Estudo fornece evidências de morbidade neurológica e psiquiátrica substancial nos 6 meses após a infecção por COVID-19
Sequelas1 neurológicas e psiquiátricas de COVID-19 foram relatadas, mas mais dados são necessários para avaliar adequadamente os efeitos da COVID-19 na saúde2 do cérebro3. O objetivo nesse estudo, publicado pelo The Lancet Psychiatry, foi fornecer estimativas robustas de taxas de incidência4 e riscos relativos de diagnósticos neurológicos e psiquiátricos em pacientes nos 6 meses após um diagnóstico5 de COVID-19.
Para este estudo de coorte6 retrospectivo7 e análise de tempo até o evento, foram usados dados obtidos da rede de prontuários eletrônicos de saúde2 TriNetX (com mais de 81 milhões de pacientes). A coorte8 primária incluiu pacientes com diagnóstico5 de COVID-19; uma coorte8 de controle pareada incluiu pacientes com diagnóstico5 de influenza9, e a outra coorte8 de controle pareada incluiu pacientes com diagnóstico5 de qualquer infecção10 do trato respiratório, incluindo influenza9, no mesmo período.
Pacientes com diagnóstico5 de COVID-19 ou teste positivo para SARS-CoV-2 foram excluídos das coortes de controle. Todas as coortes incluíram pacientes com mais de 10 anos que tiveram um evento índice em ou após 20 de janeiro de 2020, e que ainda estavam vivos em 13 de dezembro de 2020.
Leia sobre "Manifestações neurológicas de pacientes com COVID-19" e "Associações bidirecionais entre COVID-19 e transtorno psiquiátrico".
Estimou-se a incidência4 de 14 desfechos neurológicos e psiquiátricos nos 6 meses após um diagnóstico5 confirmado de COVID-19:
- hemorragia11 intracraniana;
- acidente vascular cerebral12 isquêmico13;
- parkinsonismo;
- síndrome14 de Guillain-Barré;
- distúrbios nervosos, das raízes nervosas15 e do plexo;
- doença muscular e da junção mioneural;
- encefalite16;
- demência17;
- transtornos psicóticos, de humor e de ansiedade (agrupados e separadamente);
- transtorno de uso de substâncias;
- e insônia.
Usando um modelo de Cox, comparou-se as incidências com aquelas em coortes de pacientes com influenza9 ou outras infecções18 do trato respiratório com escore de propensão compatível. Investigou-se como essas estimativas foram afetadas pela gravidade da COVID-19, representada por hospitalização, admissão na unidade de terapia intensiva19 (UTI) e encefalopatia20 (delirium21 e distúrbios relacionados).
Foi avaliada a robustez das diferenças nos resultados entre coortes, repetindo a análise em diferentes cenários. Para fornecer avaliação comparativa para a incidência4 e risco de sequelas1 neurológicas e psiquiátricas, comparou-se a coorte8 primária com quatro coortes de pacientes diagnosticados no mesmo período com eventos de índice adicionais: infecção10 de pele22, urolitíase, fratura23 de um grande osso e embolia24 pulmonar.
Entre 236.379 pacientes com diagnóstico5 de COVID-19, a incidência4 estimada de um diagnóstico5 neurológico ou psiquiátrico nos 6 meses seguintes foi de 33,62% (IC de 95% 33,17-34,07), com 12,84% (12,36-13,33) recebendo o primeiro diagnóstico5 deste tipo.
Para pacientes25 que foram admitidos em uma UTI, a incidência4 estimada de um diagnóstico5 foi 46,42% (44,78-48,09) e para um primeiro diagnóstico5 foi 25,79% (23,50-28,25).
Em relação aos diagnósticos individuais dos resultados do estudo, toda a coorte8 COVID-19 teve incidências estimadas de:
- 0,56% (0,50-0,63) para hemorragia11 intracraniana,
- 2,10% (1,97-2,23) para acidente vascular cerebral12 isquêmico13,
- 0,11% (0,08-0,14) para parkinsonismo,
- 0,67% (0,59-0,75) para demência17,
- 17,39% (17,04-17,74) para transtorno de ansiedade,
- e 1,40% (1,30-1,51) para transtorno psicótico, entre outros.
No grupo com admissão na UTI, as incidências estimadas foram de:
- 2,66% (2,4-3,16) para hemorragia11 intracraniana,
- 6,92% (6,17-7,76) para acidente vascular cerebral12 isquêmico13,
- 0,26% (0,15-0,45) para parkinsonismo,
- 1,74% (1,31-2,30) para demência17,
- 19,15% (17,90-20,48) para transtorno de ansiedade,
- e 2,77% (2,31-3,33) para transtorno psicótico.
A maioria das categorias de diagnóstico5 foram mais comuns em pacientes que tiveram COVID-19 do que naqueles que tiveram influenza9 (razão de risco [HR] 1,44, IC 95% 1,40-1,47, para qualquer diagnóstico5; 1,78, 1,68-1,89, para qualquer primeiro diagnóstico5) e naqueles que tiveram outras infecções18 do trato respiratório (1,16, 1,14-1,17, para qualquer diagnóstico5; 1,32, 1,27-1,36, para qualquer primeiro diagnóstico5).
Tal como acontece com as incidências, as HRs foram maiores em pacientes que tinham COVID-19 mais grave (por exemplo, aqueles que foram internados na UTI em comparação com aqueles que não foram: 1,58, 1,50-1,67, para qualquer diagnóstico5; 2,87, 2,45-3,35, para qualquer primeiro diagnóstico5).
Os resultados foram robustos para várias análises de sensibilidade e avaliação comparativa contra os quatro eventos de saúde2 de índice adicionais.
Esse estudo fornece evidências de morbidade26 neurológica e psiquiátrica substancial nos 6 meses após a infecção10 por COVID-19. Os riscos foram maiores – mas não limitados a – pacientes com COVID-19 grave.
Essas informações podem ajudar no planejamento de serviços e na identificação de prioridades de pesquisa. Desenhos de estudos complementares, incluindo coortes prospectivas, são necessários para corroborar e explicar esses achados.
Veja também sobre "Transtorno de ansiedade generalizada", "SARS-CoV-2 prejudica a viabilidade neuronal" e "Saúde2 mental".
Fonte: The Lancet Psychiatry, publicação em 06 de abril de 2021.