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Aspirina pode aumentar o risco de câncer e da mortalidade mais precoce em idosos

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Os resultados de um recente ensaio clínico indicam que, para idosos com câncer1 avançado, o início da terapia com aspirina pode aumentar o risco de progressão da doença e morte precoce. Notavelmente, a grande maioria dos participantes do estudo não tomava aspirina antes dos 70 anos.

O estudo, conduzido por pesquisadores da Harvard Medical School no Massachusetts General Hospital e colegas do Berman Center for Clinical Outcomes and Research em Minnesota e da Monash University na Austrália, foi publicado no Journal of the National Cancer1 Institute.

“As mortes foram particularmente altas entre aqueles que receberam aspirina e foram diagnosticados com cânceres sólidos avançados, sugerindo um possível efeito adverso da aspirina no crescimento dos cânceres, uma vez que já se desenvolveram em idosos”, disse o autor sênior2 do estudo, Andrew Chan, professor de medicina na HMS.

Leia sobre "Câncer1 - informações importantes" e "Prevenção do câncer1".

Os resultados sugerem a possibilidade de que a aspirina pode agir de forma diferente, a nível celular ou molecular, em pessoas mais velhas, e mais estudos são necessários para compreender melhor os mecanismos subjacentes, disse Chan, que é chefe da Unidade de Epidemiologia Clínica e Translacional do Mass General e diretor de epidemiologia do Mass General Cancer1 Center.

Ensaios clínicos3 anteriores revelaram evidências convincentes de que a aspirina pode reduzir o risco de desenvolver câncer1, especialmente câncer1 colorretal, predominantemente em adultos de meia-idade. No entanto, faltam informações para os idosos.

Para fornecer informações, os investigadores desenvolveram e iniciaram o ensaio ASPirina na Redução de Eventos em Idosos (ASPREE), um ensaio randomizado4 duplo-cego controlado por placebo5 (ECR) de aspirina em baixa dose diária (100 mg) em idosos, que mostrou um aumento na mortalidade6 por todas as causas, principalmente devido ao câncer1. Em contraste com ECRs anteriores, que envolveram principalmente indivíduos mais jovens e demonstraram um benefício tardio do câncer1 com a aspirina.

No presente estudo, os pesquisadores relataram uma análise detalhada da incidência7 e mortalidade6 por câncer1.

19.114 participantes australianos e americanos residentes na comunidade com mais de 70 anos (minorias americanas com mais de 65 anos) sem doença cardiovascular, demência8 ou deficiência física foram randomizados e acompanhados por uma média de 4,7 anos. Eventos fatais e não fatais de câncer1, um desfecho secundário pré-especificado, foram julgados com base em registros clínicos.

981 eventos de câncer1 ocorreram no grupo da aspirina e 952 no grupo de placebo5. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos para todos os cânceres incidentes9 (HR = 1,04, IC 95% = 0,95 a 1,14), câncer1 hematológico (HR = 0,98, IC 95% = 0,73 a 1,30) ou todos os cânceres sólidos (HR = 1,05 , IC 95% = 0,95 a 1,15), incluindo por tipo específico de tumor10.

No entanto, a aspirina foi associada a um risco aumentado de câncer1 incidente11 que teve metástase12 (HR = 1,19, IC 95% = 1,00 a 1,43) ou estava no estágio 4 no diagnóstico13 (HR = 1,22, IC 95% = 1,02 a 1,45), e com maior risco de morte para cânceres que se apresentaram nos estágios 3 (HR = 2,11, IC 95% = 1,03 a 4,33) ou 4 (HR = 1,31, IC 95% = 1,04 a 1,64).

O estudo concluiu que, em idosos, o tratamento com aspirina teve um efeito adverso nas fases posteriores da evolução do câncer1. Esses achados sugerem que, em idosos, a aspirina pode acelerar a progressão do câncer1 e, portanto, sugere cautela com seu uso nessa faixa etária.

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Fontes:
Journal of the National Cancer1 Institute, publicação em 11 de agosto de 2020.
Harvard Medical School, notícia publicada em 13 de agosto de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2020. Aspirina pode aumentar o risco de câncer e da mortalidade mais precoce em idosos. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1376678/aspirina-pode-aumentar-o-risco-de-cancer-e-da-mortalidade-mais-precoce-em-idosos.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.

Complementos

1 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
2 Sênior: 1. Que é o mais velho. 2. Diz-se de desportistas que já ganharam primeiros prêmios: um piloto sênior. 3. Diz-se de profissionais experientes que já exercem, há algum tempo, determinada atividade.
3 Ensaios clínicos: Há três fases diferentes em um ensaio clínico. A Fase 1 é o primeiro teste de um tratamento em seres humanos para determinar se ele é seguro. A Fase 2 concentra-se em saber se um tratamento é eficaz. E a Fase 3 é o teste final antes da aprovação para determinar se o tratamento tem vantagens sobre os tratamentos padrões disponíveis.
4 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
5 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
6 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
7 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
8 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
9 Incidentes: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
10 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
11 Incidente: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
12 Metástase: Formação de tecido tumoral, localizada em um lugar distante do sítio de origem. Por exemplo, pode se formar uma metástase no cérebro originário de um câncer no pulmão. Sua gravidade depende da localização e da resposta ao tratamento instaurado.
13 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
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