Gostou do artigo? Compartilhe!

Viciados em cocaína podem acumular ferro no cérebro, divulgado pelo Translational Psychiatry

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

Dado o papel importante que o ferro desempenha na saúde1 e na doença, o metabolismo2 do ferro é normalmente estritamente regulado. O uso prolongado de cocaína, no entanto, parece perturbar esse controle, o que pode causar danos significativos.

A cocaína é uma das drogas ilícitas3 mais usadas no mundo ocidental e é altamente viciante. Um relatório realizado no ano passado pelo "Conselho Consultivo do Reino Unido sobre o Uso Indevido de Drogas" descobriu que quase um em cada dez de todos com idades entre 16 e 59 anos, usaram cocaína em sua vida. O consumo de cocaína foi implicado em, mas não necessariamente foi a causa de, 234 mortes na Escócia, Inglaterra e País de Gales em 2013.

No entanto, apesar de avanços significativos na compreensão da biologia da dependência - incluindo como o cérebro4 de pessoas viciadas em cocaína pode diferir na estrutura - atualmente não existe tratamento médico para a dependência a esta droga. A maioria das pessoas é tratada com terapia cognitiva5 ou psicoterapia.

Saiba mais sobre "Dependência de cocaína" e "Psicoterapias".

Uma equipe de pesquisadores liderada pela Dra. Karen Ersche, do Departamento de Psiquiatria de Cambridge, examinou o cérebro4 de 44 pessoas viciadas em cocaína e 44 voluntários de controle saudáveis. No grupo da cocaína, eles detectaram quantidades excessivas de ferro em uma região do cérebro4 conhecida como globo pálido6, que normalmente age como um "freio" para inibir o comportamento.

Particularmente notável foi o fato de que a concentração de ferro nessa área estava diretamente ligada à duração do consumo de cocaína - mais tempo de consumo, maior acúmulo de ferro. Ao mesmo tempo, o aumento da concentração de ferro no cérebro4 foi acompanhado por uma ligeira deficiência de ferro no resto do corpo, sugerindo que a regulação do ferro em geral é interrompida em pessoas com dependência à cocaína.

O ferro é usado para produzir glóbulos vermelhos, que ajudam a armazenar e transportar oxigênio no sangue7. Assim, a sua deficiência no sangue7 significa que órgãos e tecidos podem não obter tanto oxigênio como necessitam. Por outro lado, sabemos que o excesso de ferro no cérebro4 está associado à morte celular, que é o que frequentemente é visto em doenças neurodegenerativas.

Veja também sobre "Doenças degenerativas8", "Mal de Alzheimer9" e "Doença ou Mal de Parkinson".

Os pesquisadores de Cambridge agora pretendem identificar os mecanismos precisos pelos quais a cocaína interage com a regulação do ferro. A Dra. Ersche acredita que o mecanismo mais provável é que a cocaína perturbe o metabolismo2 do ferro, possivelmente reduzindo a absorção de ferro dos alimentos e aumentando a permeabilidade10 da barreira hematoencefálica para que mais ferro entre no cérebro4, onde pode se acumular.

Embora o excesso de ferro no cérebro4 esteja associado à neurodegeneração, não há sugestão de que o vício da cocaína leve a um risco aumentado de doenças como Alzheimer9 ou Parkinson. O mecanismo subjacente ao aumento de ferro no cérebro4 na doença de Parkinson11, por exemplo, é diferente do que no vício de cocaína, assim como as regiões cerebrais afetadas.

Como um micronutriente essencial, o ferro é obtido através da dieta e não pode ser excretado, exceto através de perdas sanguíneas. Os pesquisadores também querem descobrir se os meios de corrigir as interrupções no metabolismo2 do ferro pode retardar ou até mesmo reverter o acúmulo de ferro no cérebro4 e, finalmente, ajudar os indivíduos afetados a se recuperarem com sucesso do vício da cocaína.

Este trabalho foi financiado pelo Medical Research Council e foi realizado no NIHR Cambridge Biomedical Research Center e no Behavioral and Clinical Neuroscience Institute.

Leia também sobre "Síndrome12 de abstinência da cocaína" e "Síndrome12 de abstinência".

 

Fonte: Translational Psychiatry, publicação online, de 21 de fevereiro de 2017

 

NEWS.MED.BR, 2017. Viciados em cocaína podem acumular ferro no cérebro, divulgado pelo Translational Psychiatry. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1289513/viciados-em-cocaina-podem-acumular-ferro-no-cerebro-divulgado-pelo-translational-psychiatry.htm>. Acesso em: 7 out. 2024.

Complementos

1 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
2 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
3 Ilícitas: 1. Condenadas pela lei e/ou pela moral; proibidas, ilegais. 2. Qualidade das que não são legais ou moralmente aceitáveis; ilicitude.
4 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
5 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
6 Globo Pálido: Representação da parte filogeneticamente mais primitiva do corpo estriado denominado páleo-estriado. Forma a parte menor e mais medial do núcleo lentiforme.
7 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
8 Degenerativas: Relativas a ou que provocam degeneração.
9 Alzheimer: Doença degenerativa crônica que produz uma deterioração insidiosa e progressiva das funções intelectuais superiores. É uma das causas mais freqüentes de demência. Geralmente começa a partir dos 50 anos de idade e tem incidência similar entre homens e mulheres.
10 Permeabilidade: Qualidade dos corpos que deixam passar através de seus poros outros corpos (fluidos, líquidos, gases, etc.).
11 Doença de Parkinson: Doença degenerativa que afeta uma região específica do cérebro (gânglios da base), e caracteriza-se por tremores em repouso, rigidez ao realizar movimentos, falta de expressão facial e, em casos avançados, demência. Os sintomas podem ser aliviados por medicamentos adequados, mas ainda não se conhece, até o momento, uma cura definitiva.
12 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
Gostou do artigo? Compartilhe!