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Implantes que se enrolam em torno da medula espinhal representam uma nova abordagem para o tratamento de lesões

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Um pequeno e flexível dispositivo eletrônico que envolve a medula espinhal1 pode representar uma nova abordagem para o tratamento de lesões2 na coluna, que podem causar incapacidade profunda e paralisia3.

Uma equipe de engenheiros, neurocientistas e cirurgiões da Universidade de Cambridge desenvolveu os dispositivos e os utilizou para registrar os sinais4 nervosos que vão e voltam entre o cérebro5 e a medula espinhal1. Ao contrário das abordagens atuais, os dispositivos de Cambridge podem registrar informações de 360 graus, dando uma imagem completa da atividade da medula espinal6.

Testes em modelos de animais vivos e cadáveres humanos mostraram que os dispositivos também poderiam estimular o movimento dos membros e contornar lesões2 completas da medula espinhal1, onde a comunicação entre o cérebro5 e a medula espinhal1 foi completamente interrompida.

A maioria das abordagens atuais para o tratamento de lesões2 da coluna vertebral7 envolve a perfuração da medula espinhal1 com eletrodos e a colocação de implantes no cérebro5, ambas cirurgias de alto risco. Os dispositivos desenvolvidos em Cambridge poderiam levar a tratamentos para lesões2 na coluna sem a necessidade de cirurgia cerebral, o que seria muito mais seguro para os pacientes.

Embora tais tratamentos ainda devam demorar vários anos para se tornarem realidade, os pesquisadores dizem que os dispositivos podem ser úteis no curto prazo para monitorar a atividade da medula espinhal1 durante a cirurgia. Uma melhor compreensão da medula espinhal1, que é difícil de estudar, poderia levar a melhores tratamentos para uma série de condições, incluindo dor crônica, inflamação8 e hipertensão9. Os resultados da pesquisa foram relatados na revista Science Advances.

“A medula espinhal1 é como uma estrada, transportando informações na forma de impulsos nervosos de e para o cérebro”, disse o professor George Malliaras, do Departamento de Engenharia, que co-liderou a pesquisa. “Danos à medula espinhal1 fazem com que o trânsito seja interrompido, resultando em incapacidade profunda, incluindo perda irreversível de funções sensoriais e motoras”.

A capacidade de monitorar os sinais4 que vão de e para a medula espinhal1 poderia ajudar dramaticamente no desenvolvimento de tratamentos para lesões2 na coluna vertebral7 e também poderia ser útil no curto prazo para um melhor monitoramento da medula espinhal1 durante a cirurgia.

“A maioria das tecnologias para monitorar ou estimular a medula espinhal1 interage apenas com neurônios10 motores ao longo da parte posterior ou dorsal da medula11 espinhal”, disse o Dr. Damiano Barone, do Departamento de Neurociências Clínicas, que co-liderou a pesquisa. “Essas abordagens só podem atingir entre 20 e 30 por cento da medula11, então você obtém uma imagem incompleta”.

Saiba mais sobre "Lesões2 da medula espinhal1" e "Deficiência física".

Inspirando-se na microeletrônica, os pesquisadores desenvolveram uma forma de obter informações de toda a medula espinhal1, envolvendo implantes muito finos e de alta resolução ao redor da circunferência da medula espinhal1. Esta é a primeira vez que o registro seguro de 360 graus da medula espinhal1 é possível – abordagens anteriores para monitoramento de 360 graus usam eletrodos que perfuram a medula11, o que pode causar lesões2 da medula espinhal1.

Os dispositivos biocompatíveis desenvolvidos por Cambridge – com apenas alguns milionésimos de metro de espessura – são feitos usando fotolitografia avançada e técnicas de deposição de filmes finos, e requerem energia mínima para funcionar.

Os dispositivos interceptam os sinais4 que viajam pelos axônios12, ou fibras nervosas, da medula espinhal1, permitindo que os sinais4 sejam registrados. A espessura dos aparelhos permite que eles registrem os sinais4 sem causar danos aos nervos, uma vez que não penetram na própria medula espinhal1.

“Foi um processo difícil, porque nunca tínhamos feito implantes espinhais desta forma antes e não estava claro se poderíamos colocá-los com segurança e sucesso ao redor da medula11 espinhal”, disse Malliaras. “Mas devido aos recentes avanços tanto na engenharia como na neurocirurgia, os planetas se alinharam e fizemos grandes progressos nesta importante área.”

Os dispositivos foram implantados adaptando-se ao procedimento cirúrgico de rotina para que pudessem ser deslizados sob a medula espinhal1 sem danificá-la. Em testes utilizando modelos de ratos, os pesquisadores utilizaram com sucesso os dispositivos para estimular o movimento dos membros. Os dispositivos apresentaram latência13 muito baixa – ou seja, seu tempo de reação foi próximo ao movimento reflexivo humano. Outros testes em modelos de cadáveres humanos mostraram que os dispositivos podem ser colocados com sucesso em humanos.

