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Dois terços das mortes por asma são evitáveis, publicado em artigo do BMJ

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Duas em cada três mortes por asma1 poderiam ser evitadas através de uma melhor gestão da doença, incluindo planos individuais de tratamento da asma1, revisões oportunas dos cuidados necessários e prescrição de medicamentos mais apropriados, de acordo com o primeiro inquérito confidencial sobre asma1 realizado pelo Royal College of Physicians.

O inquérito avaliou em profundidade as circunstâncias em que ocorreram as 195 mortes por asma1 no Reino Unido nos 12 meses que seguiram o mês de fevereiro de 2012. Os revisores identificaram falhas de atenção primária no atendimento de rotina em 70% dos óbitos estudados: em 59% das mortes por asma1 as diretrizes de tratamento da asma1 não estavam sendo totalmente cumpridas e em 47% das mortes foram identificados fatores que podem ser evitados na prescrição dos medicamentos. O relatório mostrou que os cuidados com as crianças foram pior do que com os adultos em vários aspectos do tratamento. Das mortes investigadas, 28 ocorreram em crianças e em jovens com idade inferior a 20 anos.

O inquérito, encomendado pela Healthcare Quality Improvement Partnership, descobriu que durante um ataque de asma1 fatal 45% dos pacientes não tinham chamado ou não obtiveram ajuda médica, sugerindo que eles não tinham conhecimento de como estavam mal, até que fosse tarde demais. Além disso, 70% das crianças e 83% dos jovens com idades entre 10 e 19 anos morreram antes de chegar ao hospital. A maioria dessas pessoas não sabia o que fazer, elas não reconheceram os sinais2 de gravidade e não sabiam como ou quando pedir ajuda. Apenas 23% dos pacientes que morreram tinham recebido um plano de ação personalizado que fornecesse estas informações.

O relatório do inquérito mostrou que muitos dos pacientes que morreram foram subtratados. Quando a gravidade da situação foi registrada, ela foi classificada como grave em apenas 39% dos pacientes. O relatório Why Asthma Still Kills diz que “É provável que muitos pacientes tratados como tendo asma1 leve ou moderada tinham na verdade uma asma1 mal controlada”, acrescentando que isso ficou evidente a partir dos medicamentos prescritos aos pacientes.

Dos pacientes que morreram, 39% tiveram pelo menos doze inaladores de alívio de ação curta prescritos no ano anterior à morte e 4% tinham mais de cinquenta dessas prescrições. Inaladores de corticosteroides para ajudar a prevenir crises de asma1 haviam sido prescritos para 86% das pessoas que morreram, mas 80% receberam menos de doze prescrições por ano e 38% menos de quatro. Para cumprir as recomendações dos protocolos de tratamento, a maioria dos pacientes normalmente exige pelo menos doze prescrições de medicações preventivas por ano, observa o relatório.

Não havia nenhuma evidência de qualquer revisão do tratamento da asma1 em atenção básica durante o ano anterior à morte em 43% das mortes incluídas no inquérito. E quando os sintomas3 não controlados levavam os pacientes a procurar ajuda médica esses sinais2 de alerta não eram trabalhados. As crises de asma1 haviam levado 21% dos que morreram a procurar um serviço de emergência4 nos 12 meses anteriores e mais da metade desses pacientes tinham feito isso mais de uma vez. Um em cada dez pacientes morreu dentro de 28 dias após a alta hospitalar para um tratamento de crise de asma1.

O inquérito recomenda um sistema de vigilância eletrônica "como uma questão de urgência5" para alertar os médicos para a asma1 mal controlada, através do excesso de prescrição de medicação de alívio ou de prescrição insuficiente de medicamentos preventivos.

O relatório também diz que cada hospital e clínica médica devem nomear um médico especializado nos cuidados com a asma1 para ser o responsável pelo treinamento formal e pela melhoria da comunicação entre os serviços primários e secundários de saúde6.

O texto também reiterou as recomendações das diretrizes existentes que não estavam sendo seguidas. Por exemplo, as pessoas que vão a departamentos de emergência4 ou são admitidas em hospital para tratar crises de asma1 ou são examinados por um clínico geral com crise aguda de asma1 devem ser reexaminadas dentro de 48 horas, conforme descrito no British Guideline on the Management of Asthma.

Todos os pacientes devem receber um plano de ação individualizado, detalhando seus próprios sinais2 e sintomas3 de alerta e quando e como procurar ajuda médica se a sua asma1 piorar. O relatório observou que este plano deve ser atualizado após revisões periódicas de asma1, o que deve ocorrer no mínimo anualmente e ser conduzido por um médico com formação especializada em asma1, ao invés de ser feito por um generalista.

Pacientes que precisam usar a sua medicação de alívio com mais frequência do que o habitual e não obtêm alívio dos sintomas3 mostram que sua asma1 não está sob controle. Aqueles que precisavam usar medicação de alívio mais do que duas ou três vezes por semana, provavelmente, necessitam de uma adequação em sua medicação preventiva.

Kevin Stewart, diretor clínico da unidade de eficácia e avaliação clínica do Royal College of Physicians, disse: "É hora de acabar com a nossa complacência com a asma1, pois ela pode matar e mata. Há mensagens importantes neste relatório para os médicos, para os pacientes e seus familiares e para pessoas que tomam decisões políticas na saúde6. Nós não estamos prestando atenção suficiente para a importância do bom atendimento de rotina para a asma1, feito por médicos com formação adequada e experiência e também para a parte que os pacientes podem desempenhar nesse processo. Muitas vezes nós também temos sido lentos para detectar os sinais2 e sintomas3 de mau controle da asma1 e para agir quando estes estiveram presentes. Isto tem consequências trágicas para algumas famílias. Podemos e devemos fazer melhor."

Fonte: BMJ, de 6 de maio de 2014 

NEWS.MED.BR, 2014. Dois terços das mortes por asma são evitáveis, publicado em artigo do BMJ. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/saude/539582/dois-tercos-das-mortes-por-asma-sao-evitaveis-publicado-em-artigo-do-bmj.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.

Complementos

1 Asma: Doença das vias aéreas inferiores (brônquios), caracterizada por uma diminuição aguda do calibre bronquial em resposta a um estímulo ambiental. Isto produz obstrução e dificuldade respiratória que pode ser revertida de forma espontânea ou com tratamento médico.
2 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
3 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
4 Emergência: 1. Ato ou efeito de emergir. 2. Situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito. 3. Setor de uma instituição hospitalar onde são atendidos pacientes que requerem tratamento imediato; pronto-socorro. 4. Eclosão. 5. Qualquer excrescência especializada ou parcial em um ramo ou outro órgão, formada por tecido epidérmico (ou da camada cortical) e um ou mais estratos de tecido subepidérmico, e que pode originar nectários, acúleos, etc. ou não se desenvolver em um órgão definido.
5 Urgência: 1. Necessidade que requer solução imediata; pressa. 2. Situação crítica ou muito grave que tem prioridade sobre outras; emergência.
6 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
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