Peptídeos bacterianos apresentados em células tumorais podem ser alvos de imunoterapia
Os tumores humanos são colonizados por microrganismos, chamados coletivamente de microbiota1 tumoral, que podem afetar o microambiente do tumor2 – por exemplo, causando inflamação3 ou supressão imunológica local. Isso pode levar a mudanças na forma como o sistema imunológico4 do corpo responde ao tumor2 e pode alterar as respostas à terapia.
Mas as próprias bactérias intratumorais são reconhecidas pelo sistema imunológico4? Escrevendo na Nature, Kalaora et al. mostram que fragmentos5 de proteínas6 bacterianas chamados de peptídeos são apresentados ao sistema imunológico4 na superfície das células7 tumorais e são reconhecidos por células7 imunes chamadas células7 T. Esta descoberta pode ser explorada para imunoterapêuticos do câncer8.
O novo estudo realizou a identificação de peptídeos ligados ao antígeno9 leucocitário humano (HLA) derivados de bactérias no melanoma10.
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Buscou-se descobrir se os antígenos11 derivados de bactérias intracelulares são apresentados pelas moléculas de antígeno9 leucocitário humano de classes I e II (HLA-I e HLA-II, respectivamente) de células7 tumorais, ou se tais antígenos11 desencadeiam uma resposta imune de células7 T infiltrantes de tumor2.
Os pesquisadores usaram o sequenciamento do gene do RNA ribossomal 16S (rRNA 16S) e a análise peptidômica do HLA para identificar um repertório de peptídeos derivado de bactérias intracelulares que foi apresentado nas moléculas HLA-I e HLA-II em tumores de melanoma10.
A análise de 17 metástases12 de melanoma10 (derivadas de 9 pacientes) revelou 248 e 35 peptídeos HLA-I e HLA-II exclusivos, respectivamente, que eram derivados de 41 espécies de bactérias.
Foram identificados peptídeos bacterianos recorrentes em tumores de diferentes pacientes, bem como em diferentes tumores do mesmo paciente.
O estudo revela que peptídeos derivados de bactérias intracelulares podem ser apresentados por células7 tumorais e provocar reatividade imunológica e, assim, fornecer informações sobre um mecanismo pelo qual as bactérias influenciam a ativação do sistema imunológico4 e as respostas à terapia.
Tomados em conjunto, os resultados de Kalaora e colegas apontam para a possibilidade de que os peptídeos bacterianos exibidos no tumor2 são uma classe de antígeno9 tumoral previamente não identificada. No entanto, várias questões permanecem. Para serem antígenos11 tumorais genuínos, as espécies bacterianas identificadas não devem invadir tecido13 não tumoral e seus peptídeos não devem ser apresentados em HLAs em células7 não tumorais. Se esta apresentação fosse detectada, os peptídeos não seriam qualificados como alvos de imunoterapia.
Além disso, os peptídeos bacterianos parecem ser bastante abundantes, então por que o corpo não monta uma resposta imune eficaz contra os melanomas? Mais estudos de peptídeos bacterianos exibidos em tumor2 em combinação com informações do paciente serão necessários para elucidar o papel clínico potencial dos peptídeos. Esses dados podem ajudar os pesquisadores a selecionar alvos bacterianos adequados para abordagens de imunoterapia contra o câncer8.
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Fonte: Nature, publicação em 17 de março de 2021.