Gostou do artigo? Compartilhe!

Medicamento experimental para o Alzheimer, Lecanemabe, mostrou retardar o declínio cognitivo

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

As empresas farmacêuticas Biogen e Eisai anunciaram que um medicamento que estão desenvolvendo para a doença de Alzheimer1 diminuiu a taxa de declínio cognitivo2 em um grande ensaio clínico em estágio avançado.

Os resultados aumentam as chances de aprovação do medicamento e oferecem esperança renovada para uma classe de medicamentos para Alzheimer3 que falharam repetidamente ou geraram resultados mistos.

Os dados positivos também oferecem à Biogen uma segunda chance após o lançamento desastroso da empresa de outro medicamento para Alzheimer3, o Aduhelm. Esse medicamento ganhou aprovação regulatória no ano passado, apesar de poucas evidências de que poderia retardar o declínio cognitivo2, e provou ser um fracasso comercial.

Os resultados parecem mais fortes para o novo medicamento, o lecanemabe. O declínio cognitivo2 no grupo de voluntários que recebeu lecanemabe foi reduzido em 27% em comparação com o grupo que recebeu placebo4 no ensaio clínico, que envolveu quase 1.800 participantes com comprometimento cognitivo2 leve ou doença de Alzheimer1 leve, disseram as empresas.

O teste do lecanemabe, administrado por infusão intravenosa, foi o maior até o momento para testar se a limpeza de placas5 formadas pelo acúmulo de uma proteína chamada amiloide no cérebro6 poderia retardar a progressão da doença de Alzheimer1. O Aduhelm foi projetado para funcionar de maneira semelhante.

Tal como acontece com medicamentos anti-amiloides anteriores, alguns pacientes que tomaram lecanemabe apresentaram edema7 ou hemorragia8 cerebral, mas a prevalência9 desses efeitos colaterais10 foi menor do que com Aduhelm e outros medicamentos experimentais.

Leia sobre "Mal de Alzheimer3", "Distúrbio neurocognitivo" e "Doenças degenerativas11".

Em uma entrevista para repórteres, Ivan Cheung, presidente e executivo-chefe da Eisai, disse que os resultados representam “o primeiro grande ensaio clínico definitivamente positivo para mostrar que você pode realmente retardar a doença de Alzheimer1 neste estágio sintomático12 muito inicial”.

Ele disse que o medicamento começou a mostrar benefícios para os pacientes cerca de seis meses depois que eles começaram a tomá-lo e que o benefício aumentou até o final do estudo, 18 meses depois que os pacientes começaram a tomar o medicamento.

Alguns especialistas disseram que a capacidade do medicamento de retardar o declínio cognitivo2 – em 0,45 em uma escala de 18 pontos – era modesta na melhor das hipóteses e pode não ser uma diferença que os pacientes nos estágios iniciais leves da doença notariam.

No comunicado publicado pela Biogen, foram anunciados resultados positivos de primeira linha do grande ensaio clínico global de Fase 3 confirmatório Clarity AD, realizado pela Eisai para avaliar o lecanemabe, um anticorpo13 de protofibrila anti beta-amiloide (Aβ) para o tratamento de comprometimento cognitivo2 leve (CGL) devido à doença de Alzheimer1 (DA) e DA leve (conhecida coletivamente como DA precoce) com presença confirmada de patologia14 amiloide no cérebro6.

Lecanemabe atingiu o desfecho primário (CDR-SB: Clinical Dementia Rating-Sum of Boxes) e todos os principais desfechos secundários com resultados estatisticamente significativos. A Eisai discutirá esses dados com autoridades regulatórias nos EUA, Japão e Europa com o objetivo de solicitar a aprovação tradicional nos EUA e para pedidos de autorização de comercialização no Japão e na Europa até o final do ano fiscal de 2022 da Eisai, que termina em 31 de março de 2023.

Adicionalmente, a Eisai apresentará os resultados do estudo Clarity AD em 29 de novembro de 2022, no Clinical Trials on Alzheimer3's Congress (CTAD), e publicará os resultados em uma revista médica revisada por pares.

