Estudo liga sacarose à hiperlipidemia e ao câncer de bexiga: uma análise histórica de documentos internos publicada pela PLOS Biology
Em 1965, a Sugar Research Foundation (SRF) financiou secretamente uma revisão no New England Journal of Medicine que comprovou evidências que ligam o consumo de sacarose aos níveis de lipídios no sangue1 e, portanto, à doença coronariana2 (DC). A SRF subsequentemente financiou pesquisas com animais para avaliar os riscos de DC relacionada à sacarose. O objetivo deste estudo foi examinar o planejamento, o financiamento e a avaliação interna de um projeto de pesquisa financiado pela SRF intitulado "Project 259: Dietary Carbohydrate and Blood Lipids in Germ-Free Rats", ou SRF Project 259, liderado pelo Dr. W.F.R. Pover, na Universidade de Birmingham, no Reino Unido, entre 1967 e 1971. Um método narrativo de estudo de caso foi utilizado para avaliar o Projeto SRF 259 com base em documentos internos da indústria do açúcar3. O projeto 259 encontrou uma diminuição estatisticamente significativa nos triglicerídeos séricos em "germ free-rats" (ratos livres de germes) alimentados com uma dieta de alto teor de açúcar3 em comparação com ratos convencionais alimentados com uma dieta PRM básica (dieta granulada contendo refeições de cereais, farelo de soja, farinha de peixe branco e fermento seco fortificado com suplemento vitamínico equilibrado e mistura de oligoelementos). Os resultados sugeriram ao SRF que a microbiota4 intestinal tem um papel causal na hipertrigliceridemia induzida por carboidratos. Um estudo comparando ratos convencionais alimentados com uma dieta de alto teor de açúcar3 com aqueles que se alimentaram com uma dieta com alto teor de amido sugeriu que o consumo de sacarose poderia estar associado a níveis elevados de beta-glucuronidase, uma enzima5 previamente associada ao câncer6 de bexiga7 em humanos. O SRF encerrou o Projeto 259 sem publicar os resultados. A indústria do açúcar3 não divulgou evidências de danos causados por estudos em animais que (1) fortaleciam a hipótese de que o risco de doença coronariana2 relacionada à sacarose seja maior do que relacionada ao amido e (2) que a sacarose deveria ser examinada como um potencial agente carcinogênico. A influência da microbiota4 intestinal nos efeitos diferenciais da sacarose e do amido nos lipídios sanguíneos, bem como a influência da qualidade dos carboidratos na beta-glucuronidase e na atividade do câncer6 merecem uma maior atenção dos pesquisadores.
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