Os pesquisadores dizem que sua abordagem pode mudar a forma como as lesões2 medulares serão tratadas no futuro. As tentativas atuais de tratar lesões2 na coluna vertebral7 envolvem implantes cerebrais e espinhais, mas os pesquisadores de Cambridge dizem que os implantes cerebrais podem não ser necessários.

“Se alguém sofre uma lesão14 na coluna, o cérebro5 está bem, mas é a conexão que foi interrompida”, disse Barone. “Como cirurgião, você quer ir onde está o problema, então adicionar uma cirurgia no cérebro5 à cirurgia na coluna apenas aumenta o risco para o paciente. Podemos coletar todas as informações que precisamos da medula espinhal1 de uma forma muito menos invasiva, então esta seria uma abordagem muito mais segura para o tratamento de lesões2 na coluna vertebral7.”

No artigo publicado, os pesquisadores descrevem o desenvolvimento de bioeletrônica circunferencial flexível para permitir registro e estimulação de 360 graus da medula espinhal1.

Eles relatam que a medula espinhal1 é crucial para a transmissão de informações motoras e sensoriais entre o cérebro5 e os sistemas periféricos. Lesões2 na medula espinhal1 podem levar a consequências graves, incluindo paralisia3 e disfunção autonômica.

Neste contexto, eles introduziram componentes eletrônicos flexíveis de película fina para interface circunferencial com a medula espinhal1. Este método permite a gravação e estimulação simultânea dos tratos dorsal, lateral e ventral com um único dispositivo.

As descobertas incluem captura e elicitação bem-sucedida de sinais4 motores e sensoriais em ratos anestesiados, um sistema de circuito fechado de prova de conceito15 para colmatar lesões2 completas da medula espinhal1 e verificação de segurança do dispositivo em roedores que se movem livremente. Além disso, demonstrou-se potencial para aplicação humana através de um modelo de cadáver.

Este método vê um caminho claro para a clínica, utilizando materiais e práticas cirúrgicas que reduzem o risco durante a implantação e preservam a integridade da medula espinhal1.

Leia sobre "Paraplegia16" e "Tetraplegia".

 

Fontes:
Science Advances, Vol. 10, Nº 19, em 08 de maio de 2024.
Science Daily, notícia publicada em 08 de maio de 2024.

 

NEWS.MED.BR, 2024. Implantes que se enrolam em torno da medula espinhal representam uma nova abordagem para o tratamento de lesões. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1469637/implantes-que-se-enrolam-em-torno-da-medula-espinhal-representam-uma-nova-abordagem-para-o-tratamento-de-lesoes.htm>. Acesso em: 3 jun. 2024.

Complementos

1 Medula Espinhal:
2 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
3 Paralisia: Perda total da força muscular que produz incapacidade para realizar movimentos nos setores afetados. Pode ser produzida por doença neurológica, muscular, tóxica, metabólica ou ser uma combinação das mesmas.
4 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
5 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
6 Medula Espinal:
7 Coluna vertebral:
8 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
9 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
10 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
11 Medula: Tecido mole que preenche as cavidades dos ossos. A medula óssea apresenta-se de dois tipos, amarela e vermelha. A medula amarela é encontrada em cavidades grandes de ossos grandes e consiste em sua grande maioria de células adiposas e umas poucas células sangüíneas primitivas. A medula vermelha é um tecido hematopoiético e é o sítio de produção de eritrócitos e leucócitos granulares. A medula óssea é constituída de um rede, em forma de treliça, de tecido conjuntivo, contendo fibras ramificadas e preenchida por células medulares.
12 Axônios: Prolongamento único de uma célula nervosa. Os axônios atuam como condutores dos impulsos nervosos e só possuem ramificações na extremidade. Em toda sua extensão, o axônio é envolvido por um tipo celular denominado célula de Schwann.
13 Latência: 1. Estado, caráter daquilo que se acha latente, oculto. 2. Por extensão de sentido, é o período durante o qual algo se elabora, antes de assumir existência efetiva. 3. Em medicina, é o intervalo entre o começo de um estímulo e o início de uma reação associada a este estímulo; tempo de reação. 4. Em psicanálise, é o período (dos quatro ou cinco anos até o início da adolescência) durante o qual o interesse sexual é sublimado; período de latência.
14 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
15 Prova de conceito: Prova de conceito (PoC ou Proof of Concept) é um termo utilizado para denominar um modelo prático que possa provar o conceito (teórico) estabelecido por uma pesquisa ou artigo técnico. Ela pode ser considerada uma implementação, em geral resumida ou incompleta, de um método ou de uma ideia, realizada com o propósito de verificar se o conceito ou a teoria em questão é susceptível de ser explorado de maneira útil.
16 Paraplegia: Perda transitória ou definitiva da capacidade de realizar movimentos devido à ausência de força muscular de ambos os membros inferiores. A causa mais freqüente é a lesão medular por traumatismos.
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