Transplante da microbiota fecal em cápsulas congeladas para tratar infecções recorrentes pelo Clostridium difficile, publicado pelo JAMA
O transplante da microbiota1 fecal (TMF) tem demonstrado ser eficaz no tratamento da infecção2 pelo Clostridium difficile reincidente ou refratária ao tratamento, mas barreiras práticas e as preocupações de segurança têm impedido a sua utilização mais ampla.
Para avaliar a segurança e a taxa de resolução de diarreia3 após a administração de transplante da microbiota1 fecal, em cápsulas congeladas, para uso oral, a partir de doadores não aparentados pré-selecionados para pacientes4 com infecções5 recorrentes pelo Clostridium difficile, foi realizado o presente projeto de pesquisa.
O estudo aberto, de grupo único e de viabilidade preliminar, foi realizado de agosto de 2013 até junho 2014, no Massachusetts General Hospital, em Boston. Vinte pacientes (idade média 64,5 anos; variando de 11 a 89 anos) com pelo menos três episódios de infecção2 leve a moderada pelo Clostridium difficile e falha do tratamento de 6 a 8 semanas com vancomicina, ou pelo menos dois episódios de infecção2 grave pelo Clostridium difficile com necessidade de internação hospitalar foram registrados.
Voluntários saudáveis foram rastreados como potenciais doadores e cápsulas de TMF foram geradas e armazenadas a -80°C (-112°F). Os pacientes receberam 15 cápsulas em dois dias consecutivos e foram acompanhados para verificação da resolução dos sintomas6 e para a presença ou ausência de efeitos adversos por até seis meses.
Os desfechos primários foram a segurança, avaliada por eventos adversos de grau 2 ou superior, e a resolução clínica da diarreia3 sem recaídas em oito semanas. Os desfechos secundários incluíram melhoria do bem-estar subjetivo avaliada por questionários padronizados e número diário de evacuações.
Nenhum evento adverso sério foi atribuído ao TMF. A resolução da diarreia3 foi alcançada em 14 pacientes (70%, IC 95%, 47%-85%), após um único tratamento com TMF. Todos os seis pacientes que não responderam foram retratados; quatro tiveram resolução da diarreia3, resultando em um total de 90% (IC 95%, 68%-98%) de taxa de resolução clínica da diarreia3 (18/20). O número diário de evacuações diminuiu de uma média de cinco episódios (intervalo interquartílico [IQR], 3-6) no dia anterior à administração a dois episódios (IQR, 1-3) no terceiro dia (p=0,001) e um episódio de diarreia3 (IQR, 1-2) na oitava semana após tratamento (p<0,001). Pontuações de saúde7 autoclassificadas melhoraram significativamente em uma escala de 1 a 10 de uma média de 5 (IQR, 5-7) para a saúde7 geral e 4,5 (IQR, 3-7) para a saúde7 gastrointestinal específica, no dia anterior ao TMF, para 8 (IQR, 7-9) após a administração do TMF, tanto para a saúde7 geral como para a saúde7 gastrointestinal (p=0,001). Os pacientes que necessitaram de um segundo tratamento para obter resolução da diarreia3 tinham escores mais baixos de saúde7 pré-tratamento (mediana de 6,5 [IQR, 5-7,3] vs 5 [IQR, 2,8-5], p=0,02).
Este estudo preliminar em pacientes com infecção2 recidivante8 pelo Clostridium difficile fornece dados sobre os eventos adversos e as taxas de resolução de diarreia3 após a administração de TMF utilizando inóculo congelado e encapsulado de doadores não aparentados. Estudos maiores são necessários para confirmar esses resultados e para avaliar a segurança e eficácia em longo prazo.