Associação entre cuidados paliativos e resultados de saúde em adultos com doença terminal não oncológica
Um estudo de coorte1 pareado baseado na população, realizado em Ontário, Canadá, entre 2010 e 2015, foi publicado pelo The British Medical Journal com o objetivo de medir as associações entre os cuidados paliativos2 recém-iniciados nos últimos seis meses de vida, o uso de assistência médica e o local da morte em adultos morrendo de doenças não cancerígenas, e comparar essas associações com as dos adultos morrendo de câncer3 no nível populacional.
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Os participantes foram 113.540 adultos morrendo de câncer3 e outras doenças não cancerígenas que receberam cuidados paliativos2 recentemente iniciados, oferecidos por médico, nos últimos seis meses de vida, administrados em todos os estabelecimentos de saúde4.
Dados administrativos de saúde4 vinculados foram usados para comparar diretamente pacientes com causa de morte, escore de risco de fragilidade hospitalar, presença de câncer3 metastático, localização residencial (de acordo com 1 de 14 redes locais de integração de saúde4 que organizam todos os serviços de saúde4 em Ontário) e um escore de propensão a receber cuidados paliativos2 que foi derivado usando idade e sexo.
Os principais resultados e medidas foram as taxas de visitas ao departamento de emergência5, internações hospitalares e internações em unidades de terapia intensiva6, e chances de morte em casa versus hospitalar após a primeira consulta de cuidados paliativos2, ajustadas pelas características do paciente (como idade, sexo e comorbidades7).
Nos pacientes morrendo de doenças não cancerígenas relacionadas à falência de órgãos crônica (como insuficiência cardíaca8, cirrose9 e acidente vascular cerebral10), os cuidados paliativos2 foram associados a taxas reduzidas de visitas ao departamento de emergência5 (taxa bruta 1,9 (desvio padrão 6,2) vs. 2,9 (8,7) por pessoa-ano; rate ratio ajustada 0,88, intervalo de confiança de 95% 0,85 a 0,91), internações hospitalares (taxa bruta 6,1 (desvio padrão 10,2) vs. 8,7 (12,6) por pessoa-ano; rate ratio ajustada 0,88, intervalo de confiança de 95% 0,86 a 0,91) e internações em unidade de terapia intensiva6 (taxa bruta 1,4 (desvio padrão 5,9) vs. 2,9 (8,7) por pessoa-ano; rate ratio ajustada 0,59, intervalo de confiança de 95% 0,56 a 0,62), em comparação com aqueles que não receberam cuidados paliativos2.
Além disso, foram encontradas nesses pacientes chances aumentadas de morrer em casa ou em um lar de idosos em comparação com a morte no hospital (n = 6.936 (49,5%) vs. n = 9.526 (39,6%); odds ratio ajustada 1,67, intervalo de confiança de 95% 1,60 a 1,74).
No geral, em pacientes morrendo de demência11, os cuidados paliativos2 foram associados ao aumento das taxas de visitas ao departamento de emergência5 (taxa bruta 1,2 (desvio padrão 4,9) vs. 1,3 (5,5) por pessoa-ano; rate ratio ajustada 1,06, intervalo de confiança de 95% 1,01 a 1,12) e internações hospitalares (taxa bruta 3,6 (desvio padrão 8,2) vs. 2,8 (7,8) por pessoa-ano; rate ratio ajustada 1,33, intervalo de confiança de 95% 1,27 a 1,39) e chances reduzidas de morrer em casa ou em um lar de idosos (n = 6.667 (72,1%) vs. n = 13.384 (83,5%); odds ratio ajustada 0,68, intervalo de confiança de 95% 0,64 a 0,73).
No entanto, essas taxas diferiam dependendo se os pacientes morrendo com demência11 viviam na comunidade ou em um lar de idosos. Não foi encontrada associação entre uso de assistência médica e cuidados paliativos2 para pacientes12 morrendo de demência11 que moravam na comunidade, e esses pacientes tinham chances aumentadas de morrer em casa.
Esses achados destacam os benefícios potenciais dos cuidados paliativos2 em algumas doenças não oncológicas. Aumentar o acesso aos cuidados paliativos2 por meio de investimentos sustentados em treinamento médico e nos modelos atuais de cuidados paliativos2 colaborativos pode melhorar os cuidados no final da vida, o que pode ter implicações importantes para as políticas de saúde4.
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Fonte: The BMJ, publicação em 06 de julho de 2020.