JAMA: meditação consciente pode ajudar no alívio da dor
Experimentar terapias não farmacológicas e não opioides em primeiro lugar, é o que recomenda o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) em publicação recente sobre a prescrição de opioides por médicos de cuidados primários em regime ambulatorial. Essas abordagens não farmacológicas podem servir para aumentar o interesse clínico no uso de tais abordagens para controlar a dor crônica, como a redução do estresse baseada em meditação consciente (MBSR), de acordo com Steven Stanos, presidente da American Academy of Pain Medicine.
Na meditação consciente, uma pessoa é ensinada a tomar consciência da sua respiração, pensamentos e sensações físicas no momento presente e visualizá-los sem julgamento. Pesquisas recentes mostram que a meditação consciente para a terapia da gestão da dor é uma promessa. No entanto, notam-se lacunas nessas pesquisas que precisam ser preenchidas e melhor encaminhadas antes que os médicos possam recomendar tal prática.
Recentemente, dois grandes ensaios clínicos1 randomizados mostraram que a meditação consciente pode ajudar a reduzir a dor lombar crônica. Pesquisadores do Group Health Research Institute, em Seattle, randomizaram 342 adultos com dor lombar crônica em três grupos: um participando em oito sessões semanais de 2 horas de MBSR que incluíam meditação e yoga, outro participando de oito sessões semanais de 2 horas usando terapia de formação cognitivo2-comportamental (CBT) para ensinar aos participantes como mudar seus pensamentos sobre a dor e um terceiro grupo recebendo cuidados habituais que incluíam medicamentos anti-inflamatórios, opioides ou fisioterapia3. Os grupos MBSR e CBT também continuaram com os seus cuidados médicos habituais e os participantes receberam materiais e instruções para a prática entre as sessões. Após 26 semanas, 43,6% dos adultos do grupo MBSR tinha experimentado redução clinicamente significativa na dor, em comparação com 44,9% no grupo CBT e 26,6% que receberam apenas os cuidados habituais.
Outro estudo envolvendo 282 idosos, na University of Pittsburgh School of Medicine, mostrou que a meditação consciente pode ajudar a reduzir a dor lombar crônica. Ao grupo da intervenção foram oferecidas oito sessões semanais de meditação consciente, seguidas por seis sessões mensais. Aos seis meses de acompanhamento 44,4% do grupo da intervenção experimentaram pelo menos uma diminuição de 30% na sua dor lombar crônica em comparação com 25,2% do grupo controle.
Tais estudos destacam como terapias mente-corpo, tais como a meditação consciente, podem ser uma promessa no tratamento da dor crônica. Eles também ilustram que a dor é um fenômeno complexo que envolve mais do que um impulso nervoso direto do tecido4 ou membro afetado para o córtex sensorial somático. Os pensamentos e as emoções de uma pessoa também desempenham papel importante na percepção da dor.
Os pesquisadores estão tentando entender os mecanismos neurais subjacentes aos efeitos de alívio da dor da meditação consciente, o que pode ajudar a determinar como esta prática pode ser combinada a outras terapias para redução da dor, bem como fornecer aos pesquisadores informações que irão ajudá-los a desenvolver novas terapias. O próximo passo na pesquisa é identificar os neurotransmissores e receptores que provocam os efeitos de redução da dor com a prática da meditação consciente.
Se as provas tornarem-se sólidas o suficiente para os clínicos adicionarem a meditação consciente à prática clínica de manejo da dor, os médicos precisarão de orientação sobre como usar os tratamentos e encaminhar adequadamente os pacientes para especialistas em saúde5 comportamental ou aulas de treinamento de meditação. O que pode ser difícil, pois muitos médicos não estão acostumados a integrar saúde5 comportamental ao manejo farmacológico da dor, disse Steven Stanos. Uma alternativa é tornar a meditação consciente e outras terapias mente-corpo mais facilmente disponíveis e incorporá-las a programas de internações ou a uma clínica de gestão de dor, com a participação de terapeutas físicos e psicólogos na equipe para mostrar aos pacientes como a meditação consciente pode ajudar a aliviar a sua dor.
Em resposta às preocupações crescentes sobre o uso abusivo de medicamentos opioides e o aumento das mortes relacionadas, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), no início de 2016, emitiu uma diretriz de prescrição de opioides para os médicos de cuidados primários em regime ambulatorial (Dowell D et al JAMA 2016..; 315 [15]: 1624-1645). As principais recomendações para médicos que tratam de pacientes com dor não devida ao câncer6 ou em condições de fim de vida incluem:
- Terapias não farmacológicas e não opioides de gestão da dor são as preferidas para tratamento da dor crônica.
- Os opioides devem ser usados apenas se os benefícios esperados na redução da dor e na melhoria funcional superarem os riscos. Os opioides devem ser continuados apenas se benefícios clinicamente significativos forem alcançados e superarem os riscos.
- Os médicos devem estabelecer metas de tratamento com os pacientes e discutir com eles os riscos e os benefícios da medicação opioide.
- Os médicos devem prescrever a menor dose eficaz e avaliar os riscos e benefícios antes de prescreverem doses equivalentes a 50 miligramas de morfina ou mais por dia.
- A menor dose possível de opioides de libertação imediata deve ser prescrita para a dor aguda, geralmente por três dias ou menos.
- Os médicos devem obter um teste de urina7 dos pacientes e avaliar a sua história de uso de opioides antes de prescreverem opioides.
- Opiáceos e benzodiazepínicos não devem ser prescritos simultaneamente.
Fonte: The Journal of the American Medical Association (JAMA), de 20 de maio de 2016