The Lancet: uso de corticoterapia pré-natal e drogas tocolíticas em nascimentos prematuros, uma análise da WHO Multicountry Survey on Maternal and Newborn Health
Apesar dos encargos mundiais da morbidade1 e mortalidade2 associadas ao parto prematuro, há pouca evidência para o uso de corticoide pré-natal e de drogas tocolíticas em partos prematuros nos países de baixa e média rendas. Foram analisados os dados da pesquisa WHO Multicountry Survey on Maternal and Newborn Health (WHOMCS) para avaliar a cobertura para essas intervenções em partos prematuros.
WHOMCS é um estudo transversal com base em informações do banco de dados de maternidades de 359 estabelecimentos, de 29 países, com dados coletados prospectivamente a partir de 1º de maio de 2010 a 31 de dezembro de 2011. Para esta análise, foram incluídos os partos ocorridos após 22 semanas de gestação e foram excluídos os nascimentos ocorridos fora dos estabelecimentos ou mais rápido do que três horas após a chegada à maternidade. Calculou-se o uso de corticoide pré-natal em mulheres que deram à luz entre 26 e 34 semanas de gestação, quando o uso de corticosteroides pré-natais é conhecido por ser mais benéfico. Calculou-se também o uso desta medicação em mulheres com 22 a 25 semanas de gestação e entre 34 e 36 semanas de gestação. Foram avaliados o consumo de drogas tocolíticas, com e sem corticosteroide pré-natal, em partos espontâneos, partos prematuros sem complicações entre a 26ª e 34ª semanas de gestação.
De 303.842 partos registrados, após 22 semanas de gestação, 17.705 (6%) eram prematuros. 3.900 (52%) das 7.547 mulheres que deram à luz com 26 a 34 semanas de gestação, 94 (19%) de 497 mulheres que deram à luz em 22 e 25 semanas de gestação e 2.276 (24%) das 9.661 mulheres que deram à luz com 35 a 36 semanas de gestação receberam corticoterapia pré-natal. As taxas de uso de corticoide pré-natal variaram entre países (média de 54%, variando de 16 a 91%; IQR 30-68%). De 4.677 mulheres que eram potencialmente elegíveis para o uso de drogas tocolíticas, 1.276 (27%) foram tratadas com repouso ou hidratação e 2.248 (48%) não receberam nenhum tratamento. Os β-agonistas em monoterapia (n=346,7%) foram os medicamentos tocolíticos3 mais utilizados. Apenas 848 (18%) das mulheres potencialmente elegíveis receberam tanto uma medicação tocolítica, quanto corticosteroides pré-natais.
O uso de intervenções foi geralmente pobre, apesar das evidências em seu benefício para os recém-nascidos. Uma parte substancial do uso de corticosteroide pré-natal ocorreu com idade gestacional em que o seu benefício é controverso e o uso de drogas tocolíticas menos efetivas ou potencialmente nocivas era comum. A implementação de pesquisas e de políticas em saúde4 contextualizadas são necessárias para melhorar a disponibilidade de medicamentos e aumentar a conformidade com as melhores práticas obstétricas.
Fonte: The Lancet, publicação online de 13 de agosto de 2014