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Ranitidina associada a risco de infecção e morte em recém-nascidos prematuros, de acordo com artigo do Pediatrics

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Os recém-nascidos que apresentam muito baixo peso ao nascer e usam ranitidina (uma terapia para úlceras1 de estresse e doença do refluxo gastroesofágico2 - DRGE) têm cerca de seis vezes mais chances de morrer do que os recém-nascidos em situações semelhantes que não receberam a medicação, de acordo com os resultados de um novo estudo publicado pelo periódico Pediatrics.

O ácido gástrico3 mata agentes patogênicos e, por inibir a sua secreção, a ranitidina aumenta o risco de infecção4, dizem os pesquisadores.

"A ranitidina deve ser administrada com cuidado em prematuros por causa do risco de doenças infecciosas graves, como a enterocolite necrosante5, podendo levar a desfechos fatais", concluíram pesquisadores de nove centros de saúde6 na Itália, liderado por Gianluca Terrin, PhD, do Department of Women's Health and Territorial Medicine da Universidade La Sapienza, Roma, Itália.

O Food and Drug Administration não aprovou a ranitidina para uso em recém-nascidos prematuros, mas o uso desta medicação nesta população está aumentando.

A presente pesquisa multicêntrica e prospectiva é a primeira sobre morbidade7 e mortalidade8 associada à ranitidina em recém-nascidos de muito baixo peso ao nascer.

Para testar a segurança deste medicamento, os pesquisadores avaliaram 274 recém-nascidos com peso de nascimento variando entre 401 e 1500 gramas ou em idade gestacional entre 24 e 32 semanas, em quatro unidades de terapia intensiva9 neonatal italianas.

Quarenta e duas destas crianças receberam ranitidina para evitar úlceras1 de estresse induzido por doença. Outras 49 receberam a medicação por suspeita de DRGE. Os restantes 183 recém-nascidos não receberam ranitidina.

As duas populações não diferiram significativamente em suas características demográficas e clínicas. Além disso, as análises multivariadas mostraram que a prescrição de ranitidina por médicos não foi afetada pela idade gestacional dos bebês10, peso ao nascimento, sexo, índice de Apgar, acesso vascular11 central ou ventilação12 mecânica.

Trinta e quatro bebês10 que receberam ranitidina desenvolveram infecções13 (37,4%), enquanto que 28 dos não expostos à ranitidina desenvolveram infecções13, uma diferença significativa (P <0,001). Sepse14 foi a infecção4 mais comum, afetando 25,3% dos bebês10 que receberam ranitidina em comparação com 8,7% das crianças que não receberam a droga. Pneumonia15 (4,4% vs 0,5%) e infecção4 do trato urinário16 (7,7% vs 0,5%) compunham o restante das infecções13, embora essas diferenças não alcançaram significância estatística. A duração do tratamento com ranitidina não afetou o risco de infecção4.

Os bebês10 que receberam ranitidina sofreram enterocolite necrosante5 a uma taxa de 9,8% vs 1,6% em relação aos que não receberam o medicamento (P = 0,003).

Crianças que receberam ranitidina ficaram internados em média 52 dias no hospital, comparados a 36 dias para as crianças que não receberam a medicação (P = 0,001).

Finalmente, 9,9% dos bebês10 que receberam ranitidina morreram vs 1,6% daqueles que não receberam a ranitidina (P = 0,003).

"Os resultados deste estudo sugerem que a ranitidina deve ser administrado somente após uma consideração cuidadosa da relação risco-benefício", concluem o Dr. Terrin e seus colegas.

Estudos adicionais são necessários para investigar as razões para o aumento dos riscos associados à ranitidina. Embora pareça que a droga mude o ambiente gástrico favorecendo o crescimento de patógenos, tais como Escherichia coli e Klebsiella pneumonia15, sendo que ambos foram documentados neste estudo, a medicação pode também suprimir as defesas imunológicas, incluindo a produção de citocinas17 inflamatórias e interromper o equilíbrio Th1-Th2, segundo especulam os pesquisadores.

Fonte: Pediatrics, publicação online de 12 de dezembro de 2011

 

NEWS.MED.BR, 2011. Ranitidina associada a risco de infecção e morte em recém-nascidos prematuros, de acordo com artigo do Pediatrics. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/pharma-news/251430/ranitidina-associada-a-risco-de-infeccao-e-morte-em-recem-nascidos-prematuros-de-acordo-com-artigo-do-pediatrics.htm>. Acesso em: 19 mar. 2024.

Complementos

1 Úlceras: Feridas superficiais em tecido cutâneo ou mucoso que podem ocorrer em diversas partes do organismo. Uma afta é, por exemplo, uma úlcera na boca. A úlcera péptica ocorre no estômago ou no duodeno (mais freqüente). Pessoas que sofrem de estresse são mais susceptíveis a úlcera.
2 Refluxo gastroesofágico: Presença de conteúdo ácido proveniente do estômago na luz esofágica. Como o dito órgão não está adaptado fisiologicamente para suportar a acidez do suco gástrico, pode ser produzida inflamação de sua mucosa (esofagite).
3 Ácido Gástrico: Ácido clorídrico presente no SUCO GÁSTRICO.
4 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
5 Necrosante: Que necrosa ou que sofre gangrena; que provoca necrose, necrotizante.
6 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
7 Morbidade: Morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
8 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
9 Terapia intensiva: Tratamento para diabetes no qual os níveis de glicose são mantidos o mais próximo do normal possível através de injeções freqüentes ou uso de bomba de insulina, planejamento das refeições, ajuste em medicamentos hipoglicemiantes e exercícios baseados nos resultados de testes de glicose além de contatos freqüentes entre o diabético e o profissional de saúde.
10 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
11 Vascular: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
12 Ventilação: 1. Ação ou efeito de ventilar, passagem contínua de ar fresco e renovado, num espaço ou recinto. 2. Agitação ou movimentação do ar, natural ou provocada para estabelecer sua circulação dentro de um ambiente. 3. Em fisiologia, é o movimento de ar nos pulmões. Perfusão Em medicina, é a introdução de substância líquida nos tecidos por meio de injeção em vasos sanguíneos.
13 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
14 Sepse: Infecção produzida por um germe capaz de provocar uma resposta inflamatória em todo o organismo. Os sintomas associados a sepse são febre, hipotermia, taquicardia, taquipnéia e elevação na contagem de glóbulos brancos. Pode levar à morte, se não tratada a tempo e corretamente.
15 Pneumonia: Inflamação do parênquima pulmonar. Sua causa mais freqüente é a infecção bacteriana, apesar de que pode ser produzida por outros microorganismos. Manifesta-se por febre, tosse, expectoração e dor torácica. Em pacientes idosos ou imunodeprimidos pode ser uma doença fatal.
16 Trato Urinário:
17 Citocinas: Citoquina ou citocina é a designação genérica de certas substâncias segregadas por células do sistema imunitário que controlam as reações imunes do organismo.
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