Efeito da redução moderada de sal no longo prazo sobre a pressão arterial: revisão sistemática e meta-análise de estudos randomizados publicada pelo BMJ
O objetivo do estudo de revisão sistemática e meta-análise, publicado pelo British Medical Journal, foi determinar os efeitos da redução moderada de sal no longo prazo sobre a pressão arterial1, hormônios e lípides.
As fontes de dados usadas foram Medline, Embase, Cochrane Hypertension Group Specialised Register, Cochrane Central Register of Controlled Trials e uma lista de referências de artigos relevantes. Os critérios de inclusão foram ensaios randomizados que tratavam de uma redução modesta na ingestão de sal com duração de pelo menos quatro semanas.
Trinta e quatro estudos (3230 participantes) foram incluídos. A meta-análise mostrou que a alteração média na concentração urinária de sódio (sal reduzido versus sal normal) foi de -75 mmol/24 h (equivalente a uma redução de 4,4 g de sal/dia) e, com a redução do consumo de sal, a alteração média na pressão arterial1 foi de -4,18 mmHg para a pressão arterial sistólica2 e -2,06 mmHg para a pressão arterial diastólica3. A meta-regressão mostrou que a idade, o grupo étnico, o estado da pressão arterial1 (hipertensos ou normotensos) e a mudança do sódio urinário em 24 horas foram significativamente associados à queda na pressão arterial sistólica2, explicando 68% da variância entre os estudos. Uma redução de 100 mmol no sódio urinário de 24 horas (6 g de sal/dia) foi associada a uma queda na pressão arterial sistólica2 de 5,8 mmHg (2,5 a 9,2, P=0,001) após ajuste para idade, etnia e status de pressão arterial1. Para a pressão diastólica4, a idade, o grupo étnico, o estado da pressão sanguínea e a mudança na excreção urinária de sódio em 24 horas explica uma variância de 41% entre os estudos. Meta-análise de subgrupos mostraram que, em pessoas com hipertensão5 o efeito médio foi -5,39 mmHg (-6,62 a -4,15, I2 = 61%) para a pressão arterial sistólica2 e -2,82 mmHg (-3,54 a -2,11, I2 = 52 )% para a pressão arterial diastólica3. Nas pessoas normotensas, os valores foram -2,42 mmHg (-3,56 a -1,29, I2 = 66%) e -1,00 mmHg (-1,85 a -0,15, I2 = 66%), respectivamente. A análise de subgrupos mostrou ainda que a diminuição da pressão arterial sistólica2 foi significativa em pessoas brancas e negras e em homens e mulheres. A meta-análise de dados sobre os hormônios e os lipídios mostrou que a variação média foi de 0,26 ng/ml/h para a atividade da renina plasmática (ARP); 73,20 pmol/L para a aldosterona; 187 pmol/L para a noradrenalina6 (norepinefrina); 37 pmol/L para a adrenalina7 (epinefrina); 0,05 mmol/L8 para o colesterol9 total; 0,05 mmol/L8 para colesterol9 de lipoproteínas de baixa densidade; -0,02 mmol/L8 para o colesterol9 lipoproteína de alta densidade e 0,04 mmol/L8 para os triglicérides10.
Concluiu-se que uma redução moderada na ingestão de sal por quatro ou mais semanas causa quedas importantes da pressão arterial1 em indivíduos hipertensos e normotensos, independentemente do sexo e do grupo étnico. A redução de sal está associada a um pequeno aumento fisiológico11 na atividade da renina plasmática, aldosterona e noradrenalina6 e não houve alteração significativa nas concentrações de lípides. Estes resultados apoiam os benefícios de uma redução no consumo de sal pela população, o que irá reduzir a pressão arterial1 desta população e, assim, reduzir as doenças cardiovasculares12. A associação observada entre a redução significativa da concentração urinária de sódio em 24 horas e a queda na pressão arterial sistólica2 indica que maiores reduções na ingestão de sal levarão a quedas maiores na pressão arterial sistólica2. As recomendações atuais para reduzir o consumo de sal de 9 a 12g/dia para 5 a 6 g/dia vai ter um grande efeito sobre a pressão arterial1, mas uma nova redução para 3 g/dia terá um efeito ainda maior e deve se tornar a meta de longo prazo para a ingestão de sal da população.
Fonte: BMJ, de 4 de abril de 2013