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Estudo mostra que o burnout é empiricamente distinto da depressão e ansiedade em profissionais de terapia intensiva, destacando a necessidade de triagem

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Não está claro se o burnout (esgotamento), a ansiedade e a depressão constituem os mesmos ou diferentes construtos. Uma melhor compreensão desses construtos é importante para o diagnóstico1 e tratamento para profissionais de saúde2 de unidade de terapia intensiva3 (UTI).

O objetivo desse estudo, publicado pelo JAMA Network Open, foi determinar as associações e distinção de burnout, depressão e ansiedade em uma amostra de profissionais de UTI no Brasil.

Este estudo transversal usou dados de linha de base do Estudo de Visitas à UTI, um ensaio clínico cruzado randomizado4 por agrupamento realizado de abril de 2017 a julho de 2018 em 36 UTIs mistas públicas e privadas sem fins lucrativos no Brasil.

Saiba mais sobre "Esgotamento mental ou síndrome5 de Burnout", "Transtorno de ansiedade generalizada" e "Depressões".

Os profissionais da UTI, incluindo médicos do turno diurno, enfermeiras, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas que trabalham em uma UTI pelo menos 20 horas por semana foram inscritos. Os dados foram analisados ​​de 27 de dezembro de 2019 a 10 de outubro de 2020.

As principais medidas de desfecho foram burnout, depressão e ansiedade medidos com o Maslach Burnout Inventory (MBI; faixa, 0-6, com pontuações altas indicando mais burnout) e a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS; faixa, 0-3, com pontuações mais altas indicando mais depressão ou ansiedade). As consistências internas foram satisfatórias.

A amostra total incluiu 715 profissionais de saúde2 de UTI (mediana [intervalo interquartil] de idade, 34,8 [30,2-39,3] anos; 520 [72,7%] mulheres), incluindo 96 médicos (13,4%), 159 enfermeiros (22,2%), 358 técnicos de enfermagem (50,1%) e 102 fisioterapeutas (14,3%).

Os profissionais relataram baixos níveis de exaustão emocional (pontuação média [DP], 1,84 [1,18]), despersonalização (pontuação média [DP], 0,98 [1,03]) e realização pessoal (pontuação média [DP], 5,05 [0,87]) no MBI, e níveis igualmente baixos de depressão (pontuação média [DP], 0,54 [0,40]) e ansiedade (pontuação média [DP], 0,70 [0,45]) na HADS.

As análises fatoriais confirmatórias mostraram consistentemente um ajuste melhorado separando as dimensões latentes de burnout da depressão e ansiedade. Uma análise exploratória de gráficos combinando o modelo gráfico gaussiano com algoritmos de agrupamento para redes ponderadas sugeriu 3 agrupamentos, com agrupamentos distintos de burnout, ansiedade e depressão. Essa estrutura foi confirmada por bootstrap6 com 1000 amostras aleatórias, em que a solução de 3 agrupamentos emergiu em 625 amostras (62,5%).

Tanto as cargas variáveis ​​latentes quanto as estatísticas de rede sugeriram três indicadores principais (ou seja, sensação de esgotamento por conta do trabalho, pensamentos preocupantes e relatórios com pontuação reversa de sentimento de alegria) que podem ser usados ​​para instrumentos de triagem curtos.

Esses achados sugerem que o burnout e os sintomas7 clínicos de depressão e ansiedade foram empiricamente e estatisticamente distintos em uma grande amostra de profissionais de saúde2 de UTI, usando tanto a variável latente quanto a análise exploratória de gráficos. Indicadores essenciais de valor para inclusão em instrumentos de rastreamento curtos foram identificados.

Isso destaca a importância da triagem de burnout e sintomas7 clínicos, como ansiedade e depressão, para permitir acesso rápido a suporte e tratamento adequados em profissionais de saúde2 com alto risco de burnout.

Leia também sobre "Síndrome5 de burnout", "Ansiedade normal e patológica", "Depressões típica e atípica" e "Estresse".

 

Fonte: JAMA Network Open, publicação em 23 de dezembro de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Estudo mostra que o burnout é empiricamente distinto da depressão e ansiedade em profissionais de terapia intensiva, destacando a necessidade de triagem. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1385460/estudo-mostra-que-o-burnout-e-empiricamente-distinto-da-depressao-e-ansiedade-em-profissionais-de-terapia-intensiva-destacando-a-necessidade-de-triagem.htm>. Acesso em: 19 mar. 2024.

Complementos

1 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
2 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
3 Terapia intensiva: Tratamento para diabetes no qual os níveis de glicose são mantidos o mais próximo do normal possível através de injeções freqüentes ou uso de bomba de insulina, planejamento das refeições, ajuste em medicamentos hipoglicemiantes e exercícios baseados nos resultados de testes de glicose além de contatos freqüentes entre o diabético e o profissional de saúde.
4 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
5 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
6 Bootstrap: Em estatística, bootstrap ou bootstrapping é um método de reamostragem proposto por Bradley Efron em 1979, em que pega-se uma amostra e faz reamostragens com substituições. É usado para aproximar distribuição na amostra de um levantamento estatístico, frequentemente para aproximar o viés ou a variância de um conjunto de dados estatísticos, assim como para construir intervalos de confiança ou realizar contrastes de hipóteses sobre parâmetros de interesse. Na maior parte dos casos, não se pode obter expressões fechadas para as aproximações bootstrap, sendo necessário obter reamostragens em um ordenador para colocar o método em prática.
7 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
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