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Hipotireoidismo subclínico durante a gravidez foi associado a um maior risco de pré-eclâmpsia

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A função tireoidiana materna adequada é importante para uma gravidez1 sem complicações. Embora vários estudos observacionais tenham avaliado a associação entre disfunção tireoidiana e distúrbios hipertensivos da gravidez1, os métodos e as definições de anormalidades nos testes de função tireoidiana foram heterogêneos e os resultados foram conflitantes.

O objetivo neste novo estudo, publicado pelo The Lancet Diabetes2 & Endocrinology, foi examinar a associação entre anormalidades nos testes de função tireoidiana e risco de hipertensão3 gestacional e pré-eclâmpsia4.

Saiba mais sobre "Avaliação da tireoide5" e "Diferenças entre pré-eclâmpsia4 e eclâmpsia6".

Nesta revisão sistemática e metanálise de dados de participantes individuais, foram pesquisadas as bases de dados MEDLINE (Ovid), Embase, Scopus e Cochrane Database of Systematic Reviews desde a data de início até 27 de dezembro de 2019, para estudos de coorte7 prospectivos com dados sobre concentrações de hormônio8 estimulante da tireoide5 (TSH), tiroxina livre (T4 livre), anticorpos9 da peroxidase tireoidiana (TPO), individualmente ou em combinação, bem como sobre hipertensão3 gestacional, pré-eclâmpsia4 ou ambos.

Foram emitidos convites abertos aos autores dos estudos para participarem do Consórcio sobre Tireoide5 e Gravidez1 e compartilhar os dados das participantes individuais. Foram excluídas as participantes que tinham doença pré-existente da tireoide5 ou gravidez1 multifetal, ou estavam tomando medicamentos que afetam a função da tireoide5.

Os desfechos primários foram hipertensão3 gestacional documentada e pré-eclâmpsia4. Os dados de participantes individuais foram analisados usando modelos de regressão logística de efeitos mistos ajustando para idade materna, IMC10, tabagismo, paridade, etnia e idade gestacional na coleta de sangue11.

Foram identificados 1.539 estudos publicados, dos quais 33 coortes preencheram os critérios de inclusão e 19 coortes foram incluídas após os autores concordarem em participar. A população de estudo foi composta por 46.528 gestantes, das quais 39.826 (85,6%) mulheres tinham dados suficientes (concentrações de TSH e T4 livre e status de anticorpos9 da TPO) para serem classificadas de acordo com seu status de função tireoidiana.

Destas mulheres, 1.275 (3,2%) tinham hipotireoidismo12 subclínico, 933 (2,3%) tinham hipotireoidismo12 isolado, 619 (1,6%) tinham hipertireoidismo13 subclínico e 337 (0,8%) tinham hipertireoidismo13 evidente.

Comparado com o eutireoidismo, o hipotireoidismo12 subclínico foi associado a um risco maior de pré-eclâmpsia4 (2,1% vs 3,6%; OR 1,53 [IC 95% 1,09-2,15]).

O hipertireoidismo13 subclínico, a hipotiroxinemia isolada ou a positividade do anticorpo14 da TPO não foram associados à hipertensão3 gestacional ou pré-eclâmpsia4.

Em análises contínuas, tanto a concentração mais alta quanto a mais baixa de TSH foram associadas a um maior risco de pré-eclâmpsia4 (p = 0,0001).

As concentrações de T4 livre não foram associadas com os resultados medidos.

O estudo concluiu que, comparado ao eutireoidismo, o hipotireoidismo12 subclínico durante a gravidez1 foi associado a um maior risco de pré-eclâmpsia4. Houve associação em forma de U de TSH com pré-eclâmpsia4.

Esses resultados quantificam os riscos de hipertensão3 gestacional ou pré-eclâmpsia4 em mulheres com anormalidades nos testes de função tireoidiana, somando-se ao conjunto total de evidências sobre o risco de desfechos maternos e fetais adversos da disfunção tireoidiana durante a gravidez1.

Esses achados têm implicações potenciais para definir o alvo ideal de tratamento em mulheres tratadas com levotiroxina15 durante a gravidez1, o que precisa ser avaliado em futuros estudos de intervenção.

Leia sobre "Hipertensão3 da gravidez1", "Hipotireoidismo12 subclínico" e "Gravidez1 de risco".

 

Fonte: The Lancet Diabetes2 & Endocrinology, Vol. 10, Nº 4, em 01 de abril de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Hipotireoidismo subclínico durante a gravidez foi associado a um maior risco de pré-eclâmpsia. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1413265/hipotireoidismo-subclinico-durante-a-gravidez-foi-associado-a-um-maior-risco-de-pre-eclampsia.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.

Complementos

1 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
2 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
3 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
4 Pré-eclâmpsia: É caracterizada por hipertensão, edema (retenção de líquidos) e proteinúria (presença de proteína na urina). Manifesta-se na segunda metade da gravidez (após a 20a semana de gestação) e pode evoluir para convulsão e coma, mas essas condições melhoram com a saída do feto e da placenta. No meio médico, o termo usado é Moléstia Hipertensiva Específica da Gravidez. É a principal causa de morte materna no Brasil atualmente.
5 Tireoide: Glândula endócrina altamente vascularizada, constituída por dois lobos (um em cada lado da TRAQUÉIA) unidos por um feixe de tecido delgado. Secreta os HORMÔNIOS TIREOIDIANOS (produzidos pelas células foliculares) e CALCITONINA (produzida pelas células para-foliculares), que regulam o metabolismo e o nível de CÁLCIO no sangue, respectivamente.
6 Eclâmpsia: Ocorre quando a mulher com pré-eclâmpsia grave apresenta covulsão ou entra em coma. As convulsões ocorrem porque a pressão sobe muito e, em decorrência disso, diminui o fluxo de sangue que vai para o cérebro.
7 Estudos de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
8 Hormônio: Substância química produzida por uma parte do corpo e liberada no sangue para desencadear ou regular funções particulares do organismo. Por exemplo, a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que diz a outras células quando usar a glicose para energia. Hormônios sintéticos, usados como medicamentos, podem ser semelhantes ou diferentes daqueles produzidos pelo organismo.
9 Anticorpos: Proteínas produzidas pelo organismo para se proteger de substâncias estranhas como bactérias ou vírus. As pessoas que têm diabetes tipo 1 produzem anticorpos que destroem as células beta produtoras de insulina do próprio organismo.
10 IMC: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
11 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
12 Hipotireoidismo: Distúrbio caracterizado por uma diminuição da atividade ou concentração dos hormônios tireoidianos. Manifesta-se por engrossamento da voz, aumento de peso, diminuição da atividade, depressão.
13 Hipertireoidismo: Doença caracterizada por um aumento anormal da atividade dos hormônios tireoidianos. Pode ser produzido pela administração externa de hormônios tireoidianos (hipertireoidismo iatrogênico) ou pelo aumento de uma produção destes nas glândulas tireóideas. Seus sintomas, entre outros, são taquicardia, tremores finos, perda de peso, hiperatividade, exoftalmia.
14 Anticorpo: Proteína circulante liberada pelos linfócitos em reação à presença no organismo de uma substância estranha (antígeno).
15 Levotiroxina: Levotiroxina sódica ou L-tiroxina (T4) é um hormônio sintético usado no tratamento de reposição hormonal quando há déficit de produção de tiroxina (T4) pela glândula tireoide.
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