Corticoides sistêmicos podem aumentar risco de sangramento pós-amigdalectomia em crianças, artigo do JAMA Otolaryngology - Head & Neck Surgery
Apesar do sangramento pós-amigdalectomia ser raro, ele pode ser potencialmente fatal. A associação entre a administração de esteroides e o sangramento pós-operatório ainda é controversa. Os resultados de estudos anteriores foram limitados pelas pequenas amostras analisadas. O presente estudo, publicado pelo JAMA Otolaryngology - Head & Neck Surgery, fez a análise de 61.430 pacientes de um banco de dados japonês, o National Inpatient Database.
Foi realizado um estudo de coorte1 retrospectivo2, com 61.430 pacientes de 718 hospitais que foram submetidos à amigdalectomia entre 2007 e 2013. O objetivo foi examinar o impacto da administração de esteroides, por via intravenosa, no sangramento pós-amigdalectomia, levando à necessidade de reoperação em crianças e adultos.
A principal medida avaliada foi a reoperação para hemostasia3, sob anestesia4 geral, após administração intravenosa de esteroides no dia da amigdalectomia. As características dos pacientes (idade, sexo, comorbidades5) e o uso de esteroides foram examinados. Os pacientes foram classificados como crianças (idade ≤15 anos, n=31.934) e adultos (idade >15 anos, n=29.496) e subclassificados em dois grupos, um que recebeu tratamento com esteroides, por via intravenosa, no dia da cirurgia de amigdalectomia (grupo esteroide) e outro que não recebeu (grupo controle). A análise de regressão logística multivariada foi realizada para analisar a associação entre o uso de esteroides e o sangramento pós-operatório com ajustes para as características do paciente.
Os resultados mostraram que a taxa de reoperação foi significativamente maior no grupo esteroide do que no grupo controle para as crianças (1,2% vs 0,5%) (p<0,001), mas não para os adultos (1,7% vs 1,4%) (p=0,14). A reoperação foi mais realizada em cerca de sete dias após a amigdalectomia. Após o ajuste para as características do paciente, encontrou-se um aumento significativo na taxa de reoperação no grupo esteroide em crianças (p=0,001), mas não em adultos (p=0,31).
Concluiu-se que a administração de esteroides intravenosos no dia da cirurgia de amigdalectomia em crianças foi um fator de risco6 independente para a ocorrência de hemorragia7 grave necessitando de reoperação.
Fonte: JAMA Otolaryngology - Head & Neck Surgery, publicação online de 18 de setembro de 2014