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Vacina BCG desencadeia melhorias na glicemia de pacientes com diabetes tipo 1, publicado pela npj Vaccines

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Três anos após receberem duas administrações da vacina1 com o bacilo2 de Calmette-Guérin (BCG3), normalmente usada para prevenir a tuberculose4, todos os membros de um grupo de adultos com diabetes5 tipo 1 de longa duração mostraram uma melhoria dramática nos níveis médios de açúcar6 no sangue7 que persistiu nos cinco anos seguintes.

O estudo, publicado na npj Vaccines, relata que os efeitos da vacina1 BCG3 no controle da glicemia8 parecem depender de um novo mecanismo metabólico que aumenta o consumo celular de glicose9. Os resultados levantam a possibilidade de que as vacinas BCG3 também poderiam ser benéficas contra o diabetes tipo 210.

Saiba mais sobre "BCG3", "Tuberculose4", "Diabetes mellitus11" e "Comportamento da glicemia8".

"Esta é uma validação clínica do potencial para reduzir de forma estável a glicemia8 para níveis quase normais com uma vacina1 segura, mesmo em pacientes com doença de longa data", segundo Denise Faustman, autora sênior12 do estudo e professora associada de medicina do Massachusetts General Hospital (Mass General). Faustman também apresentou resultados de acompanhamento de cinco anos de um grupo separado de participantes do ensaio clínico de BCG3 com diabetes5 de tipo 1 de longa data na 78ª Sessão Científica da American Diabetes5 Association, em Orlando.

Usada há quase um século para prevenir a tuberculose4, a BCG3 é conhecida há mais de 30 anos para aumentar a produção de uma citocina13 chamada fator de necrose14 tumoral (TNF), que pode ser benéfica em doenças autoimunes15, eliminando as células16 T autorreativas que atacam um tecido17 individual  no caso do diabetes tipo 118, as ilhotas pancreáticas19  e induzindo a produção de células16 T reguladoras (Tregs) que poderiam prevenir uma reação autoimune20.

A equipe de Faustman relatou pela primeira vez em 2001 que a indução da produção de TNF poderia curar o diabetes tipo 118 em camundongos, mas como a dosagem de TNF é tóxica em seres humanos, ensaios clínicos21 utilizaram o BCG3 por elevar os níveis de TNF com segurança.

Os resultados dos ensaios clínicos21 iniciais, publicados em um artigo do PLOS One de 2012, relataram que duas doses de BCG3 espaçadas por quatro semanas levaram a reduções nas células16 T autorreativas, um aumento nas Tregs e o que acabou sendo um aumento transitório na produção de insulina22. Mas, ao final desse curto teste de 20 semanas, não houve redução na HbA1c23, a medida estabelecida de níveis de açúcar6 no sangue7 ao longo do tempo.

Em uma extensão e expansão desse ensaio com seguimento de longo prazo, os resultados atuais são baseados em dados de 282 participantes do estudo em humanos - 52 com diabetes5 tipo 1 que participaram nos ensaios clínicos21 do BCG3 e 230 que contribuíram com amostras de sangue7 para estudos mecanísticos.

O monitoramento regular dos participantes do estudo clínico constatou que os níveis de HbA1c23 daqueles que recebiam o BCG3 tinham diminuído mais de 10% em três anos após o tratamento e em mais de 18% em quatro anos.

Essa redução foi mantida nos próximos quatro anos, com os participantes tratados tendo uma média de HbA1c23 de 6,65; perto dos 6,5 considerados o limiar para o diagnóstico24 de diabetes5 e sem relatos de hipoglicemia25 grave. Os participantes do grupo de placebo26 e em um grupo de comparação de pacientes que não receberam tratamento apresentaram elevações consistentes de HbA1c23 ao longo do mesmo período de oito anos.

Ao investigar como a administração do BCG3 produz seus efeitos benéficos, a equipe de pesquisa identificou um mecanismo não visto anteriormente em humanos em resposta ao tratamento com qualquer droga - um deslocamento do metabolismo27 da glicose9 da fosforilação oxidativa, a via mais comum pela qual as células16 convertem glicose9 em energia, para a glicólise aeróbica, um processo que envolve um consumo significativamente maior de glicose9 pelas células16.

Os pesquisadores também descobriram que o BCG3 poderia reduzir as elevações de açúcar6 no sangue7 em ratos que foram causados por outros meios que não o ataque autoimune20, levantando a possibilidade de que as vacinas BCG3 também poderiam ser benéficas no diabetes5 tipo 2.

As descobertas da equipe de pesquisa prepararam o terreno para mais estudos sobre a administração do BCG3 em novos grupos de pacientes com diabetes tipo 118 de longa data. Há sete grupos adicionais de ensaios clínicos21 com BCG3 atualmente recrutados ou inscritos no Mass General, com um teste pediátrico em estágio de planejamento.

Veja mais sobre "Tuberculose4 pulmonar", "Hemoglobina glicosilada28" e "Hipoglicemia25".

 

Fonte: npj Vaccines, em 21 de junho de 2018

 

NEWS.MED.BR, 2018. Vacina BCG desencadeia melhorias na glicemia de pacientes com diabetes tipo 1, publicado pela npj Vaccines. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1320848/vacina-bcg-desencadeia-melhorias-na-glicemia-de-pacientes-com-diabetes-tipo-1-publicado-pela-npj-vaccines.htm>. Acesso em: 10 out. 2024.

