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Montelucaste não é eficaz para o tratamento da tosse após-infecção em adultos

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Manutenção de tosse após evento infeccioso é muito comum em atendimentos de atenção primária, mas ainda não há tratamentos eficazes comprovados. Cisteinil leucotrienos1 estão envolvidos na patogênese2 da tosse pós-infecciosa e da tosse comprida da coqueluche3. Foi investigada a eficácia do montelucaste, um antagonista4 do receptor do cisteinil leucotrieno5, no tratamento da tosse pós-infecção6.

Neste estudo randomizado7, controlado por placebo8, adultos com idade entre 16 e 49 anos, com tosse pós-infecciosa, com duração de duas a oito semanas, não fumantes, foram recrutados em 25 clínicas de medicina geral na Inglaterra. Os pacientes foram testados para a tosse comprida (fluido oral da antitoxina da tosse comprida IgG) e distribuídos aleatoriamente (1:1) para receberem ou montelucaste 10 mg por dia ou placebo8, pareados por imagem durante duas semanas. Os pacientes escolheram se queriam continuar com o medicamento do estudo por mais duas semanas.

De 13 de abril de 2011 a 21 de setembro de 2012, foram distribuídos aleatoriamente 276 pacientes ao montelucaste (n=137) ou placebo8 (n=139). Setenta (25%) pacientes tiveram coqueluche3 confirmada por laboratório. Melhorias na qualidade de vida relacionadas à tosse ocorreram em ambos os grupos após duas semanas (montelucaste: média 2,7, IC 95% 2,2-3,3; placebo8: 3,6, IC 95% 2,9-4,3), mas a diferença entre os grupos não atingiu um mínimo clinicamente importante de diferença de 1,3 (diferença média -0,9, -1,7 para -0,04, p=0,04). Esta diferença não foi estatisticamente significativa em todas as análises de sensibilidade.

Após duas semanas, 192 de 259 participantes cujos dados estavam disponíveis foram eleitos para continuar a medicação do estudo (99 [77%] de 129 participantes no grupo montelucaste; 93 [72%] de 130 no grupo placebo8). Após quatro semanas, não houve diferenças significativas entre os grupos em termos de qualidade de vida relacionadas à tosse (montelucaste: 5,2, 4,5-5,9; placebo8: 5,9, 5,1-6,7; diferença média -0,5, -1,5-0,6; p=0,38) ou taxas de eventos adversos [21 (15%) de 137 pacientes no grupo montelucaste relataram um ou mais eventos adversos; 31 (22%) de 139 no grupo placebo8; p=0,14)]. Os eventos adversos mais comumente relatados foram o aumento da produção de muco (montelucaste, n=6; placebo8, n=2), distúrbio gastrointestinal (montelucaste, n=3; placebo8, n=5) e dor de cabeça9 (montelucaste, n=2; placebo8, n=6). Um evento adverso grave foi relatado (placebo8, n=1), mas não estava relacionado à droga do estudo (falta de ar e aperto na garganta10 depois de ataque grave de tosse).

No presente estudo, o montelucaste não foi um tratamento eficaz para a tosse pós-infecciosa. No entanto, o ônus da tosse após um evento infeccioso é elevado para a atenção primária, tornando o cenário ideal para futuros ensaios clínicos11 de possíveis tratamentos antitussígenos.

Fonte: The Lancet Respiratory Medicine, volume 2, número 1, de janeiro de 2014

NEWS.MED.BR, 2014. Montelucaste não é eficaz para o tratamento da tosse após-infecção em adultos. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/586272/montelucaste-nao-e-eficaz-para-o-tratamento-da-tosse-apos-infeccao-em-adultos.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.

Complementos

1 Leucotrienos: É qualquer um dos metabólitos dos ácidos graxos poli-insaturados, especialmente o ácido araquidônico, que atua como mediador em processos alérgicos e inflamatórios.
2 Patogênese: Modo de origem ou de evolução de qualquer processo mórbido; nosogenia, patogênese, patogenesia.
3 Coqueluche: Infecção bacteriana das vias aéreas caracterizada por tosse repetitiva de som metálico. Pode também ser denominada tosse ferina, tosse convulsa ou tosse comprida, e é produzida por um microorganismo chamado Bordetella pertussis.
4 Antagonista: 1. Opositor. 2. Adversário. 3. Em anatomia geral, que ou o que, numa mesma região anatômica ou função fisiológica, trabalha em sentido contrário (diz-se de músculo). 4. Em medicina, que realiza movimento contrário ou oposto a outro (diz-se de músculo). 5. Em farmácia, que ou o que tende a anular a ação de outro agente (diz-se de agente, medicamento etc.). Agem como bloqueadores de receptores. 6. Em odontologia, que se articula em oposição (diz-se de ou qualquer dente em relação ao da maxila oposta).
5 Leucotrieno: É qualquer um dos metabólitos dos ácidos graxos poli-insaturados, especialmente o ácido araquidônico, que atua como mediador em processos alérgicos e inflamatórios.
6 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
7 Estudo randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle - o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
8 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
9 Cabeça:
10 Garganta: Tubo fibromuscular em forma de funil, que leva os alimentos ao ESÔFAGO e o ar à LARINGE e PULMÕES. Situa-se posteriormente à CAVIDADE NASAL, à CAVIDADE ORAL e à LARINGE, extendendo-se da BASE DO CRÂNIO à borda inferior da CARTILAGEM CRICÓIDE (anteriormente) e à borda inferior da vértebra C6 (posteriormente). É dividida em NASOFARINGE, OROFARINGE e HIPOFARINGE (laringofaringe).
11 Ensaios clínicos: Há três fases diferentes em um ensaio clínico. A Fase 1 é o primeiro teste de um tratamento em seres humanos para determinar se ele é seguro. A Fase 2 concentra-se em saber se um tratamento é eficaz. E a Fase 3 é o teste final antes da aprovação para determinar se o tratamento tem vantagens sobre os tratamentos padrões disponíveis.
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