O tratamento com Lecanemabe atingiu o desfecho primário e reduziu o declínio clínico na escala cognitiva15 e funcional global, CDR-SB, em comparação com placebo4 em 18 meses em 27%, o que representa uma diferença de tratamento na mudança de pontuação de -0,45 (p = 0,00005) na análise da população com intenção de tratar.

Começando a partir dos seis meses, em todos os pontos de tempo, o tratamento mostrou alterações altamente estatisticamente significativas na CDR-SB desde a linha de base em comparação com o placebo4 (todos os valores de p são inferiores a 0,01).

Todos os principais desfechos secundários também foram alcançados com resultados estatisticamente significativos em comparação com placebo4 (p <0,01). Os principais desfechos secundários foram a alteração desde a linha de base do tratamento aos 18 meses em comparação com placebo4 nos níveis de amiloide no cérebro6 medidos por tomografia de amiloide por emissão de pósitrons, na subescala cognitiva15 14 da Escala de Avaliação de DA (ADAS-cog14), na Pontuação Composta da DA (ADCOMS) e no Estudo Cooperativo da DA - Escala de Atividades da Vida Diária para Comprometimento Cognitivo2 Leve (ADCS MCI-ADL).

A incidência16 de anormalidades de imagem relacionadas à amiloide - edema7/efusão17 (ARIA-E), um evento adverso associado a anticorpos18 anti amilóides, foi de 12,5% no grupo lecanemabe e 1,7% no grupo placebo4. A incidência16 de ARIA-E sintomática19 foi de 2,8% no grupo lecanemabe e 0,0% no grupo placebo4.

A taxa de ARIA-H (anormalidades de imagem relacionadas à amiloide - micro-hemorragias20 cerebrais, macro-hemorragias20 cerebrais e siderose superficial) foi de 17,0% no grupo lecanemabe e 8,7% no grupo placebo4. A incidência16 de ARIA-H sintomática19 foi de 0,7% no grupo lecanemabe e 0,2% no grupo placebo4.

A incidência16 total de ARIA (ARIA-E e/ou ARIA-H) foi de 21,3% no grupo lecanemabe e 9,3% no grupo placebo4. No geral, o perfil de incidência16 de ARIA do lecanemabe estava dentro das expectativas.

O Clarity AD foi um estudo global de Fase 3 de confirmação, controlado por placebo4, duplo-cego, de grupos paralelos, randomizado21, incluindo 1.795 pessoas com DA precoce. O grupo de tratamento recebeu uma dosagem de 10 mg/kg quinzenalmente de lecanemabe, com os participantes alocados em uma proporção de 1:1 para receber placebo4 ou lecanemabe.

As características basais dos grupos placebo4 e lecanemabe são semelhantes e bem equilibradas. Os critérios de elegibilidade permitiram pacientes com uma ampla gama de comorbidades22 / medicamentos: hipertensão23, diabetes24, doenças cardíacas, obesidade25, doença renal26 e anticoagulantes27, etc.

A estratégia de recrutamento da Eisai para o ensaio clínico Clarity AD garantiu maior inclusão de populações étnicas e raciais nos EUA, resultando em aproximadamente 25% do total de matrículas nos EUA, incluindo pessoas hispânicas e afro-americanas que vivem com DA precoce.

Devido aos critérios de elegibilidade inclusivos e ao recrutamento bem-sucedido de diversas populações étnicas e raciais nos EUA, a população do Clarity AD é geralmente comparável à população do Medicare do país.

Veja também sobre "Envelhecimento cerebral normal ou patológico" e "Quando a perda de memória não é normal".

 

Fontes:
Biogen, comunicado publicado em 27 de setembro de 2022.
The New York Times, notícia publicada em 27 de setembro de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Medicamento experimental para o Alzheimer, Lecanemabe, mostrou retardar o declínio cognitivo. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/pharma-news/1427165/medicamento-experimental-para-o-alzheimer-lecanemabe-mostrou-retardar-o-declinio-cognitivo.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.

