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The Lancet: o risco de tuberculose em crianças após exposição próxima

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Dezenas de milhões de crianças são expostas ao Mycobacterium tuberculosis globalmente todos os anos; no entanto, não há estimativas contemporâneas do risco de desenvolver tuberculose1 em crianças expostas. A eficácia das investigações de contato e da terapia preventiva permanece pouco compreendida.

Nesta revisão sistemática e metanálise, publicada pelo periódico The Lancet, foi investigado o desenvolvimento da tuberculose1 em crianças intimamente expostas a um caso de tuberculose1 e acompanhou-se a doença incidente2.

Saiba mais sobre "Tuberculose1 pulmonar" e "Tratamento da tuberculose1".

A pesquisa foi restringida a estudos de coorte3 publicados entre 1º de janeiro de 1998 e 6 de abril de 2018, nos bancos de dados eletrônicos MEDLINE, Web of Science, BIOSIS e Embase. Dados dos participantes individuais e uma lista pré-especificada de variáveis ​​foram solicitados aos autores de todos os estudos elegíveis. Isso incluiu características da criança exposta, o caso-índice e características ambientais.

Para ser elegível para inclusão na análise final, um conjunto de dados precisava incluir: (1) indivíduos com menos de 19 anos de idade; (2) acompanhamento da tuberculose1 por no mínimo 6 meses; (3) indivíduos com família ou exposição próxima a um indivíduo com tuberculose1; (4) informações sobre idade e sexo da criança; e (5) datas de início e término do acompanhamento. Foram excluídos os estudos que avaliaram a tuberculose1 incidente2, mas sem datas ou tempo de seguimento.

A análise teve dois objetivos principais: (1) estimar o risco de desenvolver tuberculose1 por período de acompanhamento, dados demográficos (idade, região) e atributos clínicos (HIV4, status de infecção5 por tuberculose1, tuberculose1 anterior); e (2) estimar a eficácia da terapia preventiva e da vacinação com BCG6 sobre o risco de desenvolver tuberculose1.

Estimou-se as chances de tuberculose1 prevalente com modelos logísticos de efeitos mistos e taxas de risco ajustadas (HRs) estimadas para tuberculose1 incidente2 com modelos de regressão de Poisson de efeitos mistos. A eficácia da terapia preventiva contra a tuberculose1 incidente2 foi estimada através da correspondência do escore de propensão.

No total, grupos de estudo de 46 estudos de coorte3 em 34 países - 29 (63%) estudos prospectivos e 17 (37%) retrospectivos - concordaram em compartilhar seus dados e foram incluídos na análise final.

137.647 crianças expostas à tuberculose1 foram avaliadas na linha de base e 130.512 crianças foram acompanhadas por 429.538 pessoas-ano, durante os quais 1.299 casos de tuberculose1 prevalente e 999 casos de tuberculose1 incidente2 foram diagnosticados.

As crianças que não receberam terapia preventiva com resultado positivo para infecção5 por tuberculose1 tiveram uma incidência7 cumulativa de tuberculose1 em dois anos significativamente maior do que as crianças com resultado negativo para infecção5 por tuberculose1, e essa incidência7 foi maior em crianças com menos de 5 anos de idade (19,0% [IC 95% 8,4-37,4]).

A eficácia da terapia preventiva foi de 63% (HR ajustada 0,37 [IC 95% 0,30-0,47]) entre todas as crianças expostas e 91% (HR ajustada 0,09 [0,05-0,15] ) entre aqueles com resultado positivo para infecção5 por tuberculose1. Entre todas as crianças com menos de 5 anos de idade que desenvolveram tuberculose1, 83% foram diagnosticadas dentro de 90 dias da consulta inicial.

O estudo concluiu que o risco de desenvolver tuberculose1 entre bebês8 e crianças expostas é muito alto. A maioria dos casos ocorreu poucas semanas após o início da investigação de contato e pode não ser evitável através da profilaxia.

Isso sugere que são necessárias estratégias alternativas de prevenção, como o início precoce da terapia preventiva através do diagnóstico9 rápido de casos adultos ou abordagens de rastreamento em toda a comunidade.

Leia sobre "Vacina10 BCG6", "Tosse seca e persistente" e "Infecções11 oportunistas".

 

Fonte: The Lancet, publicação em 21 de março de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2020. The Lancet: o risco de tuberculose em crianças após exposição próxima. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1363888/the-lancet-o-risco-de-tuberculose-em-criancas-apos-exposicao-proxima.htm>. Acesso em: 20 abr. 2024.

Complementos

1 Tuberculose: Doença infecciosa crônica produzida pelo bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis). Produz doença pulmonar, podendo disseminar-se para qualquer outro órgão. Os sintomas de tuberculose pulmonar consistem em febre, tosse, expectoração, hemoptise, acompanhada de perda de peso e queda do estado geral. Em países em desenvolvimento (como o Brasil) aconselha-se a vacinação com uma cepa atenuada desta bactéria (vacina BCG).
2 Incidente: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
3 Estudos de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
4 HIV: Abreviatura em inglês do vírus da imunodeficiência humana. É o agente causador da AIDS.
5 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
6 BCG: Vacina utilizada para prevenir a tuberculose. Esta é composta por bacilos vivos e atenuados, que não produzem doença em pessoas com imunidade normal.
7 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
8 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
9 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
10 Vacina: Tratamento à base de bactérias, vírus vivos atenuados ou seus produtos celulares, que têm o objetivo de produzir uma imunização ativa no organismo para uma determinada infecção.
11 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
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