Mosquito transgênico, resistente à malária, pode reduzir a população do mosquito transmissor e ajudar na erradicação da doença
O bioquímico brasileiro Marcelo Jacobs-Lorena e colaboradores da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA), se destacaram na área de pesquisa com a criação de um mosquito transgênico resistente à malária. O estudo foi publicado no último dia 21 na revista científica PNAS (Proceedings of the National Academy of Science) e significa um importante passo para a erradicação da malária.
O estudo, que contou com a participação de Mauro Marrelli, da Faculdade de Saúde1 Pública da USP, e do bioquímico brasileiro Marcelo Jacobs-Lorena, mostrou que mosquitos modificados por engenharia genética resistem ao parasita2 causador da malária e conseguem se multiplicar mais rapidamente que o inseto "selvagem", transmissor da doença. Outro estudo, divulgado na semana passada, mostrou que seria possível introduzir estes mosquitos transgênicos na natureza para que se espalhem e predominem sobre os outros insetos, contribuindo para o controle da malária. Mas novos estudos são ainda necessários para introduzir genes refratários3 (de resistência à malária) em mosquitos da natureza.
As soluções propostas para que genes que tornam os mosquitos refratários3 ao parasita2 possam passar a populações de mosquitos selvagens ainda não têm muita chance de sucesso, como os elementos de transposição, bactérias Wolbachia, etc. A curto prazo, a paratransgênese (introduzir bactérias geneticamente modificadas no intestino do mosquito) tem mais chance, segundo esclareceram os pesquisadores.
Em laboratório, o mesmo número de mosquitos selvagens e de mosquitos transgênicos picou ratos infectados com a malária. À medida que se reproduziram, um número maior de mosquitos transgênicos conseguiu sobreviver. Depois de nove gerações, 70% dos insetos monitorados pertenciam à variedade resistente à doença. A contagem dos mosquitos foi facilitada pois os cientistas inseriram, nos mosquitos geneticamente modificados, uma proteína fluorescente que conferia um brilho esverdeado aos olhos4 dos insetos. O próximo passo é testar o novo mosquito em céu aberto.
A malária, que se propaga através do parasita2 plasmódio, formado por uma única célula5, é endêmica em partes da Ásia, África, América Central e América do Sul. Até o momento existem medicamentos que matam o parasita2 no ser humano e inseticidas que matam os mosquitos. Há dificuldades com ambos, principalmente com relação à resistência.
Os estudiosos alertam que os estudos foram realizadas com o Plasmodium berghei, uma variante do parasita2 que infecta os ratos, mas não com o Plasmodium falciparum, responsável pela forma mais grave de malária humana.
Fonte: Proceedings of the National Academy of Science