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Terapia com imatinibe para pacientes com diabetes tipo 1 de início recente pode oferecer um novo meio de alterar o curso da doença

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O diabetes tipo 11 resulta da destruição autoimune2 de células3 β. O inibidor da tirosina4 quinase imatinibe pode afetar as vias imunológicas e metabólicas relevantes, e estudos pré-clínicos mostram que ele reverte e previne o diabetes5.

O objetivo deste estudo, publicado pelo The Lancet Diabetes5 & Endocrinology, foi avaliar a segurança e eficácia do imatinibe na preservação da função das células3 β em pacientes com diabetes5 tipo 1 de início recente.

Foi realizado um estudo multicêntrico, randomizado6, duplo-cego, controlado por placebo7, de fase 2. Pacientes com diabetes tipo 11 de início recente (<100 dias a partir do diagnóstico8), com idade entre 18-45 anos, positivo para pelo menos um tipo de autoanticorpo associado ao diabetes5 e com pico de peptídeo C9 estimulado superior a 0,2 nmol L-1 em um teste de tolerância à refeição mista (TTRM) foram inscritos em nove centros médicos nos EUA (n = 8) e na Austrália (n = 1).

Leia sobre "Doenças autoimunes10", "Diabetes Mellitus11" e "Quatro vezes mais anos de vida perdidos para diabetes tipo 11 do que para diabetes tipo 212".

Os participantes foram designados aleatoriamente (2:1) para receber 400 mg de mesilato de imatinibe (4 comprimidos de 100 mg por dia) ou placebo7 durante 26 semanas por meio de um esquema de randomização bloqueado gerado por computador estratificado por centro. As atribuições de tratamento foram mascaradas para todos os participantes e pessoal do estudo, exceto farmacêuticos em cada centro clínico.

O desfecho primário foi a diferença média na área sob a curva (AUC13) para a resposta do peptídeo C9 nas primeiras 2h de um TTRM aos 12 meses no grupo de imatinibe versus o grupo de placebo7, com uso de um ajuste de modelo ANCOVA para sexo, idade basal e peptídeo C9 basal, com observação adicional até 24 meses. A análise primária foi por intenção de tratar (IDT). A segurança foi avaliada em todos os participantes designados aleatoriamente.

Os pacientes foram selecionados e inscritos entre 12 de fevereiro de 2014 e 19 de maio de 2016. 45 pacientes foram designados para receber imatinibe e 22 para receber placebo7. Após saídas do estudo, 43 participantes no grupo imatinibe e 21 no grupo placebo7 foram incluídos na análise de IDT primária em 12 meses.

O estudo atingiu seu desfecho primário: a diferença média ajustada na AUC13 do peptídeo C9 de 2h em 12 meses para o tratamento com imatinibe versus placebo7 foi de 0,095 (IC 90% -0,003 a 0,191; p = 0,048, teste unilateral). Este efeito não foi sustentado por 24 meses.

Durante o acompanhamento de 24 meses, 32 (71%) dos 45 participantes que receberam imatinibe apresentaram um evento adverso com gravidade de grau 2 ou pior, em comparação com 13 (59%) dos 22 participantes que receberam placebo7.

Os eventos adversos mais comuns (gravidade de grau 2 ou pior) que diferiram entre os grupos foram problemas gastrointestinais (seis [13%] participantes no grupo de imatinibe, principalmente náuseas14, e nenhum no grupo de placebo7) e investigações laboratoriais adicionais (dez [22%] participantes no grupo imatinibe e dois [9%] no grupo placebo7).

De acordo com o protocolo do estudo, 17 (38%) participantes do grupo de imatinibe precisaram de uma modificação temporária na dosagem do medicamento e seis (13%) interromperam definitivamente o imatinibe devido a eventos adversos; cinco (23%) participantes do grupo de placebo7 tiveram modificações temporárias na dosagem e nenhum teve uma interrupção permanente devido a eventos adversos.

O estudo demonstrou que um curso de 26 semanas com imatinibe preservou a função das células3 β em 12 meses em adultos com diabetes5 tipo 1 de início recente. O imatinibe pode oferecer um novo meio de alterar o curso do diabetes tipo 11.

Considerações futuras são definir a dose ideal e a duração da terapia, segurança e eficácia em crianças, uso de combinação com um medicamento complementar e capacidade do imatinibe de retardar ou prevenir a progressão para diabetes5 em uma população de risco; no entanto, é necessário um monitoramento cuidadoso para possíveis toxicidades.

Veja também sobre "Aumentos dos casos de diabetes tipo 11", "Opções de tratamentos para o diabetes5" e "O papel da insulina15 no corpo".

 

Fonte: The Lancet Diabetes5 & Endocrinology, Vol. 9, Nº 8, em agosto de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Terapia com imatinibe para pacientes com diabetes tipo 1 de início recente pode oferecer um novo meio de alterar o curso da doença. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1398330/terapia-com-imatinibe-para-pacientes-com-diabetes-tipo-1-de-inicio-recente-pode-oferecer-um-novo-meio-de-alterar-o-curso-da-doenca.htm>. Acesso em: 19 mar. 2024.

Complementos

1 Diabetes tipo 1: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada por deficiência na produção de insulina. Ocorre quando o próprio sistema imune do organismo produz anticorpos contra as células-beta produtoras de insulina, destruindo-as. O diabetes tipo 1 se desenvolve principalmente em crianças e jovens, mas pode ocorrer em adultos. Há tendência em apresentar cetoacidose diabética.
2 Autoimune: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
3 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
4 Tirosina: É um dos aminoácidos polares, sem carga elétrica, que compõem as proteínas, caracterizado pela cadeia lateral curta na qual está presente um anel aromático e um grupamento hidroxila.
5 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
6 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
7 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
8 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
9 Peptídeo C: (Connecting peptide) Substância que o pâncreas libera para a corrente sangüínea em igual quantidade de insulina. Indiretamente, indica a secreção de insulina pelo pâncreas. Um teste com baixos níveis de peptídeo C demonstra deficiência de secreção da insulina. Valores abaixo de 1,2 ng/ml indicam deficiência severa de insulina e necessidade de administração de insulina para o tratamento do diabetes.
10 Autoimunes: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
11 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
12 Diabetes tipo 2: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada tanto por graus variáveis de resistência à insulina quanto por deficiência relativa na secreção de insulina. O tipo 2 se desenvolve predominantemente em pessoas na fase adulta, mas pode aparecer em jovens.
13 AUC: A área sob a curva ROC (Receiver Operator Characteristic Curve ou Curva Característica de Operação do Receptor), também chamada de AUC, representa a acurácia ou performance global do teste, pois leva em consideração todos os valores de sensibilidade e especificidade para cada valor da variável do teste. Quanto maior o poder do teste em discriminar os indivíduos doentes e não doentes, mais a curva se aproxima do canto superior esquerdo, no ponto que representa a sensibilidade e 1-especificidade do melhor valor de corte. Quanto melhor o teste, mais a área sob a curva ROC se aproxima de 1.
14 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
15 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
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