Complementos

1 Vacina: Tratamento à base de bactérias, vírus vivos atenuados ou seus produtos celulares, que têm o objetivo de produzir uma imunização ativa no organismo para uma determinada infecção.
2 Bacilo: 1. Bactéria em forma de bastonete. 2. Designação comum às bactérias do gênero Bacillus, cujas espécies são saprófitas ou patogênicas para os seres humanos e para os mamíferos.
3 BCG: Vacina utilizada para prevenir a tuberculose. Esta é composta por bacilos vivos e atenuados, que não produzem doença em pessoas com imunidade normal.
4 Tuberculose: Doença infecciosa crônica produzida pelo bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis). Produz doença pulmonar, podendo disseminar-se para qualquer outro órgão. Os sintomas de tuberculose pulmonar consistem em febre, tosse, expectoração, hemoptise, acompanhada de perda de peso e queda do estado geral. Em países em desenvolvimento (como o Brasil) aconselha-se a vacinação com uma cepa atenuada desta bactéria (vacina BCG).
5 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
6 Açúcar: 1. Classe de carboidratos com sabor adocicado, incluindo glicose, frutose e sacarose. 2. Termo usado para se referir à glicemia sangüínea.
7 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
8 Glicemia: Valor de concentração da glicose do sangue. Seus valores normais oscilam entre 70 e 110 miligramas por decilitro de sangue (mg/dl).
9 Glicose: Uma das formas mais simples de açúcar.
10 Diabetes tipo 2: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada tanto por graus variáveis de resistência à insulina quanto por deficiência relativa na secreção de insulina. O tipo 2 se desenvolve predominantemente em pessoas na fase adulta, mas pode aparecer em jovens.
11 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
12 Sênior: 1. Que é o mais velho. 2. Diz-se de desportistas que já ganharam primeiros prêmios: um piloto sênior. 3. Diz-se de profissionais experientes que já exercem, há algum tempo, determinada atividade.
13 Citocina: Citoquina ou citocina é a designação genérica de certas substâncias segregadas por células do sistema imunitário que controlam as reações imunes do organismo.
14 Necrose: Conjunto de processos irreversíveis através dos quais se produz a degeneração celular seguida de morte da célula.
15 Autoimunes: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
16 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
17 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
18 Diabetes tipo 1: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada por deficiência na produção de insulina. Ocorre quando o próprio sistema imune do organismo produz anticorpos contra as células-beta produtoras de insulina, destruindo-as. O diabetes tipo 1 se desenvolve principalmente em crianças e jovens, mas pode ocorrer em adultos. Há tendência em apresentar cetoacidose diabética.
19 Ilhotas Pancreáticas: Estruturas microscópicas irregulares constituídas por cordões de células endócrinas espalhadas pelo PÂNCREAS entre os ácinos exócrinos. Cada ilhota é circundada por fibras de tecido conjuntivo e penetrada por uma rede de capilares. Há quatro tipos principais de células. As células beta, mais abundantes (50-80 por cento) secretam INSULINA. As células alfa (5-20 por cento) secretam GLUCAGON. As células PP (10-35 por cento) secretam o POLIPEPTÍDEO PANCREÁTICO. As células delta (aproximadamente 5 por cento) secretam SOMATOSTATINA.
20 Autoimune: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
21 Ensaios clínicos: Há três fases diferentes em um ensaio clínico. A Fase 1 é o primeiro teste de um tratamento em seres humanos para determinar se ele é seguro. A Fase 2 concentra-se em saber se um tratamento é eficaz. E a Fase 3 é o teste final antes da aprovação para determinar se o tratamento tem vantagens sobre os tratamentos padrões disponíveis.
22 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
23 HbA1C: Hemoglobina glicada, hemoglobina glicosilada, glico-hemoglobina ou HbA1C e, mais recentemente, apenas como A1C é uma ferramenta de diagnóstico na avaliação do controle glicêmico em pacientes diabéticos. Atualmente, a manutenção do nível de A1C abaixo de 7% é considerada um dos principais objetivos do controle glicêmico de pacientes diabéticos. Algumas sociedades médicas adotam metas terapêuticas mais rígidas de 6,5% para os valores de A1C.
24 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
25 Hipoglicemia: Condição que ocorre quando há uma queda excessiva nos níveis de glicose, freqüentemente abaixo de 70 mg/dL, com aparecimento rápido de sintomas. Os sinais de hipoglicemia são: fome, fadiga, tremores, tontura, taquicardia, sudorese, palidez, pele fria e úmida, visão turva e confusão mental. Se não for tratada, pode levar ao coma. É tratada com o consumo de alimentos ricos em carboidratos como pastilhas ou sucos com glicose. Pode também ser tratada com uma injeção de glucagon caso a pessoa esteja inconsciente ou incapaz de engolir. Também chamada de reação à insulina.
26 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
27 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
28 Hemoglobina glicosilada: Hemoglobina glicada, hemoglobina glicosilada, glico-hemoglobina ou HbA1C e, mais recentemente, apenas como A1C é uma ferramenta de diagnóstico na avaliação do controle glicêmico em pacientes diabéticos. Atualmente, a manutenção do nível de A1C abaixo de 7% é considerada um dos principais objetivos do controle glicêmico de pacientes diabéticos. Algumas sociedades médicas adotam metas terapêuticas mais rígidas de 6,5% para os valores de A1C.
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