A ingestão de peixes durante a gravidez pode melhorar o desenvolvimento cerebral do feto, mas requer cuidados com o mercúrio
A preocupação de que a grande ingestão de mercúrio possa causar efeitos adversos ao desenvolvimento fetal fez com que o Food and Drug Administration (FDA) recomendasse às gestantes uma limitação na ingestão de peixes (não mais do que duas refeições semanais). Apesar disso, as grávidas devem estar atentas a um novo estudo de pesquisadores de Harvard que sugere que esta recomendação pode fazer com que os peixes sejam eliminados de sua dieta, impedindo os substanciais benefícios neurocognitivos adquiridos de importantes nutrientes, como os ácidos graxos n-3 polinsaturados.
O mercúrio é um metal que está presente no ambiente tanto naturalmente como também como um produto da poluição industrial. A maioria dos peixes contém algum nível deste metal, mas alguns peixes de tamanho grande e de maior longevidade chegam a acumular altos níveis mercuriais, que podem vir a lesar o cérebro1 fetal em desenvolvimento. Apesar da exposição ao mercúrio em níveis altos com a ingestão de certos tipos de peixes, os novos achados sugerem que uma dieta pré-natal saudável deve incluir peixes e outros frutos do mar que tenham baixo teor de mercúrio.
Com o objetivo de determinar se o consumo de peixes é benéfico ou prejudicial para o desenvolvimento cerebral do feto2, foram examinadas as associações entre o consumo materno de peixes durante o segundo trimestre da gravidez3, os níveis de mercúrio em amostras de cabelos maternos (marcador sensível da taxa de mercúrio corporal) no momento do parto e a cognição4 infantil na idade de seis meses (através de um teste chamado visual recognition memory). Fizeram parte do estudo 135 grávidas que participam do Project Viva, um estudo prospectivo5 de coorte6 com grávidas e crianças em Massachusetts.
Após análise da idade materna e dos níveis educacionais, a ingestão de peixes mais altas mostraram associação com a alta cognição4 infantil, especialmente depois de ajustados os níveis de mercúrio, os quais mostram um impacto negativo dose-dependente na cognição4 infantil. Os bebês7 com os mais altos scores de cognição4 foram os de mães que ingeriam peixes mais de duas vezes por semana e que tinham níveis baixos de mercúrio nos cabelos.
Embora os resultados pareçam contraditórios, os autores sugerem que os maiores benefícios cognitivos8 resultam das mães que ingeriram tipos de peixes com baixo teor de mercúrio e com alto teor de nutrientes. Mas até o momento eles não dispõem de dados sobre os tipos específicos de peixes que devem ser ingeridos. Estudos futuros podem acrescentar informações dietéticas para as grávidas.