Complementos

1 Doença de Alzheimer: É uma doença progressiva, de causa e tratamentos ainda desconhecidos que acomete preferencialmente as pessoas idosas. É uma forma de demência. No início há pequenos esquecimentos, vistos pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que se vão agravando gradualmente. Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passando a apresentar alterações da personalidade, com distúrbios de conduta e acabam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmos quando colocados frente a um espelho. Tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a comunicação inviabiliza-se e passam a necessitar de cuidados e supervisão integral, até mesmo para as atividades elementares como alimentação, higiene, vestuário, etc..
2 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
3 Alzheimer: Doença degenerativa crônica que produz uma deterioração insidiosa e progressiva das funções intelectuais superiores. É uma das causas mais freqüentes de demência. Geralmente começa a partir dos 50 anos de idade e tem incidência similar entre homens e mulheres.
4 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
5 Placas: 1. Lesões achatadas, semelhantes à pápula, mas com diâmetro superior a um centímetro. 2. Folha de material resistente (metal, vidro, plástico etc.), mais ou menos espessa. 3. Objeto com formato de tabuleta, geralmente de bronze, mármore ou granito, com inscrição comemorativa ou indicativa. 4. Chapa que serve de suporte a um aparelho de iluminação que se fixa em uma superfície vertical ou sobre uma peça de mobiliário, etc. 5. Placa de metal que, colocada na dianteira e na traseira de um veículo automotor, registra o número de licenciamento do veículo. 6. Chapa que, emitida pela administração pública, representa sinal oficial de concessão de certas licenças e autorizações. 7. Lâmina metálica, polida, usualmente como forma em processos de gravura. 8. Área ou zona que difere do resto de uma superfície, ordinariamente pela cor. 9. Mancha mais ou menos espessa na pele, como resultado de doença, escoriação, etc. 10. Em anatomia geral, estrutura ou órgão chato e em forma de placa, como uma escama ou lamela. 11. Em informática, suporte plano, retangular, de fibra de vidro, em que se gravam chips e outros componentes eletrônicos do computador. 12. Em odontologia, camada aderente de bactérias que se forma nos dentes.
6 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
7 Edema: 1. Inchaço causado pelo excesso de fluidos no organismo. 2. Acúmulo anormal de líquido nos tecidos do organismo, especialmente no tecido conjuntivo.
8 Hemorragia: Saída de sangue dos vasos sanguíneos ou do coração para o exterior, para o interstício ou para cavidades pré-formadas do organismo.
9 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
10 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
11 Degenerativas: Relativas a ou que provocam degeneração.
12 Sintomático: 1. Relativo a ou que constitui sintoma. 2. Que é efeito de alguma doença. 3. Por extensão de sentido, é o que indica um particular estado de coisas, de espírito; revelador, significativo.
13 Anticorpo: Proteína circulante liberada pelos linfócitos em reação à presença no organismo de uma substância estranha (antígeno).
14 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
15 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
16 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
17 Efusão: 1. Saída de algum líquido ou gás; derramamento, espalhamento. 2. No sentido figurado, manifestação expansiva de sentimentos amistosos, de afeto, de alegria. 3. Escoamento de um gás através de uma pequena abertura, causado pela agitação térmica das moléculas do gás. 4. Derramamento de lava relativamente fluida sobre a superfície terrestre.
18 Anticorpos: Proteínas produzidas pelo organismo para se proteger de substâncias estranhas como bactérias ou vírus. As pessoas que têm diabetes tipo 1 produzem anticorpos que destroem as células beta produtoras de insulina do próprio organismo.
19 Sintomática: 1. Relativo a ou que constitui sintoma. 2. Que é efeito de alguma doença. 3. Por extensão de sentido, é o que indica um particular estado de coisas, de espírito; revelador, significativo.
20 Hemorragias: Saída de sangue dos vasos sanguíneos ou do coração para o exterior, para o interstício ou para cavidades pré-formadas do organismo.
21 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
22 Comorbidades: Coexistência de transtornos ou doenças.
23 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
24 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
25 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
26 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
27 Anticoagulantes: Substâncias ou medicamentos que evitam a coagulação, especialmente do sangue.
Gostou do artigo? Compartilhe!