Estudo demonstra que a neuromodulação de alta frequência melhora o comportamento obsessivo-compulsivo
Quase um bilhão de pessoas em todo o mundo sofrem de comportamentos obsessivo-compulsivos, mas nossa compreensão mecanicista desses comportamentos é incompleta e terapêuticas eficazes não estão disponíveis.
Agora, uma nova pesquisa sugere que a estimulação de neurônios1 no cérebro2 pode resolver problemas psicológicos com velocidade e precisão surpreendentes.
O cérebro2 é um órgão elétrico. Tudo o que acontece lá é resultado de milivolts zunindo de um neurônio para outro em padrões específicos. Isso levanta a possibilidade tentadora de que, caso algum dia decifremos esses padrões, poderíamos ajustá-los eletricamente para tratar disfunções neurológicas – de Alzheimer3 a esquizofrenia4 – ou mesmo otimizar qualidades desejáveis como inteligência e resiliência.
Claro, o cérebro2 é tão complexo e tão difícil de acessar que é muito mais fácil imaginar do que fazer. Dois estudos publicados em janeiro na revista Nature Medicine, no entanto, demonstram que a estimulação elétrica pode lidar com impulsos obsessivo-compulsivos e sintomas5 de depressão com velocidade e precisão surpreendentes.
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O mapeamento da atividade cerebral dos participantes quando experimentaram certas sensações permitiu aos pesquisadores personalizar a estimulação e modificar o humor e os hábitos muito mais diretamente do que é possível por meio de terapia ou medicação.
Um desses estudos consistiu no uso de uma técnica não invasiva chamada estimulação transcraniana por corrente alternada para fornecer pulsos elétricos através de eletrodos colocados no couro cabeludo dos participantes. O objetivo era tentar conter os comportamentos obsessivo-compulsivos.
Estudos anteriores sugeriram que o córtex orbitofrontal, uma área na rede de recompensa do cérebro2, pode desempenhar um papel no reforço de tais comportamentos, considerando-os benéficos. Essa perspectiva emergente, então, caracteriza os comportamentos obsessivo-compulsivos como aprendizado de hábito desadaptativo, que pode estar associado à neurofisiologia beta-gama anormal do circuito orbitofrontal-estriatal durante o processamento de recompensa.
Assim, os pesquisadores colocaram eletrodos em 64 voluntários e registraram a frequência em hertz em que seu córtex orbitofrontal disparava quando eles ganhavam uma recompensa monetária em um jogo.
Eles visaram o córtex orbitofrontal com corrente alternada, personalizada para a frequência beta-gama intrínseca da rede de recompensa, e mostraram uma modulação rápida, reversível e de frequência específica de recompensa, mas não de comportamento de escolha guiado por punição e aprendizagem, impulsionado por maior exploração no cenário de uma arquitetura ator-crítico.
A seguir, foi demonstrado que a aplicação crônica do procedimento durante 5 dias atenua de forma robusta o comportamento obsessivo-compulsivo em uma população não clínica por 3 meses, com maiores benefícios para indivíduos com sintomas5 mais graves.
Finalmente, mostrou-se que os mecanismos convergentes fundamentam a modulação da aprendizagem de recompensa e a redução dos sintomas5 obsessivo-compulsivos.
Os resultados contribuem para as teorias neurofisiológicas de recompensa, aprendizagem e comportamento obsessivo-compulsivo, sugerem um papel funcional unificador dos ritmos na faixa beta-gama e estabelecem as bases para o desenvolvimento de terapêuticas personalizadas baseadas em circuitos para distúrbios relacionados.
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Fontes:
Nature Medicine, publicação em 18 de janeiro de 2021.
The New York Times, notícia publicada em 24 de fevereiro de 2021.