas não teve nenhum efeito significativo na incidência1 de câncer4 em geral (1.904 cânceres nos grupos de ácido fólico versus 1.809 cânceres nos grupos placebo6, p = 0,10). Não houve tendência de maior efeito com maior tempo de tratamento. Não houve heterogeneidade significativa entre os resultados dos 13 ensaios individuais (p = 0,23), ou entre os dois resultados gerais dos ensaios de prevenção cardiovascular e de adenomas (p = 0,13). Além disso, não houve efeito significativo da suplementação7 com ácido fólico sobre a incidência1 de câncer4 do intestino grosso10, próstata11, pulmão12, mama13 ou qualquer outro local específico.
A suplementação7 com ácido fólico não aumentou ou diminuiu substancialmente a incidência1 de câncer4 em locais específicos durante os primeiros cinco anos de tratamento. A dose de fortificação de produtos à base de cereais, farinha ou de outros com ácido fólico, são, em média, de uma ordem de grandeza menor do que as doses usadas nestes estudos.
Fonte: The Lancet, publicação online, de 25 de janeiro de 2013